Disforia de gênero: o que é, sintomas e causas

Disforia de gênero: o que é, sintomas e causas

Imagine viver em um corpo com o qual você não se identifica. A maioria das pessoas se sente à vontade com o sexo com que nasceu, mas o que acontece se isso não acontece? Diante deste sentimento de não se sentir identificado(a) com o corpo biológico e o mal-estar que isto pode gerar, encontramos a disforia de gênero. Neste artigo de Psicologia-Online, queremos oferecer informação a todas aquelas pessoas que possam estar interessadas em saber o que é a disforia de gênero, seus sintomas e causas.

O que é disforia de gênero

A disforia de gênero é entendida como a não congruência entre o sexo da pessoa e como esta se sente ou se expressa. Isto é, posso ser um homem porque minhas genitais indicam isso, mas me sinto mulher. Isto causa um mal-estar para a pessoa. Vale ressaltar que a disforia de gênero é independente do padrão de excitação sexual, não é porque alguém é homem e se sente mulher que este alguém sentirá atração por homens.

Disforia de gênero e DSM-V

A disforia de gênero é um transtorno? A disforia de gênero é uma nova categoria do DSM-V. Antigamente, no DSM-IV-TR, se encontrava na categoria de transtornos sexuais e da identidade sexual. Isto foi modificado, já que o foco foi colocado na congruência de gênero. Vários critérios estão inclusos em função da idade, como veremos mais adiante.

Esta incongruência de sexo e gênero afeta em média 1 em cada 30.000 homens e 1 em cada 100.000 mulheres. As principais características da disforia de gênero são:

  • A sensação de mal-estar com os próprios órgãos genitais e o desejo de se libertar do próprio sexo e viver como membro do outro sexo.
  • Desejo duradouro de pertencer ao outro sexo e de eliminar características sexuais primárias (órgãos genitais) e secundárias: os seios, os quadris largos das mulheres, a menstruação, os pelos pubianos. Nos homens, o tom de voz mais grave e o aumento do tamanho dos órgãos genitais.
  • Desejo de viver e ser tratado como uma pessoa do outro sexo.
  • O desejo é permanente no tempo, deve estar presente por no mínimo 6 meses.
  • O desejo gera um mal-estar severo na pessoa.

Sintomas da disforia de gênero

Além das características mencionadas anteriormente, a disforia de gênero pode apresentar sintomas diferentes em função da idade.

Disforia de gênero na infância

Em crianças, existe uma marcante incongruência entre o sexo que um indivíduo sente e expressa com o que foi atribuído a ele, associada a um poderoso desejo de pertencer ao outro sexo, que no caso dos meninos (sexo designado), se manifesta por uma preferência forte pelo travestismo ou ações associadas ao gênero feminino.

No caso das meninas (sexo designado), é observada uma preferência por se vestir apenas com roupas consideradas de menino, e uma clara resistência e oposição a vestir roupas consideradas femininas (saias, vestidos, etc.). Além disso, também se manifestam o desejo de querer fazer parte do outro sexo e insistência em desenvolver o papel que a sociedade considera do outro sexo.

Para ser considerada disforia de gênero, este não pertencimento ao sexo que um deseja, deve estar associado a mal-estar importante, deterioração social e escolar ou em outras áreas importantes da vida da criança.

De forma resumida, os principais sintomas que encontramos na disforia de gênero são os seguintes:

Nos meninos

  • Sentimento de que o pênis é horrível.
  • Repulsa pelos jogos mais associados ao gênero masculino.

Nas meninas

  • Sentimento de que seria melhor ter um pênis.
  • Preferência por brincadeiras consideradas masculinas.
  • Repulsa pelo ato de urinar sentada.

Os pais geralmente procuram mais por comportamentos femininos em seus filhos do que por comportamentos masculinos em suas filhas.

Nos adolescentes e adultos, além de ser possível encontrar todas as características anteriores, encontramos também a repulsa e a angústia em relação ao aparecimento das características secundárias.

Diferença entre disforia de gênero e transgênero

As pessoas transgênero não se identificam com seu sexo biológico. Desejam viver e ser aceitas como membros do sexo oposto. Por exemplo: uma mulher transgênero é um homem no nível morfológico, já que possui as características primárias masculinas, mas se reconhece a si mesma como mulher.

Falamos de disforia de gênero quando, além de não se identificar com o sexo biológico, aparece em conjunto: ansiedade, mal-estar e forte repulsa pelo próprio corpo. Portanto, a diferença entre disforia de gênero e transgênero é que, na primeira, existem sintomas de ansiedade e mal-estar psicológico.

Causas da disforia de gênero

Até hoje, as causas da disforia de gênero não são conhecidas. Acredita-se que diferentes fatores podem intervir: os genes, os hormônios, a cultura e o ambiente.

A nível biológico, o cérebro dos homens e das mulheres possuem pequenas diferenças, eu muitos casos devido a diferenças entre os hormônios produzidos. Em estudos feitos com roedores, para estudar o dimorfismo sexual e estabelecer uma hipótese sobre as causas, viu-se que o leito do núcleo da estria terminal era maior ou menor em função dos níveis de testosterona. Isso significa que o núcleo nos homens será maior que nas mulheres. A partir disso, descobriu-se que as pessoas que apresentam disforia de gênero têm esse núcleo mais parecido com o do sexo oposto.

Mesmo assim, vale ressaltar que, até hoje, as causas exatas continuam sendo desconhecidas e que toda a informação são hipóteses.

Tratamento da disforia de gênero

Devido às distintas pressões sociais e familiares, é comum encontrar efeitos na saúde mental da pessoa com disforia de gênero. Por isso, o apoio psicológico é importante em todas as etapas e possíveis tratamentos que veremos a seguir.

Como ajudar uma pessoa com disforia de gênero? Para tratar a disforia de gênero, é imprescindível contar com uma equipe multidisciplinar de especialistas (endócrinos, psicólogos, psiquiatras, etc.). O objetivo do tratamento é ajudar a pessoa com disforia de gênero a superar a angústia que sente. Em muitos casos, este fato inclui ajudar a pessoa a fazer a transição para o gênero com o qual ela se identifica.

Linhas de intervenção

Quais linhas de intervenção podemos utilizar diante da disforia de gênero?

  • Suporte psicológico e médico à pessoa para ajudá-la a compreender seus sentimentos, dar apoio e procurar estratégias para enfrentar a situação. Aqui você pode ver mais informações sobre a identidade de gênero, o que é e como ela é construída.
  • Terapia hormonal, com hormônios sexuais.
  • Cirurgia de mudança de sexo. Nesse caso, a pessoa deve ter se submetido a tratamentos hormonais e ter vivido conforme o gênero que se identifica por, pelo menos, um ano antes de realizar a operação.
  • Apoio familiar e do(a) companheiro(a) para ajudar a diminuir os conflitos e gerar um clima de apoio diante da situação.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • American Psychiatric Association. Gender dysphoria. In: American Psychiatric Association. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders. 5th ed. Arlington, VA: American Psychiatric Publishing. 2013:451-460.
  • Belloch, A., Sandín, B.,Ramos, F. (2008). Manual de psicopatología. Madrid: McGrawHill.