Depressão pós-parto e tristeza pós-parto: diferenças


Certamente você já ouviu falar da depressão pós-parto ou da tristeza pós-parto (também chamado baby blues ou postpartum blues) que muitas mulheres sofrem após dar à luz, ou talvez você seja uma dessas mulheres que sofre disso, mas você sabe realmente a diferença entre depressão pós-parto e tristeza pós-parto? Todas as mulheres sofrem com isso após trazer crianças a este mundo? É algo muito comum ou é difícil de encontrar nos dias de hoje?
Se você conhecer quais são suas causas, os sintomas que as diferenciam, o tratamento, quando podem aparecer, quanto duram, ou se você está grávida e quer saber se tem risco de sofrer de depressão pós-parto ou de tristeza pós-parto, continue lendo este artigo de Psicologia-Online, no qual te ajudaremos a diferenciá-las e também falaremos de outra alteração pós-parto menos comum: a psicose pós-parto, desenvolvida por algo como 0,1-0,2% das mulheres depois de dar à luz.
Prevalência
A primeira diferença entre a depressão pós-parto e a tristeza pós-parto é a prevalência.
- A depressão pós-parto afeta de 10 a 20% das mulheres.
- Enquanto o baby blues ou tristeza pós-parto afeta uma porcentagem maior de mulheres: entre 50 e 70%.
Momento de aparição
Outra das diferenças entre depressão pós-parto e tristeza pós-parto tem a ver com o momento no qual começam a aparecer os sintomas.
- Na depressão pós-parto, os sintomas surgem durante a gravidez (50% dos episódios aparecem antes do parto ou nas 4 semanas posteriores ao parto).
- No entanto, a tristeza pós-parto aparece entre o segundo e o terceiro dia depois do parto.

Causas da depressão pós-parto e da tristeza pós-parto
A depressão pós-parto, atualmente, não foi vinculada a nenhuma alteração endócrina concreta. Foi observado um maior incremento em mulheres que sofrem de tireoidite pós-parto, não foi possível concluir sua relação. Portanto, afirmamos que os fatores endócrinos não possuem um efeito causal, mesmo que possam interferir na sensibilização de alguns aspectos.
Tristeza pós-parto ou Baby blues: o que é
A tristeza pós-parto ou postpartum blues, por outro lado, foi implicada de maneira direta com os hormônios, sobretudo associado a grandes mudanças na progesterona. Uma das teorias que explicam este fato, diz que durante a gravidez se produz uma habituação à modulação dos receptores GABA pela metabolização da progesterona, o que provoca um efeito de síndrome de abstinência no momento em que os níveis deste hormônio caiam com o parto.
Sintomas da depressão pós-parto e da tristeza pós-parto
Outra das diferenças entre a depressão pós-parto e a tristeza pós-parto são os sintomas de ambas as condições:
Sintomas da depressão pós-parto
A depressão pós-parto manifesta os sintomas típicos do transtorno depressivo maior:
- Tristeza
- Abatimento
- Pesar
- Infelicidade
- Irritabilidade
- Vazio
- Nervosismo
- Apatia
- Estado geral de inibição
- Falta de motivação
- Pensamentos negativos (desesperança, falta de controle, não poder dar sentido ao que se faz)
- Dificuldade para a tomada de decisões
- Memória e atenção alteradas
- Pensamento circular e barulhento
- Culpa
- Perda de autoestima
- Alteração do sono
- Fadiga
- Perda de apetite
- Diminuição da atividade e desejo sexual
- Deterioramento das relações sociais
Baby blues: sintomas
O baby blues se caracteriza pela presença de sintomas de tristeza, vontade de chorar e labilidade emocional.
Efeitos no recém-nascido
Outra diferença entre depressão pós-parto e o baby blues são as consequências. Foi demonstrado que as mães que sofrem de depressão pós-parto mostram uma cura diferente do recém-nascido com relação à que o pai oferece. Nestas crianças foi visto um aumento da incidência a sofrer qualquer tipo de alteração do estado de humor (não por questão genética, mas ambiental, já que a maioria dos inputs que recebe são negativos e isto afeta a formação correta do SNC - sistema nervoso central - que se forma nas primeiras semanas de vida) e, também se observa uma maior vulnerabilidade do bebê em sua vida futura. Por outro lado, a tristeza pós-parto parece não ter repercussão em seu desenvolvimento.

Grupos de risco
Na depressão pós-parto observamos determinados grupos de risco:
- Mulheres com antecedentes de depressão maior anterior
- Mulheres com transtorno bipolar
- Mulheres com episódio prévio de depressão pós-parto
- Consumo de álcool
- Ter menos de 20 anos
- Ter familiares com antecedentes de depressão e/ou ansiedade
- Pessoas que tenham manifestado sintomas depressivos durante a gravidez
- Violência doméstica e/ou problemas maritais
- Falta de apoio familiar e/ou social
Por outro lado, o baby blues é um fator de risco e preditor para a aparição da depressão pós-parto, sem ser determinante.
Os critérios do DSM-V
No DSM-V (Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, Ed. 5) encontramos a depressão pós-parto como um subtipo de transtorno depressivo maior, e no DSM-IV como transtorno não específico com início no periparto, o que indica que o transtorno foi produzido durante a gravidez. Neste artigo, falamos dos tipos de depressão.
Para poder diagnosticar se devem cumprir, portanto, os critérios de depressão maior, que são os seguintes:
- Qualidade depressiva do estado de humor (com perda de interesse ou de prazer)
- Por um período mínimo de duas semanas
- Acompanhada de alguns dos seguintes sintomas: estado de humor deprimido, anedonia, apetite e peso desregulados, fadiga, lentidão psicomotora, agitação, autoestima baixa ou culpa, concentração alterada, desejo de morte, ideias suicidas
- Que estes sintomas desencadeiam mal-estar ou incapacidade
- Que não apresente critérios de exclusão
Este manual considera grupos de risco as mulheres com antecedentes de transtorno bipolar ou depressivo, mulheres com depressão, ou com episódios depressivos prévios à depressão pós-parto.
Por outro lado, a tristeza pós-parto não é considerada um transtorno patológico.
Duração
Outra das diferenças entre depressão pós-parto e tristeza pós-parto é a duração de ambas as condições:
- Para poder falar de depressão pós-parto, os sintomas devem ser persistentes na maior parte do tempo e na maior parte dos dias durante um mínimo de duas semanas.
- Visto que o postpartum blues não é considerado um transtorno no DSM-V, a duração dos sintomas deve ser menor de duas semanas, e se persistir, passaríamos a falar de depressão pós-parto.

Tratamento
A abordagem terapêutica deve se iniciar indicando a interrupção do consumo de álcool e tabaco, aumentar o descanso, praticar técnicas de relaxamento e exercícios físicos.
- Para a depressão pós-parto se recomenda iniciar tratamento psicológico personalizado em função dos sintomas concretos e das características idiossincráticas da pessoa; e tratamento psicofarmacológico, no caso de não obter resposta na psicoterapia, com antidepressivos. Aqui explicamos os Tipos de antidepressivos e para que servem.
- Já para a tristeza pós-parto não seria necessário o tratamento psicofarmacológico. Seria útil proporcionar um tratamento psicológico personalizado em função dos sintomas concretos e das características idiossincráticas da pessoa.
A psicose pós-parto
Também é importante diferenciar a depressão pós-parto e a tristeza pós-parto da psicose pós-parto. Esta constitui o transtorno pós-parto mais grave, porém, felizmente, se apresenta em uma porcentagem pequena.
A psicose pós-parto se caracteriza por uma perda de contato com a realidade, agitação, confusão, alucinações, delírios paranoides e comportamentos violentos que caracterizam o transtorno como uma situação de urgência psiquiátrica. No DSM-V identificamos como transtorno psicótico breve. Tem uma incidência de 2-3/1000 e é mais comum em mulheres primíparas (que vão dar à luz pela primeira vez).
Pode apresentar a seguinte sintomatologia clínica: alucinações, ilusões, pensamentos incoerentes, insônia, delírios, mania, suicídio (5%), infanticídio (4%).
Considera-se grupos de risco aquelas pessoas com uma história pessoal e/ou familiar de psicose, transtorno bipolar ou esquizofrenia, complicações obstétricas.
Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.
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- American psychiatric association, (2014). Manual diagnostico y estadístico de los trastornos mentales DSM – 5. Madrid, España. Editorial medica panamericana.
- Carlson, N. R. (2014). Fisiología de la conducta. Madrid. Pearson Education, S.A.