Como superar um trauma emocional

Como superar um trauma emocional

Do ponto de vista psicobiológico, a aceitação do fato traumático é um fenômeno mental pelo qual se alcança o convencimento pleno sobre a realidade do fato ocorrido, seu significado e suas consequências. Mas isto não implica conformidade com ele, já que por definição, o fato traumático é prejudicial e não desejado.

Aprender a aceitar um fato traumático implica reconhecer que um fato concreto destruiu o estado de equilíbrio e harmonia que tínhamos, e foi produzida uma mudança nociva na percepção de si mesmo e/ou do entorno vital e, muito provavelmente, uma alteração nas relações que mantínhamos no âmbito familiar, social ou profissional, provocando um sentimento de dor e sofrimento.

Também implica assumir que não podemos voltar atrás no tempo, portanto, não deveríamos continuar nos esforçando para que as coisas sejam como eram antes e ficar resistindo ao fato evidente e irremediável. Se você quer saber mais sobre este processo, te convidamos a ler este artigo de Psicologia-Online sobre como superar um trauma emocional.

Como superar um trauma emocional

A natureza nos ensina que a adaptação de qualquer ser vivo às mudanças do entorno é um requisito básico para sua sobrevivência. Para que esta adaptação ocorra de forma estável e harmônica é imprescindível que se mantenha um estado de equilíbrio no sistema, como exige o princípio termodinâmico:

"Os sistemas abertos tendem a manter um estado inercial de resistência à mudanças, o que os confere estabilidade. Neste sentido, todo sistema tende a alcançar o denominado "estado estacionário", que é aquele em que todas as variáveis permanecem estáveis ou com flutuações dentro de margens de segurança, de forma que, com qualquer perturbação externa, o sistema tratará de responder restabelecendo o estado estacionário".

O sistema biológico encarregado de conseguir e manter este estado é a homeostase. No âmbito do sistema cerebral humano, os mecanismos homeostáticos psicológicos são eficazes diante de fatos perturbadores que geram mudanças de pouca transcendência e nos adaptamos a eles sem grande esforço, mas quando se trata de fatos inesperados que afetam a integridade física e/ou psicológica e têm consequências dramáticas para a pessoa, estes mecanismos homeostáticos não são tão eficazes e não podem impedir seus efeitos devastadores.

Nestes casos, a primeira defesa que os mecanismos homeostáticos coloca em prática é considerar um fato traumático como algo alheio à realidade, considerar que o fato não ocorreu ou que não nos afeta, de forma que enquanto não aceitamos a realidade, não poderemos recuperar o equilíbrio psicológico e a estabilidade emocional perdida (o estado estacionário exigido pela termodinâmica). Se não há aceitação, não pode haver adaptação geradora de bem-estar psicológico (pode haver aceitação por resignação passiva, mas sem bem-estar). Portanto, pode se dizer que a aceitação da nova situação vital imposta pelo fato traumático faz parte do mecanismo da homeostase psicológica.

Veja também o nosso artigo sobre os tipos de traumas psicológicos.

Os traumas são superados?

O processo de aceitação de um fato traumático é complexo e doloroso para a maioria das pessoas que sofrem com ele. É muito difícil para nós aceitar que já não temos o que tínhamos até agora (saúde, família, amigos, trabalho, etc.), ou que não teremos o que desejaríamos ter, por isso a primeira reação diante de um fato traumático é negá-lo ou racionalizá-lo com o fim de preservar o modelo de mundo que tínhamos.

Para a pessoa que sofre o trauma, a ideia de se render, de abandonar o mundo familiar, profissional ou social, de não se envolver no mundo que o rodeia (um mundo que a enganou e traiu) é atraente e emerge com enorme força, e se complica ainda mais quando o fato provocou um sentimento de culpa ou um desejo cego de vingança se a culpa for atribuída a outra pessoa.

Por outro lado, uma aceitação seguida de adaptação passiva à nova situação, isto é, viver o cotidiano com resignação e apegado à frustração e ao sofrimento, dificilmente pode ser considerado uma verdadeira adaptação, para qualificá-la como tal tem que procurar ausência de confusão mental e gerar bem-estar psicológico. Além disso, deve ser acompanhada de uma motivação positiva pelo futuro (por exemplo, a ilusão de conseguir um objetivo desejado).

Um aspecto relevante a ter em conta é que a contradição cognitiva que ocorre no fato traumático é interna, trata-se de uma batalha que tem lugar em nossa mente, não no entorno, o que implica uma luta contra si mesmo em que o modelo que tínhamos de nós mesmos e do mundo (de como deveria ser) desaparece, e nos vemos obrigados de repente a substituí-lo por um novo (o que é). Esta luta interna é a base fundamental da dificuldade da aceitação, pois requer um processo de raciocínio para compreender o ocorrido e elaborar depois uma resposta apropriada que não leve a comportamentos desadaptativos. Neste sentido León Festinger (1959) aponta: “Os indivíduos têm uma forte necessidade interior que os empurra a assegurarem-se de que suas crenças, atitudes e comportamentos são coerentes entre si".

 

O processo de aceitação de um trauma

A aceitação exige tempo e esforço, sobretudo considerando o estado emocional superexcitado devido à tensão do momento que impõe limitações à eficácia dos processos de racionalização (principalmente porque a atenção está centrada quase exclusivamente no fato e suas consequências, deixando de lado as circunstâncias do entorno). Além disso, nesta luta, um fator contrário é que a mente pode nos enganar e levar a contra racionalizações, fabulações, projeções, dissociações ou negações para justificar a postura que nos interessa.

No entanto, nossa mente dispõe de recursos suficientes para levar a cabo com eficácia o processo se soubermos empregados adequadamente. Como ressalta V. Ramachandran (2011): “a mente aborrece, em geral, as incongruências, e portanto, dedica os recursos cognitivos necessários a reduzi-las ou minimizá-las, mas apenas quando a situação seja suficientemente relevante, isto é, quando tenha conteúdo emocional suficiente".

A complexidade do processo de aceitação

É evidente que não se passa da ocorrência do fato traumático para sua aceitação direta e simultaneamente, mas sim transcorre através de um processo de várias etapas das quais a aceitação é o estado final que se alcança quando a pessoa reconhece e assume a realidade da nova situação (uma aproximação descritiva destas etapas pode ser vista no modelo das cinco etapas da mudança de Elizabeth Kübler-Ross).

A dificuldade do processo mental de aceitação reside em sua complexidade e uma forma de desfazer isto é separar e analisar o processo por partes. Atendendo as características apontadas anteriormente, que definem um fato como traumático, a análise do processo pode se dividir em diferentes aceitações parciais:

  • Aceitar a possibilidade de que um fato traumático pode ocorrer conosco.
  • Aceitar a existência de falhas em nosso modelo de mundo.
  • Aceitar o sofrimento gerado.
  • Aceitar nossa natureza biológica.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Bertalanffy, Ludwig (1976). Teoría general de los sistemas. Fondo de cultura económica.
  • Chinn, C.A.; Brewer, W.F. (1998). An empirical test of a taxonomy of responses to anomalous data in sience. Journal of Research in Science Teaching.
  • Kahneman, D. (2011). Pensar rápido, pensar despacio. Barcelona. Random House.
  • Kelly, G. (2001). La psicología de los constructos personales. Barcelona. Ed. Paidós.
  • Kübler-Ross, E.; Kessler, D. (2005).Sobre el duelo y el dolor. Ed. Luciérnaga.