Psicologia cognitiva

Como usar menos o celular

 
Bryan Longo
Por Bryan Longo. 6 fevereiro 2021
Como usar menos o celular

O uso de telefone celular é postulado como uma ferramenta imprescindível na vida de cada ser humano, pois suas múltiplas funções facilitam as atividades rotineiras e atípicas: um dispositivo que oferece despertador, lanterna, câmera de vídeo e fotografia, calendário, calculadora, controle de calorias, GPS, caixa de correio, chamadas, mensagens e dezenas de outras mais. Essas vantagens que nos oferece têm efeitos colaterais como tudo o que consumimos, neste caso, a nomofobia ou vício em celular. No seguinte artigo de Psicologia-Online, compartilhamos o que é a nomofobia ou vício em celular e quais são suas características e consequências negativas em nossa qualidade de vida. Se você se sente identificado/a e se pergunta como se desconectar do celular, continue lendo.

Também lhe pode interessar: Efeitos da maconha no cérebro

Índice

  1. A nomofobia ou vício em celular
  2. Por que as redes sociais são tão viciantes
  3. Consequências do uso excessivo do celular
  4. Como usar menos o celular

A nomofobia ou vício em celular

A nomofobia é caracterizada por um medo exacerbado e intrusivo de permanecer um intervalo de tempo sem o telefone celular. Pode se manifestar com alguns dos seguintes sintomas:

  • Ansiedade recorrente que se manifesta muitas vezes com sintomas noradrenérgicos (transpiração excessiva ou anormal, inquietação motora, taquicardia, aumento da frequência respiratória, dilatação das pupilas). Esses sintomas ocorrem quando o telefone não está por perto.
  • As ideias obsessivas muitas vezes acabam em compulsões; se sentem tão desesperados e acabam checando o telefone inúmeras vezes.
  • Às vezes é necessário concentrar a atenção em outras atividades importantes, como trabalho ou atividades acadêmicas, de interesse pessoal, enquanto comem ou até no banheiro acabam utilizando o celular e expressam o sentimento de estresse por não poder se concentrar ou às vezes relatam não ter tempo suficiente.
  • As pessoas com nomofobia estão constantemente atentas a qualquer notificação do seu celular (mensagens, whatsapp, curtidas em suas redes sociais e têm como prioridade em suas atividades).
  • Chegando no horário habitual de dormir, preferem o uso do celular e acabam descansando menos tempo do que o habitual (por exemplo, planejam ir dormir às vinte e duas horas, mas precisam continuar vendo as notícias ou notificações do seu celular, que acabam ficando revisando e dormindo três ou quatro horas depois).
  • Se sentem sobrecarregadas por estarem em um lugar onde têm pouca ou nenhuma cobertura telefônica.
  • Se sentem abatidas e estressadas quando o nível de bateria está diminuindo e, em muitos casos, passam horas com o carregador conectado enquanto estão utilizando-o.
  • Em reuniões sociais está atenta ou usa constantemente o telefone celular.
  • Uso do telefone desde o momento em que acorda até o momento de dormir.

Por que as redes sociais são tão viciantes

É necessário começar explicando que nosso sistema nervoso está envolvido em qualquer tipo de vício (por exemplo, vício em drogas, pornografia, jogos e muito mais).

Vício e dopamina

E o neurotransmissor que está envolvido em todo esse processo é a dopamina, um neurotransmissor que intervém em uma variedade de processos, como a memória, o controle de movimentos, a aprendizagem, o sono, a atenção, o humor e, o mais importante, nos vícios «o sistema de recompensa do cérebro». Este neurotransmissor nos motiva a satisfazer nossas necessidades e desejos (por exemplo, comer uma fatia de pizza, pois antecipa como nos sentiremos ao realizarmos esse desejo). A dopamina nos faz querer algo, buscá-lo, desejá-lo.

Recompensa e sobrevivência

Este sistema de recompensa do cérebro que nos motiva a fazer o que gostamos foi uma forma da evolução filogenética para garantir que procurássemos o que precisávamos (por exemplo, se estivéssemos com sede, procuraríamos água), por isso não é estranho que aquilo que nos é necessário para viver ou para perpetuar a espécie também nos forneça um prazer, como fazer sexo ou comer.

Um estudo realizado por Kent Berridge, um professor americano. Observou-se que ratos que foram privados da liberação de dopamina no cérebro (ATV) perderam a vontade de comer, embora tivessem a comida à sua frente, não a comeram, o que fez com que esses ratos morressem de fome, pois não sentiam a motivação para comer (abulia).

A causa do vício nas redes sociais

Assim, as redes sociais utilizam este sistema de nosso cérebro a seu favor; essas recompensas imediatas e constantes que as redes sociais oferecem (por exemplo, receber uma curtida, um comentário, receber um novo seguidor nos dá uma pequena quantidade de dopamina).

O próprio Sean Parker, cofundador do Facebook disse em uma entrevista «we give you a little dopamine hit» nós damos a você uma pequena dose de dopamina. Referindo-se também que essa estimulação constante proporcionada pelas redes sociais fazia parte de uma estratégia muito bem desenhada que aproveitava uma das grandes vulnerabilidades da psicologia humana. Então, acaba dizendo que eles sabiam que estavam criando algo muito viciante.

O experimento de Skinner aplicado as RRSS

Burrhus Frederic Skinner, psicólogo estadunidense (1904-1990), também realizou um experimento com ratos.

Colocou os ratos em uma caixa onde eles tinham que pressionar uma alavanca para receber um prêmio (comida), o curioso do experimento é que quando esses ratos apertavam a alavanca, três coisas poderiam acontecer:

  • Que recebiam uma pequena quantidade de comida;
  • Que recebiam uma grande quantidade de comida;
  • Que não recebiam absolutamente nada.

O resultado do experimento é que um grupo de ratos que apertava uma alavanca e sempre recebia comida agia diferente daqueles que não sabiam a quantidade de comida e quando iriam recebê-la, os quais apertavam muito mais compulsivamente a alavanca, ou seja, quanto mais inesperado um prêmio, maior era a necessidade do rato de comprovar se tinha recebido o prêmio. Em redes sociais revisamos constantemente as notificações, porque nunca sabemos quando haverá uma notificação ou de quem será.

Consequências do uso excessivo do celular

A consequência mais evidente é chamada de nomofobia, um medo irracional e excessivo, mas além desta compartilhamos outras:

  • Vício incontrolável;
  • Doenças ou condições físicas, como dores de cabeça constantes, problemas oftalmológicos, dores musculares, dores nas articulações;
  • Insônia;
  • Problemas ou alterações no comportamento alimentar;
  • Afetação nas relações interpessoais;
  • Perda de empatia;
  • Depressão e/ou ansiedade;
  • Perda de tempo para trabalho, descanso, atividades, relacionamentos, etc.

Como usar menos o celular

Vendo as consequências de passar excessivas horas com o celular, com certeza você está se perguntando como pode se desconectar do celular e das redes sociais. A seguir, você encontrará dicas para fazer um uso responsável da tecnologia e não ser absorvido/a pelas redes sociais:

1. Faça atividade física

Procure realizar atividades físicas não como distração, mas como uma fonte de dopamina que nos permita regular o uso do celular. Devem ser atividades muito apreciadas, como praticar esportes, ir à academia, fazer aulas de balé ou passear com o cachorro.

2. Mantenha relações sociais presenciais

Ter contato, se encontrar e fazer planos pessoalmente com os entes querido. Visitar a família, sair para comer com um amigo, convidar o cônjuge ou os amigos para jantar, dar um passeio ou fazer qualquer atividade de interesse de vocês.

3. Não leve o celular para a mesa

Não leve o celular para a mesa, evite colocá-lo em cima dela. Aproveite a refeição com ou sem companhia. Coma com plena consciência e presença no presente.

4. Utilize o modo avião

O circuito de recompensa do cérebro pode ser modificado, mas deve ser trabalhado como qualquer vício para evitar os sintomas de abstinência: as reduções devem ser graduais e medidas. Para isso, o modo avião pode ser utilizado durante períodos do dia.

5. Desligue o celular

Nos momentos em que você está realizando alguma atividade. Por exemplo, você pode desligar o celular durante as reuniões familiares ou sociais.

6. Encontre e trate a causa

É algo mais complexo, mas você precisa explorar à fundo, e com ajuda de um profissional, o que o celular representa na sua vida. Seu uso excessivo pode estar relacionado como forma de evitar questões de introspecção que podem ser emocionalmente dolorosos. É hora de tratar todas essas questões pendentes.

7. Trate-se bem

Não se culpe, não finja estar no controle de sua necessidade imperiosa de usar o celular. Querer estar no controle só irá piorar os sintomas e deixá-lo desesperado, o que não terá nenhum benefício. Seguindo as dicas anteriores, permita-se passar um tempo com você mesmo, com as coisas que você gosta de fazer e escute a si mesmo. Não busque controle, busque uma disciplina que possa ser enfrentada em sua vida. Aos poucos você verá o resultado desse melhor planejamento do seu tempo.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

Se pretende ler mais artigos parecidos a Como usar menos o celular, recomendamos que entre na nossa categoria de Psicologia cognitiva.

Bibliografia
  • Burrhus F. Skinner. (1978). Reflexiones sobre conductismo y sociedad. Editorial Trillas. Barcelona.

Escrever comentário

O que lhe pareceu o artigo?
Como usar menos o celular