Depressão e distimia: qual a diferença?

Depressão e distimia: qual a diferença?

Os transtornos depressivos são um conjunto de quadros psicopatológicos organizados nas classificações diagnósticas DSM-5 (Associação Americana de Psiquiatria) e CIE-11 (Organização Mundial da Saúde). Todos os pacientes sentem uma tristeza patológica que é acompanhada de outros sintomas e que surge com maior ou menor duração e intensidade.

A distimia constitui um transtorno muito bem estudado, com muitas publicações sobre suas características clínicas, avaliação, tratamento, etc. e que guarda estreita relação com a depressão. Neste artigo de Psicologia-Online, te explicamos que relação ambos conceitos possuem e te contamos qual a diferença entre depressão e distimia.

O que é depressão, causas e sintomas

Para poder ver com profundidade a diferença entre depressão e distimia, veremos, primeiramente, as características principais de ambos diagnósticos.

O que é a depressão?

A nível coloquial, utilizamos a etiqueta "depressão" para nos referirmos a um baixo estado de humor. Quando dizemos que alguém está deprimido, geralmente estamos descrevendo uma pessoa com um estado de profunda tristeza. Além deste uso informal, geralmente utilizamos o termo "depressão" para nos referirmos:

  • Ao conjunto dos transtornos depressivos ("Essa pessoa tem depressão" nos referindo a alguém que tem um diagnóstico deste grupo) entre os quais encontramos, entre outros, o transtorno depressivo maior e a distimia.
  • Ao transtorno depressivo maior (transtorno que comparamos neste artigo com o transtorno depressivo persistente), que é um transtorno depressivo cujos episódios podem aparecer em outros transtornos, como o transtorno bipolar ou o transtorno esquizoafetivo.

Causas da depressão

Os transtornos depressivos constituem um grupo de problemas complexos cuja causa deve ser levada em conta através de diferentes perspectivas e teorias.

A nível biológico, mesmo que tenham sido postuladas explicações como as relacionadas com a genética ou as relacionadas com o sistema endócrino, destacam-se as teorias que se centram no funcionamento dos neurotransmissores. Estes apontam a disfunção no sistema neurotransmissor como causa dos problemas do estado de humor. Neste artigo falamos dos neurotransmissores e a relação com as emoções.

Por outro lado, através dos modelos psicológicos se estabeleceram diferentes explicações e teorias que dão conta da origem, desenvolvimento e manutenção dos problemas depressivos. Entre estas teorias se destacam:

  • Os modelos cognitivos, entre os quais encontramos a teoria de Beck e a teoria da indefesa aprendida.
  • Os modelos comportamentais, que se concentram em aspectos como a diminuição do reforço positivo.
  • A teoria psicanalítica também conta com um modelo explicativo da depressão.

Sintomas da depressão

Os sintomas e diagnóstico da depressão são tão extensos quanto complexos. Dado que neste artigo vamos comparar o transtorno depressivo maior com o transtorno depressivo persistente, vamos atender aos critérios diagnósticos necessários para cada um segundo o DSM-5 (APA).

Quanto ao transtorno depressivo maior, os sintomas que podem aparecer são:

  • Estado de humor deprimido.
  • Diminuição do interesse ou prazer por todas ou quase todas as atividades.
  • Perda importante de peso.
  • Insônia ou hipersônia.
  • Agitação o atraso psicomotor.
  • Fatiga ou perda de energia.
  • Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada.
  • Diminuição da capacidade para pensar ou se concentrar e tomar decisões.
  • Pensamentos de morte recorrentes e ideias suicidas.

O que é distimia, causas e sintomas

Outro tipo de transtorno depressivo é a distimia. Detalharemos suas características a seguir:

O que é distimia

A distimia ou transtorno depressivo persistente constitui uma categoria diagnóstica englobada dentro dos transtornos depressivos. Neste caso nos referimos a um transtorno mais duradouro que o transtorno depressivo maior e de menor intensidade.

Causas da distimia

Como apontamos no tópico anterior, a origem dos transtornos depressivos corresponde a múltiplas e complexas causas. A respeito, como foi exposto, as diferentes correntes da psicologia e da biologia contribuíram com modelos explicativos pra compreender suas causas.

Sintomas da distimia

Os sintomas que o DSM-5 propõe para o transtorno depressivo persistente seriam os seguintes:

  • Estado de humor deprimido.
  • Pouco apetite ou superalimentação.
  • Insônia ou hipersônia.
  • Pouca energia ou fadiga.
  • Baixa autoestima.
  • Falta de concentração ou dificuldade para tomar decisões.
  • Sentimentos de desesperança.

8 diferenças entre distimia e depressão

Apesar de ter muitas semelhanças, o transtorno depressivo maior e a distimia têm várias diferenças que detalhamos a seguir:

1. Duração

O transtorno depressivo maior exige que os sintomas estejam presentes durante, ao menos, duas semanas para que se possa realizar o diagnóstico.

Diferentemente deste, o diagnóstico de distimia requer que os sintomas estejam presentes durante, ao menos, dois anos (um ano para crianças e adolescentes) e requer que não tenha havido mais de dois meses sem que os sintomas tenham estado presentes.

2. Aparição em outros quadros diagnósticos

Os episódios de depressão maior podem aparecer no contexto de outros transtornos mentais, como é o caso do transtorno bipolar e o transtorno esquizoafetivo. A distimia, pelo contrário, não aparece como parte de tais transtornos.

3. Especificação de sazonalidade

Dado que no transtorno depressivo maior falamos de episódios e a distimia supõe um transtorno mais duradouro, poderemos especificar como o primeiro se tais episódios aparecerem com certa sazonalidade, o que não ocorrerá no caso da distimia.

4. Prevalência

O estudo ESEMeD (ESEMeD/MHEDEA 2000 Pesquisadores, 2004; Haro et al., 2006; visto em Caballo)[1] encontrou dados de prevalência em países europeus sobre os transtornos depressivos organizados no DSM-IV. Estes dados indicaram que o transtorno depressivo maior tinha uma prevalência ao longo de toda a vida de 12,7% e a distimia de 3,6% da população.

5. Requerimento de sintomas para o diagnóstico

Da lista de sintomas, a depressão maior exige cinco ou mais, enquanto que o transtorno depressivo persistente apenas exige dois ou mais.

6. Sintomas nucleares

Os sintomas nucleares se referem àqueles que devem aparecer necessariamente para estabelecer o diagnóstico. A respeito, para diagnosticar o transtorno depressivo maior do DSM-5 é necessário que o paciente experimente um estado de humor deprimido ou experimente uma diminuição de interesse ou de prazer pelas atividades que geralmente pratica. Diferentemente deste, para o diagnóstico de distimia apenas se exige o estado de humor deprimido.

7. Outros sintomas requeridos

Para o diagnóstico de transtorno depressivo persistente, no DSM-5, se exigem que estejam presentes sentimentos de desesperança e baixa autoestima que não estão presentes para o diagnóstico de depressão maior (mesmo neste caso se propõem sintomas relacionados com o sentimento de inutilidade, culpa excessiva).

Quanto ao peso, para o diagnóstico de transtorno depressivo maior se requer uma perda importante de peso enquanto que para o transtorno depressivo persistente pode aparecer pouco apetite ou superalimentação.

Por último, um dos critérios propostos para o diagnóstico de transtorno de depressão maior é o de pensamentos de morte recorrentes ou ideias suicidas, que não aparece para o diagnóstico de transtorno depressivo persistente.

8. Intensidade

Vistos os sintomas, se assume que a intensidade com que se mostra um transtorno depressivo maior será maior que a intensidade com a que pode se mostrar um transtorno depressivo persistente (requerem-se mais sintomas em menos tempo para o transtorno depressivo maior e se requerem menos sintomas mas mais duradouros para o transtorno depressivo persistente).

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. CARROBLES, J.A. (2014) Trastornos Depresivos. En Caballo, V.E., Salazar, I.C. Y Carrobles, J.A. (2014) Manual de Psicopatología y Trastornos Psicológicos. Madrid. Pirámide.
Bibliografia
  • ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (2014). DSM-5. Guía de consulta de los criterios diagnósticos del
  • ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) (2018) Clasificación Internacional de Enfermedades, 11.a revisión. Recuperado de https://icd.who.int/es