Apatia: significado, sintomas e como superá-la

Apatia: significado, sintomas e como superá-la

Nos encontramos diante de uma dia maravilhoso, você nunca verá ou viverá esse dia novamente, o universo lhe oferece a oportunidade de sorrir por mais um dia e fazer tudo o que se propôs com autoestima elevada. É verdade que nos encontramos um tanto compelidos a aproveitar e ter prazer constantemente e que em certas ocasiões é custoso nos permitir viver momentos de indiferença, que nos enchem de relutância, descanso e falta de motivação. Este imperativo de satisfação deve ser outro objeto de atenção ao abordar a questão da apatia, já que sua aparente antítese - a motivação - também oculta um tipo de efeito adverso para a qualidade de vida. Neste artigo de Psicologia-Online explicamos a apatia, significado, seus sintomas e como superá-la.

Apatia: significado e definição

O objetivo deste artigo não é fazer uma apologia à apatia nem uma rejeição à motivação, e sim compartilhar ferramentas para instaurar um pensamento crítico que seja prático e benéfico para a saúde mental dos leitores.

A apatia é uma alteração na motivação que implica em uma diminuição significativa em condutas direcionadas a uma finalidade, como por exemplo uma falta de força, interesse, desapego e indiferença a algumas das seguintes situações:

  • Sair para comer com os amigos;
  • Praticar esportes;
  • Levantar da cama;
  • Vestir-se bem para um encontro com o(a) a parceiro(a) ou amigos(as);
  • Trabalhar;
  • Estabelecer vínculos afetivos com amigos e familiares;
  • Conversar;
  • Fazer sexo;
  • Comer.

A resposta emocional das pessoas apáticas é muito reduzida, o que é conhecido como afeto apático. Há uma ausência ou redução das emoções que geralmente estavam presentes na vida da pessoa como resposta a um determinado evento. Sejam emoções de tristeza, raiva, medo, alegria ou vergonha, as pessoas com apatia desvalorizam ou esvaziam o sentido de qualquer uma dessas emoções. Essa característica pode ser observada com frequência na esquizofrenia e em algum transtorno depressivo.

Apatia: sintomas

A seguir listamos alguns dos sintomas característicos da apatia:

  • Indiferença cognitiva;
  • Indiferença afetiva;
  • Desinteresse pelo cuidado pessoal;
  • Desinteresse em estabelecer vínculos afetivos;
  • Desinteresse em iniciar uma conversa;
  • Dificuldade para levantar da cama de manhã;
  • Resposta emocional nula ou reduzida;
  • Perda de apetite;
  • Desinteresse sexual;
  • Desinteresse por atividades que impliquem em contato social;
  • Pouco interesse em cumprir com suas responsabilidades;
  • Desesperança;
  • Perda de interesse em aprender e ter novas experiências;
  • Sensação de pensamentos lentos;
  • Tomar decisões de torna muito complexo;
  • Funções cognitivas alteradas;
  • Alteração da percepção (sente especialmente que o tempo passa muito devagar ou não é capaz de perceber quanto tempo passou de um momento ao outro).

Algumas desses sintomas podem não chegar a se manifestar porque resultam em uma abulia. No caso da perda de apetite, tem-se a baixa ingestão de alimentos ou uma dieta pobre em nutrientes.

Diferença entre apatia e abulia

A apatia está relacionada a uma alteração de motivação, enquanto a abulia está relacionada à falta de vontade. Quando nossa apatia está em um grau muito elevado (uma maior deterioração do nosso funcionamento, no qual não conseguimos agir como normalmente agíamos e se torna difícil para nós tomarmos decisões; ou nos deixa impossibilitados de cumprir com nossas responsabilidades) se denomina abulia.

Na apatia há um desinteresse, mas mesmo assim consegue-se realizar atividades, enquanto na abulia há uma ausência de vontade de ação ou dificuldade para iniciar e manter movimentos propositalmente.

Apatia e depressão

A apatia é um dos sintomas mais frequentes nos transtornos depressivos. Esse estado de desinteresse, indiferença, achatamento afetivo e falta de esperança pode levar à redução da vontade de agir, bem como pode se apresentar como uma ausência da capacidade de sentir prazer, o que era antes chamado de anedonia, sendo esses sintomas característicos e necessários para o diagnóstico de um transtorno depressivo.

Apatia: um mecanismo de sobrevivência

Há um ponto - escreve o Dr. Victor Frankl (1946) - em que o único estado emocional conveniente e lógico para as circunstâncias do momento é, precisamente, a ausência da emoção. A apatia funciona como um mecanismo necessário para a autodefesa dentro da qual a realidade é turva e todo o esforço e emoção se concentram um uma tarefa: a conservação da própria vida. A experiência do Dr. Frankl nos campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial permitiu que ele compreendesse o após certo tempo, os prisioneiros se mostravam apáticos perante o sofrimento alheio e o próprio sofrimento.

A observação constante de estímulos violentos ou de aversão fazem com que se perca de maneira progressiva a capacidade de sentir mal estar físico, emocional ou cognitivo. O sujeito passa a ser - como explica o Dr. Frankl - um ente não-sensível.

A apatia como mecanismo de sobrevivência se manifesta em nossas atitudes ainda que não estejamos dentro de um campo de concentração. Quando sofremos por uma ruptura amorosa, pela a morte de um ente querido, pelo fracasso de um mau negócio ou uma frustração profissional, a última coisa que pensamos é em sorrir e aproveitar o dia. Podem surgir emoções de tristeza ou raiva que são inevitáveis, já que não se pode controlar as emoções. Aqui é onde a apatia funciona como um escudo protetor ao nos permitirmos um espaço de solidão e indiferença perante as necessidades alheias, sobretudo a necessidade externa e imperativa de "Você tem que estar bem e sorrir, ainda tem vida e pode levantar sua autoestima!".

A privação emocional amplifica a apatia e a torna crônica por não deixar aquele que sofre viver. É aqui que oferecemos a oportunidade de analisar um princípio constante dos livros de autoajuda, como o 'O Pensamento Positivo'.

O perigo do pensamento positivo

Estar feliz, sair da zona de conforto, sorrir, ser a melhor versão de si mesmo, não se contentar com pouco e nunca parar não são um tratamento, embora os livros de autoajuda, a mídia, cadernos coloridos, canecas e fotografias nos vendam essa ideia.

O problema surge quando essas frases motivacionais são utilizadas para forçar as pessoas a viver em uma espécie de ditadura da felicidade na qual, ainda que tudo vá mal, o importante é permanecer positivo e sorridente.

Quando alguém é diagnosticado com câncer, é muito frequente que as pessoas ao seu redor insistam na importância de se manter positivo. Essas características de forçar alguém a ser feliz pode levar a pessoa a se isolar do seu entorno por medo de ser recriminada por estar triste, ansiosa ou preocupada. Cada emoção tem sua função. A tristeza, por exemplo, nos permite nos adaptar a uma perda significativa em nossa vida, e também pode nos levar a um isolamento introspectivo no qual choramos pela perda e começamos a compreender seus efeitos.

Confiar nossa saúde mental a essas frases motivacionais pode levar a um nível de autocobrança e perfeccionismo. As pessoas podem sentir que jamais estarão à altura das expectativas e se manterem em um processo de frustração e culpa, o que pode levar a transtornos de ansiedade, transtornos alimentares ou transtornos de humor.

Como superar a apatia

Neste artigo descrevemos a apatia como um mecanismo de sobrevivência do qual muitas vezes somos privados. A consequência dessa oportunidade de abrir caminho para a apatia permite que as pessoas reestruturem tudo o que lhes causa uma dor profunda, desinteresse generalizado, indiferença pelo que podem ser relativamente maravilhoso e uma terrível redução emocional.

Ao escutar as pessoas que amamos e ao falarmos também sobre essa experiência de apatia, permitimos que nossas emoções sejam respeitadas e que se expressem, permitindo passar por nossas fases de apatia.

Como se combate a apatia? Nos casos de apatia devemos escutar, explorar e atender como prioridade as seguintes situações:

  • As coisas com as quais não concordamos;
  • Quais são nossos interesses prioritários;
  • Sermos conscientes das emoções que estamos sentindo;
  • As possíveis causas das minhas emoções.

Cada uma dessas situações deve ser preferivelmente abordada por um profissional clínico.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Victor E. Frankl. (1946). El hombre en busca de sentido. Editorial Herder.