Área de Broca e Wernicke: função e diferenças

Área de Broca e Wernicke: função e diferenças

Como funciona a nossa capacidade para comunicar e compreender a linguagem?

Esta pergunta foi estudada pelos diversos ramos da Psicologia e foi um mistério até à chegada dos avanços científicos e tecnológicos da área. As técnicas de neuroimagem e neuropsicologia confirmaram a existência de duas áreas fundamentais para a fala e a compreensão da linguagem: a área de Broca e a área de Wernicke. Os dois sistemas foram descobertos há séculos atrás, mas apenas há escassas décadas foi possível averiguar como funcionam exatamente.

Nesse artigo de Psicologia-Online "Área de Broca e Wernicke: função e diferenças", falaremos sobre esses conjuntos de neurônios tão importantes no nosso cérebro, onde se encontram e como funcionam exatamente.

Onde se localizam a área de Broca e Wernicke

Em primeiro lugar, é importante ter claro que estas áreas formam parte do Sistema Nervoso Central (SNC), ou seja, se localizam nos lóbulos do cérebro.

  • A área de broca (1) se encarrega de produzir a linguagem e está localizada no hemisfério esquerdo, mais concretamente na parte inferior do lóbulo frontal.
  • A área de Wernicke (2) é a responsável pela compreensão sonora e, normalmente, pode ser encontrada no hemisfério esquerdo, embora em 30% das pessoas canhotas e 10% das pessoas destras se encontre no hemisfério direito. Essa zona pertence ao lóbulo temporal e está altamente relacionada com a zona auditiva.
  • A área de Broca e a área de Wernicke estão conectadas através de um grupo de fibras nervosas conhecido como o fascículo arqueado.

Em seguida, você encontrará uma imagem para indicar onde se localizam a Área de Broca e Wernicke

Diferença entre área de Broca e Wernicke

Embora ambos os sistemas estejam relacionados com a capacidade de comunicar própria do ser humano, existem diversas diferenças entre a área de Broca e Wernicke que devemos mencionar.

Em primeiro lugar, é importante saber que a área de Broca está involucrada no ordenamento dos fonemas (unidade mínima da linguagem) em palavras e na união das palavras para formar frases e orações, enquanto que a área de Wernicke é responsável por processar os sons que escutamos e relacioná-los com a fala e com a linguagem que já conhecemos.

Ou seja, graças à área de Wernicke, entendemos o que nos é dito[1]. Além disso, a área de Wernicke está do lado do sistema encarregue de processar os sons, pelo que é mais fácil recordar a sua função se soubermos onde se encontra.

Resumindo: a principal diferença entre a área de Broca e a Área de Wernicke é que a primeira é responsável por planificar o modo de falar, e a segunda garante que compreendemos o que nos é dito.

Em seguida, mostramos uma imagem da conexão entre a área de Broca e Wernicke através do fascículo arqueado:

Imagem: PsicoWisdom

Área de Wernicke: função e doenças

Finalmente, para compreender a área de Broca e Wernicke: função e diferenças, é indispensável conhecer a origem de ambos os termos.

Estes conceitos foram descobertos a partir de casos médicos nos quais as pessoas que sofriam de lesões em certas áreas do cérebro não podiam falar ou compreender a linguagem e, ao fazer uma análise forense, descobriam que todas as áreas lesionadas eram as mesmas.

Em 1874, Karl Wernicke descobriu que certos pacientes cujos cérebros tinham sido danificados não podiam falar de uma forma estruturada. Embora pronunciassem bem e as suas palavras tivessem sentido, não era possível entender a mensagem. O que acontecia é que eram incapazes de compreender a linguagem.

A lesão que todos estes pacientes tinham em comum estava situada na parte posterior do lóbulo temporal, nas áreas 21 e 22 de Brodmann[2]. A partir do estudo desse tipo de lesões, Wernicke deu o seu nome à área afetada, afirmando que a mesma se encarregava da compreensão da linguagem.

Atualmente, definimos a área de Wernicke como um conjunto de redes neuronais encarregues de processar os sons típicos da fala e traduzi-los para palavras e conceitos, ou seja, a sua função é descodificar fonemas. Apesar de não ser um sistema "seleccionador de palabras", esta área é necessária para executar a produção de um discurso fluido e compreensível.

Afasia de Wernicke

Por afetar a descodificação dos fonemas, a afasia de Wernicke se caracteriza pela incapacidade para compreender uma mensagem ou repeti-la. Como comentado anteriormente, os pacientes com este tipo de lesão não entendem corretamente o que lhes é dito e, como consequência, não geram um discurso lógico.

Área de Broca: função e doenças

Esta zona do córtex cerebral foi descoberta antes da Área de Wernicke, 13 anos antes para ser mais preciso. Em 1861, o neurocirurgião Paul Broca descobriu que algumas pessoas com dificuldades na fala apresentavam uma lesão nas áreas 44 e 45 de Brodmann[2]. Hoje em dia, sabemos que a área de Broca faz parte de um sistema de neurônios encarregue de ordenar os fonemas (unidades mínimas da linguagem) em palavras e, além disso, também é uma zona de acesso a verbos e palavras funcionais.

Ou seja, a zona de Broca se encarrega dos aspetos relacionais da linguagem e a gramática e, além disso, é a zona do sistema nervoso responsável por armazenar as palavras funcionais como os verbos.

Resumindo, as principais funções da área de Broca são:

  1. Produzir sons lógicos e compreensíveis (a fala)
  2. Processar a linguagem
  3. Controlar os neurônios encarregues do movimento facial

Afasia de Broca

As pessoas que sofrem de uma lesão nessa área terminam apresentando afasia de Broca - uma doença neurofisiológica que se caracteriza pela dificuldade em produzir palavras e unir elementos numa oração) perda da habilidade comunicativa). Ou seja, uma pessoa com afasia de Broca não pode se expressar corretamente nem formar frases completas.

Este tipo de lesões são bastante incapacitantes, mas podem ser melhoradas através de reabilitação e muita prática para reeducar os músculos faciais.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. Castaño, J. (2003). Bases neurobiológicas del lenguaje y sus alteraciones. Rev Neurol, 36(8), 781-5.
  2. Brodmann, K. (1909). Localização comparativa do córtex cerebral. Em localização comparativa do córtex cerebral. As áreas de Brodmann são um sistema de classificação do córtex cerebral muito extenso no mundo da neuroanatomia.
Bibliografia
  • Binder, J. R. (2015). The Wernicke area Modern evidence and a reinterpretation. Neurology, 10-1212.