Personalidade

Comportamento Autodestrutivo Indireto e Transtornos de Personalidade

 
Equipe editorial
Por Equipe editorial. Atualizado: 11 janeiro 2021
Comportamento Autodestrutivo Indireto e Transtornos de Personalidade

O Comportamento Autodestrutivo Indireto (CADI) passa despercebido, frequentemente negado, menosprezado ou deformado tanto pelo sujeito que o realiza como pelas pessoas que o rodeia. A diferença entre Comportamento Autodestrutivo Direto e Indireto é que o Direto é consciente e intencionalmente autodestrutivo, enquanto que o Indireto não.

O CADI pode ser considerado como tal sempre e quando os comportamentos sejam repetidos e tendam a aumentar a intensidade com que ocorrem. Você quer conhecer mais sobre o comportamento autodestrutivo indireto e transtornos de personalidade? Continue lendo o seguinte artigo de Psicologia-Online e explicaremos para você.

Índice

  1. O Comportamento Autodestrutivo Indireto
  2. Exemplos de comportamentos autodestrutivos indiretos
  3. Comportamento Autodestrutivo Indireto e traços de personalidade
  4. Conclusões

O Comportamento Autodestrutivo Indireto

Freud (1920) declarou que nenhum homem é capaz de imaginar sua própria morte porque não pode integrar sua inexistência através de suas fantasias de imortalidade. O aparelho anímico funciona sob o princípio de constância; definido por Breuer e Freud em seus Estudos sobre a Histeria como: “A tendência de manter constante a excitação intracerebral” (Breuer, 1985 em Freud, 1920 p 15); esta é a busca do equilíbrio de inorgânico, “…deriva um impulso da necessidade de restabelecer um estado anterior” (Freud, 1920/1955 p. 56) ou “o organismo reage diante de toda perturbação com a tentativa de recuperar o status quo” (Segal, 1984. em Widlöcher, 1991 p.35).

A compulsão de repetir é a manifestação do impulso da morte, uma tentativa de retornar a um estado anterior para manter a constância. O impulso de morte opera quase sempre de maneira silenciosa, por isso é difícil observar suas manifestações em estado puro, só podem ser percebidas quando se fundem com a líbido. Segal (1984 em Widlöcher, 1991) propõe que o princípio de Nirvana é uma idealização da morte e do impulso de morte, semelhante à de uma fusão com o objeto, como no sentimento oceânico.

Reckhardt (1984 em Widlöcher, 1991) afirma que o equipamento primário de autopreservação do organismo inclui algumas funções de retirada e deslocamento. Consequentemente, as primeiras derivações do impulso de morte são manifestadas pela indiferença e destruição. O instinto de morte se manifesta em suicídio encoberto e comportamento autodestrutivo. Anteriormente, uma pessoa era considerada suicida se falasse de suicídio, tentasse ou tivesse sucesso, mas estudos posteriores indicaram que havia mais fatores de interação, como o comportamento, o tempo, a intenção e a atividade.

O conceito de tendências suicidas inconscientes também foi introduzido porque o sujeito parecia não se dar conta ou negar que suas ações se destinavam a prejudicar a si mesmo. Durkheim (1999) refere-se ao suicídio como qualquer caso de morte resultante, direta ou indiretamente, de um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima, sabendo que ela deveria produzir esses resultados. Na definição anterior, é importante ressaltar que o suicida está consciente do seu ato e das consequências deste.

Litman (1983; em Farberow, 1984) explica que a diferença entre comportamento autodestrutivo direto e indireto é o objetivo consciente do comportamento. Se o objetivo principal é prejudicar a si mesmo, o termo comportamento autodestrutivo é correto e o suicídio é sua forma extrema. No comportamento autodestrutivo indireto, o se prejudicar não é o objetivo principal, mas um efeito indesejado e inclui erros relativamente insignificantes, autopunição e pequenos riscos que somados aumentam a possibilidade de lesões e a morte.

Desta maneira, começa a falhar o teste de realidade e os esquemas de ação narcisistas são ativados. CADI é uma forma de vida, um traço de caráter repetitivo, um hábito. Ocorre lentamente, de maneira inconsciente e as consequências se manifestam a longo prazo. É uma maneira de evitar a dor. É uma tentativa de manter o controle e a previsão; locus de controle interno contra externo.

Comportamento Autodestrutivo Indireto e Transtornos de Personalidade - O Comportamento Autodestrutivo Indireto

Exemplos de comportamentos autodestrutivos indiretos

Indivíduos com pouca capacidade de introspecção explicariam as consequências como produtos da sorte, do destino ou vítimas do ambiente. O dano ocorre pouco a pouco cada vez que o comportamento é apresentado como:

  • O consumo de tabaco, álcool e drogas.
  • Alterações do corpo (tatuagens, piercings, etc.).
  • Transtornos de alimentação (obesidade, anorexia e bulimia).
  • Relações sexuais de alto risco.

O dano é potencial pela repetição do comportamento e o aumento do risco. Ocorre em:

  • Apostas.
  • Atos criminosos leves.
  • Acidentes.
  • Esportes de alto risco.

Farberow (1984) considera que as pessoas que apresentam um ou mais dos comportamentos descritos anteriormente, de maneira repetitiva, possuem as seguintes características em comum:

  • O raciocínio tende a ser vazio e superficial.
  • Seu comportamento autodestrutivo não ocorre sob condições de estresse.
  • A motivação é voltada para a obtenção de prazer e as ações são voltadas para si mesmo.
  • Podem manter seu comportamento através de sua forte capacidade de negação.
  • Possuem pouca capacidade de se visualizar a longo prazo.
  • Se mostram intolerantes aos atrasos e aos compromissos adiados.
  • São incapazes de explicar seu comportamento e parece sempre ser impulsivo e difícil de entender, mas isso se justifica pelo próprio prazer que a atividade produz.
  • Mantêm relações instáveis, pois a principal preocupação é a própria pessoa e não a outra.

Casillas e Clark (2002) investigaram indivíduos com alta dependência e impulsividade e com uma tendência a comportamentos autodestrutivos para depois correlacioná-los com a personalidade tipo “B” que consiste em uma combinação de traços da personalidade antissocial, limítrofe, histriônica e narcisista. A combinação dos três coincide com as características de personalidade apontadas por Farberow (1984). Por outro lado, O DSM IV (1994) aponta alguns comportamentos da personalidade tipo “B“ que são similares aos propostos por Farberow.

Comportamento Autodestrutivo Indireto e Transtornos de Personalidade - Exemplos de comportamentos autodestrutivos indiretos

Comportamento Autodestrutivo Indireto e traços de personalidade

Voltando aos autores supracitados, pode-se dizer que as pessoas apresentam Comportamentos Autodestrutivos Indiretos apresentam as seguintes características de personalidade:

  • Buscam prazer imediato e baixa tolerância à frustração
  • Tendência à negação
  • Angústia da perda do objeto
  • Onipotência
  • Falta de planejamento a longo prazo
  • Necessidade de estimulação constante
  • Relações interpessoais superficiais
  • Forte sentimento de individualismo

Conclusões

O CADI é difícil de observar em um único comportamento, além disso, cada pessoa o expressa de uma maneira diferente e é por isso que é tão complicado de medir. É o acúmulo destas e suas tendências à repetição que o torna um fator importante de risco para o indivíduo que pode levar à morte.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • American Psychiatric Association (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (4a. Ed.) Washington, DC, EE. UU.
  • Casillas, A & Clark, A. (2002). Dependency, Impulsivity, and Self-harm: Traits hypothesized to underlie the association between Cluster B personality and Substance use disorders. Journal of Personality Disorders. 16 (5), p. 424 – 441. New York, USA.
  • Durkheim, E. (1999). El suicidio. México, DF. : Ediciones Coyoacán
  • Farberow, N (1984). The Many Faces of Suicide: Indirect Self-destructive Behavior. Nueva York, Estados Unidos. Mc Graw- Hill Book Comapany.
  • Freud, S. (1920). Más allá del principio del placer. Buenos Aires, Argentina: Amorrortu Editores. Tomo XVIII.
  • Widlöcher, D. (1991). La pulsión de muerte. Buenos Aires, Argentina: Amorrotu Editores.
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