Disposofobia: significado, causas e tratamento

Disposofobia: significado, causas e tratamento

Ao longo de nossa vida adquirimos objetos de uma ou outra maneira pelos quais sentimos um maior ou menor apego. Uma herança, um presente com grande valor sentimental ou qualquer outro objeto que possa ter nos acompanhado por muito tempo pode fazer com que sintamos um intenso mal-estar na hora de nos desfazermos dele.

Mesmo assim, temos consciência de que não podemos guardar de forma definitiva tudo aquilo que vamos adquirindo ao longo de nossa vida. Por isso, vamos nos desfazendo daqueles objetos que ficaram obsoletos, não nos servem mais, etc.

No entanto, há pessoas às quais este processo provoca um intenso mal-estar e são incapazes de levá-lo adiante, dando lugar a um problema chamado disposofobia, mais conhecida como acumulação compulsiva. Se você quer saber mais sobre isso, continue lendo este artigo de Psicologia-Online, no qual falaremos sobre a disposofobia: significado, causas e tratamento.

O que é disposofobia

Se você está se perguntando o que é a disposofobia, esta faz referência à acumulação patológica e compulsiva de objetos e pertences que uma pessoa desenvolve ao se ver impossibilitada de se desfazer deles. A pessoa que sofre de disposofobia não é capaz de se desfazer de tais pertences, seja jogando-os no lixo, vendendo-os, doando-os ou reciclando-os. Por isso tende a acumular de forma desorganizada.

A acumulação é tal que pode chegar a ocupar grandes espaços da casa da pessoa, deixando inutilizáveis alguns cômodos. Além disso, dependendo dos objetos acumulados, podem chegar a surgir situações e/ou cenários insalubres. Neste sentido, podem chegar a se acumular também animais cujo estado seja de apodrecimento.

Toda esta situação leva a pessoa a apresentar problemas de relação social com familiares e amigos. Além disso, as situações de insalubridade podem provocar conflitos com vizinhos. Por isso, a pessoa que sofre de disposofobia pode apresentar, em maior ou menor grau, isolamento social.

Características das pessoas com disposofobia

As pessoas que sofrem de disposofobia, ou acumulação compulsiva, também podem mostrar, segundo Rodríguez, J.A. (2014)[1]: perfeccionismo, procrastinação, indecisão ou dificuldades no planejamento ou organização, entre outras.

Mesmo que a pessoa possa chegar a acumular qualquer tipo de pertences, o certo é que o mais comum é que se acumule jornais, revistas, roupas velhas, bolsas, livros, eletrodomésticos e documentos.

Sintomas da disposofobia

A disposofobia é reconhecida nas principais classificações diagnósticas. Tanto o DSM-5 (Associação Americana de Psiquiatria)[2] como a CIE-11 (Organização Mundial da Saúde)[3] reconhecem este problema com o nome de acumulação compulsiva. Em ambas classificações, o distúrbio está incluído dentro da categoria de transtorno obsessivo compulsivo e transtornos relacionados.

A acumulação compulsiva deve cumprir uma série de critérios para poder ser diagnosticada. Seguindo a classificação DSM-5, os sintomas da disposofobia são:

  • Dificuldade persistente de se desfazer ou renunciar de posses, independentemente de se estas posses possuem valor real ou não.
  • A dificuldade se deve a uma necessidade percebida de guardar as coisas e ao mal-estar que aparece quando a pessoa se desfaz de tais coisas.
  • Dado que a pessoa sente dificuldade ao se desfazer de seus pertences, esta começa a acumulá-los de forma que os cômodos da casa ficam lotados.
  • A acumulação causa mal-estar clinicamente significativo ou deterioramento social, profissional ou em outras áreas de funcionamento.
  • A acumulação não se deve aos efeitos de outras doenças como as doenças cerebrovasculares, lesões cerebrais, etc.
  • A acumulação não se aplica melhor pelos sintomas de outros distúrbios como as obsessões do transtorno obsessivo-compulsivo ou a perda de energia do transtorno depressivo maior, por exemplo.

Variáveis da disposofobia

Dentro da classificação DSM-5 que estamos seguindo, o transtorno por acumulação pode contar com diferentes tipos de variáveis. Vejamos quais:

  • Com aquisição excessiva: o paciente além de não se desfazer dos pertences, adquire coisas que não precisa ou para as quais não conta com espaço suficiente em casa.
  • Com introspecção boa ou aceitável: o paciente reconhece que as crenças e comportamentos relacionados com a acumulação são problemáticos.
  • Com ausência de introspecção (ou com crenças delirantes): o paciente está convencido de que as crenças e comportamentos relacionados com a acumulação não são problemáticos.

Causas da disposofobia

Por que uma pessoa é acumuladora? Como apontamos, a característica principal da acumulação compulsiva é a dificuldade para se desfazer dos pertences. Por que aparece esta dificuldade? As causas da disposofobia propostas em Rodríguez, J.A. (2014) para a aparição destas dificuldades são as seguintes:

  • A percepção da utilidade ou valor estético.
  • Um forte apego sentimental aos objetos.
  • Medo de eliminar informação importante e suas consequências.

Tratamento da disposofobia

Para entender o tratamento da disposofobia, devemos levar em conta que até a última classificação DSM-5, foi considerada como um tipo de transtorno obsessivo compulsivo. Neste sentido, a estratégia de intervenção é similar nos dois transtornos.

As estratégias de intervenção utilizadas para o tratamento de disposofobia foram:

  • Terapia cognitivo-comportamental: nesta se poderá utilizar terapia de exposição, terapia cognitiva para tratar as ideias e crenças irracionais e estratégias que são guiadas a melhorar as estratégias de organização do paciente.
  • Terapia farmacológica: será acompanhado da terapia cognitivo-comportamental.

No entanto, como sempre indicamos, o caso precisa ser avaliado por um profissional que determine as particularidades e escolha a melhor intervenção para o caso em particular.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. CRUZADO RODRÍGUEZ, J.A. (2014) Trastorno Obsesivo Compulsivo y Trastornos Relacionados. En Caballo, V.E., Salazar, I.C. Y Carrobles, J.A. (2014) Manual de Psicopatología y Trastornos Psicológicos. Madrid: Pirámide.
  2. ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (2014). DSM-5. Guía de consulta de los criterios diagnósticos del DSM-5-Breviario. Madrid: Editorial Médica Panamericana.
  3. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) (2018) Clasificación Internacional de Enfermedades, 11.a revisión. Recuperado de https://icd.who.int/es