Autopercepção: o que é, teorias, exemplos e como melhorá-la

Autopercepção: o que é, teorias, exemplos e como melhorá-la

Mesmo que a teoria da dissonância cognitiva tenha inspirado muitos estudos, uma teoria ainda mais simples pode explicar o vínculo entre os comportamentos e as atitudes. Pensemos, por exemplo, nas insinuações que fazemos a respeito das atitudes dos outros: vemos como uma pessoa age em uma situação específica e logo atribuímos o comportamento a suas características e atitudes ou a forças da natureza.

Se vemos pais que obrigam seu filho de 10 anos a se desculpar, atribuímos a desculpa à situação, e não ao seu próprio arrependimento pessoal. A teoria da autopercepção sugere que façamos inferências similares ao observar nosso comportamento. Neste artigo de Psicologia-Online, veremos o que é a autopercepção, as teorias a seu respeito e alguns exemplos de como melhorá-la.

O que é a autopercepção

Quando nossas atitudes são fracas ou ambíguas, não nos colocamos na posição de quem nos observa de fora. Escutar uns aos outros enquanto conversamos, nos revela nossas atitudes, ou seja, ver nossas ações nos dá dicas sobre a solidez de nossas convicções.

Isso acontece, especialmente, quando não podemos facilmente atribuir nosso comportamento a limitações externas. As ações que realizamos deliberadamente são autorrealizáveis. Portanto, a teoria da autopercepção consiste em que quando não estamos seguros de nossas atitudes, a deduzimos observando nosso comportamento e as circunstâncias que as sucedem.

Diferença entre autoconceito e autopercepção

Autoconceito se entende como a imagem que criamos de nós mesmos: não apenas a imagem visual, mas também o conjunto de ideias que acreditamos que nos definem, a nível consciente e inconsciente. Isso inclui um número quase infinito de conceitos que poderiam ser incluídos nessa "imagem" sobre nós mesmos, visto que cada ideia pode ser muito mais detalhada, criando sistemas de categorias que estão contidos um no outro.

Em resumo, o autoconceito é o conjunto de características (estéticas, físicas, afetivas etc.) que servem para definirmos a imagem de nós mesmos. Ao contrário, por meio da autopercepção, definimos a percepção dos próprios estados mentais, alcançáveis pela observação dos próprios comportamentos, como se fôssemos um observador externo, ou por introspecção.

Princípios de teorias da autopercepção

As teorias mais conhecidas que abordam o conceito da autopercepção são a teoria da dissonância cognitiva de Leon Festinger e a teoria da autopercepção de Daryl J. Bem.

Teoria da dissonância cognitiva de Festinger

Essa teoria fala sobre as situações incômodas em que sentimos que não estamos sendo coerentes, ou seja, quando entramos em conflito com nós mesmos. Especificamente, essa perspectiva se baseia nas atitudes de predisposições duráveis, como ideias, pensamentos ou convicções.

Teoria da autopercepção de Bem

A teoria da autopercepção dá um passo a mais que a teoria da dissonância cognitiva. Segundo essa concepção, observando que o que fazemos, inferimos o que gostamos e o que pensamos sobre isso. Essa teoria possui as mesmas previsões que a teoria da dissonância cognitiva de Festinger, porém destaca que as atitudes são apenas afirmações aleatórias, produtos baseados em comportamentos que tivemos até o momento.

Em que consiste a autopercepção? É o processo pelo qual passamos de uma ideia de prazer, ao produzir um comportamento, para uma ideia de obrigação. Por exemplo, jogo tênis porque gosto, mas se você me pagar para jogar, se tornará uma obrigação e não mais uma paixão.

Ao contrário da noção de que recompensas sempre aumentam a motivação, Bem sustenta que as recompensas desnecessárias podem possuir um preço velado. Recompensar as pessoas por fazerem o que já fazem por prazer, pode induzi-las a atribuir sua ação à recompensa (motivação extrínseca), enfraquecendo então a autopercepção de fazer por prazer (motivação intrínseca). Isso refere-se ao efeito da justificação excessiva.

Neste texto você pode conhecer os tipos de motivação na psicologia.

Exemplos da autopercepção

A teoria da autopercepção tem tido importantes consequências no marketing e nos estudos sobre consumidores. Por exemplo, a conhecida técnica foot in door (em português, pé na porta), que consiste em convencer um cliente a aceitar uma pequena solicitação, pois acredita-se que isso aumentará as chances de que ele dê uma concessão maior depois, isso foi explicado por alguns pesquisadores como o próprio processo da percepção de si mesmo.

Como aponta a Associação de Pesquisa ao Consumidor (1976), supõe-se que o pé na porta é eficaz porque as pessoas utilizam seu comportamento como ponto de partida para suas disposições de aptidão. Dito isso, supõe-se que a pressão externa para o comportamento inicial é mínima, as pessoas deduzem uma atitude positiva do seu comportamento, conforme a forma que você conduz sua próxima ação.

Outro exemplo de autopercepção seria quando não estamos seguros/as se nossa atitude pode ofender outra pessoa e, por meio da análise de nosso comportamento, tentamos fazer com que essa outra pessoa não se sinta mal, porque é importante para nossos pais. Se atingimos nosso objetivo, teremos uma boa autopercepção de nós mesmos, visto que fomos capazes de evitar o conflito e cumprir com nosso objetivo.

Como melhorar a autopercepção

Como vimos anteriormente, a autopercepção muda em função de nosso comportamento em cada momento. A seguir, veremos duas maneiras de melhorar a autopercepção:

  • Treinar a autopercepção sem ansiedade por sua performance: para treinar a percepção, é necessário possuir uma percepção consciente, pois não podemos partir do pressuposto que se treina implicitamente. Para focar na percepção, é preciso de tempo e muita concentração, sem distrações. Portanto, os exercícios devem ser realizados sem ansiedade por sua performance e sem nenhuma intenção competitiva, para poder se concentrar em você mesmo/a e não nos resultados.
  • Observação intensa: os exercícios de relaxamento são particularmente indicados para se perceber conscientemente. Eles servem também para que você sinta o que é agradável e aguçar seus sentidos. Uma observação intensiva dos sinais do próprio corpo, dos sentimentos e dos pensamentos é um pré-requisito para ter um comportamento empático. Para quem se escuta e se considera, é mais fácil de perceber e prestar atenção aos demais, aos seus sentimentos e às suas exigências.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • MYERS, D. G. (2009). Psicologia Sociale. Milán: McGraw-Hill.
  • THE DECISION LAB (2021). Self Perception Theory. Disponível em: <https://thedecisionlab.com/reference-guide/psychology/self-perception-theory/> Acesso em: 06 de julho de 2021.