As fases do luto

As fases do luto

O luto é o processo de adaptação necessário após uma perda. Essa perda pode ser de muitos tipos: ainda que o mais habitual seja se referir à perda de um ente querido, pode ser também uma perda no trabalho (como uma mudança de emprego), uma perda de saúde devido a um diagnóstico médico, o fim de um relacionamento ou uma mudança para outro lugar.

Qualquer perda implica em uma grande mudança e chamamos a adaptação à essa mudança de luto, cuja duração é variável e é composto por várias etapas. Neste artigo de Psicologia-Online veremos as fases do luto na psicologia, baseados em evidências científicas e nas teorias de autores como Elisabeth Kübler-Ross e John Bowlby.

O que é o luto na psicologia

O luto é uma experiência complicada e dolorosa porque somos seres sociais e criamos vínculos uns com os outros. Além disso, temos necessidades de segurança e proteção que são satisfeitas em um ambiente familiar e que são abaladas diante de a grandes mudanças. Toda mudança envolve um esforço adaptativo às novas circunstâncias, e isso não é algo fácil de dar conta.

O luto não é nem um transtorno nem uma doença, contudo, é um processo doloroso que pode ter complicações. Alguns dos fatores de risco para um luto conturbado são falecimentos repentinos e os lutos não reconhecidos, como abortos, óbitos perinatais e suicídios, por exemplo.

Na grande maioria dos casos, o luto é um processo normal que não apresenta complicações. Pode, inclusive, ter um papel transformador no desenvolvimento pessoal.

As fases do luto na psicologia segundo diferentes autores

Segundo Elisabeth Külber-Ross[1], as cinco fases do luto são as seguintes:

  1. Negação
  2. Raiva
  3. Negociação
  4. Depressão
  5. Aceitação

Por outro lado, Colin Murray Parkes[2] propõe as quatro fases do luto a seguir:

  1. Entorpecimento
  2. Saudade
  3. Desorganização
  4. Recuperação

Outro modelo sobre as fases do luto é de J. William Worden[3]:

  1. Aceitar a realidade
  2. Elaborar o luto após a perda
  3. Adaptar-se ao ambiente sem o ente querido
  4. Encontrar um elemento de ligação com o ente querido e continuar a vida

Por outro lado, Robert A. Neimeyer[4] propõe as seguintes etapas do luto:

  1. Reconhecer a perda
  2. Permitir-se sentir dor
  3. Revisar os significados
  4. Reconstruir a relação com a pessoa falecida
  5. Reinventar a nós mesmos

Por último, há um modelo que integra as perspectivas do luto citadas, que é o modelo integrativo-relacional de Alba Payás Puigarnau[5]:

  1. Choque
  2. Fuga/negação
  3. Conexão/integração
  4. Crescimento/transformação

A seguir, veremos as principais fases do duelo adaptando as diferentes propostas dos autores.

Atordoamento e choque

A primeira fase do luto é caracterizada por sensações de atordoamento, confusão e até mesmo dissociação, que funcionam como um mecanismo de proteção diante do enorme impacto da perda. Nesse etapa não se reconhece nem se aceita a perda.

Nessa primeira fase, é importante que o(a) enlutado(a) comece a se conectar com a dor e a expresse, pois caso contrário poderá ter início um processo de luto complicado.

Fuga e negação

A segunda etapa das fases do luto é muito típica. Podemos ver como a pessoa nega a realidade, evita se conectar com o sofrimento e reprime a expressão emocional. Nessa fase é comum se encher de compromissos para não ter nenhum tempo livre, dizer que está bem e que não precisa de ajuda.

O objetivo principal dessa etapa do luto é ir tomando consciência da negação e ir reduzindo as estratégias de fuga para que, pouco a pouco, o indivíduo possa ir reconhecendo a perda e seja capaz de gerir o sofrimento. A tarefa essencial aqui é reconhecer a perda, isto é, aceitar e compreender a morte. Caso contrário, poderá se desencadear um luto complicado do tipo ausente ou evitativo, levando à hiperatividade e comportamentos autodestrutivos.

Raiva

Essa fase do luto é caracterizada pelas seguintes reações emocionais: raiva, inveja, hostilidade... Podendo o indivíduo chegar a ter comportamentos autodestrutivos. Nessa etapa é necessário expressar as emoções a partir de um bom gerenciamento delas, evitando condutas disfuncionais.

Depressão

Nesse estágio do luto, o(a) enlutado(a) sente profunda dor e tristeza. Dentre as fases do luto, na da depressão é possível observar letargia, negligência com a higiene pessoal ou rotinas habituais, como mudanças nos hábitos alimentares e desorganização geral. É possível que o(a) enlutado(a) se identifique com sentimentos de desesperança e apatia.

É importante nessa fase sentir as emoções sem deixar ser levado(a) por elas. Pouco a pouco, o(a) enlutado(a) deverá ir reorganizando sua vida, adotando novas rotinas, realizando atividades gratificantes e levando um estilo de vida saudável.

Conexão e integração

Nesse estágio do processo de luto, o(a) enlutado(a) começa a se conectar com a realidade da perda e as emoções geradas por ela: tristeza, culpa, dor... Os comportamentos que podemos observar nessa fase são falar sobre a perda e as memórias, visitar lugares associados ao ente querido, etc...

As principais tarefas nessa fase do luto são: reagir à separação, isto é, sentir, identificar e aceitar as reações emocionais, bem como se lembrar do que foi perdido e rever a situação de forma realista. Se essa parte do luto não for realizada, pode-se gerar complicações e desencadear um luto crônico.

Crescimento e transformação

Na última das fases do luto ocorre a reorganização do mundo interior do(a) enlutado(a) e de sua própria vida, inclusive usando a perda com uma ferramenta para o crescimento pessoal.

Caso você esteja passando por essa fase e o ente querido que tenha falecido seja sua mãe, sugerimos também a leitura de Como superar a morte da mãe.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. KÜBLER-ROSS, E. (2017). Sobre la muerte y los moribundos: Alivio del sufrimiento psicológico, Debolsillo.
  2. PARKES, C. M. (1972). Accuracy of predictions of survival in later stages of cancer. British Medical Journal,2(5804), 29-31.
  3. WORDEN, J. (1997). Las cuatro tareas del duelo. Worden JW: El Tratamiento Del Duelo, Asesoramiento Psicológico y Terapia. Barcelona: Paidós.
  4. NEIMEYER, R. (2007). Aprender de la pérdida. Una guía para afrontar el duelo. Capítulo 4: La actividad del duelo. Capítulo 7: La reconstrucción de significado y la experiencia de la pérdida.
  5. PAYÁS, A. (2010). Las tareas del duelo. Psicoterapia del duelo desde un modelo Integrativo-Relacional. Editorial Paidós. España.