Falsas memórias: o que são e como funcionam

Falsas memórias: o que são e como funcionam

Você viu o filme Ghost? Lembra da última cena? Aquela em que a alma do protagonista se afasta dizendo: "É maravilhoso, Molly, o amor que você carrega dentro de você. Ele te fará feliz". Se você respondeu que "sim", acaba de experimentar um fenômeno de falsa memória induzido por informações enganosas. Na verdade, o protagonista diz: "É maravilhoso, Molly, o amor que você carrega dentro de você. Leve-o sempre contigo".

Quer saber por que isto acontece? A causa principal é que não existem memórias perfeitas porque a memória humana, e também a de alguns animais, é altamente sugestionável. Sendo assim, neste artigo de Psicologia-Online, falaremos sobre as Falsas memórias: o que são e como funcionam.

O que são as falsas memórias na psicologia

As falsas memórias são produto de um mecanismo reconstrutivo e não reprodutivo porque, precisamente, em nossa mente não há nenhuma fotografia ou película dos acontecimentos que presenciamos. Por isso, as lembranças são apenas reconstruções dos fatos que vivemos, sendo fácil que um sujeito cria recordações que na verdade não são reais.

Sendo assim, as falsas memórias são um fenômeno que faz com que recordemos coisas que nunca ocorreram ou que lembremos delas de uma forma diferente da que ocorreram. Vejamos as diferentes formas em que as falsas memórias se manifestam:

  • Inventada: um acontecimento imaginado com grande riqueza de detalhes pode deixar uma marca no cérebro muito similar a de um acontecimento real. Isto explica a dificuldade de distinguir entre memórias reais ou falsas.
  • Baseada em uma lembrança autêntica, mas alterada.
  • Lembrança combinada: as memórias se mesclam e se confundem. Estas podem se referir a eventos ocorridos em diferentes momentos, mas neutralizando a informação temporal de cada fragmento, e a memória inventada é percebida de forma íntegra.
  • Induzida por um sono prazeroso ou por um pesadelo frustrante e angustiante. Passado um tempo, essa experiência é percebida erroneamente como real.
  • Induzida pela hipnose: cria confusão e mescla recordações autênticas e invenções do paciente. A memória reconstruída pode ser acompanhada de detalhes desagradáveis e dolorosos que podem ter um grande impacto sobre o paciente.

Por que tenho memórias falsas

Se você está se perguntando por que se lembra de coisas que nunca aconteceram, continue lendo para conhecer as principais causas das memórias falsas.

Causas biológicas

As principais causas biológicas das memórias falsas são as seguintes:

  • Dor de cabeça.
  • Síndrome de Wernicke-Korsakoff.
  • Trauma e distúrbio neurológico.
  • Danos na artéria comunicante anterior, no Polígono de Willis.
  • Alguns tipos de drogas.
  • Sonhos.
  • Processo de memorização.

De forma geral, os pacientes que sofreram lesões cerebrais, especialmente nas regiões corticais pré-frontais, têm tendência a experimentar falsas memórias.

Causas psicológicas

A origem das memórias falsas também pode ser psicológica. Vejamos quais são as causas psicológicas mais frequentes:

  • Influência de pessoas queridas ou autorizadas, pelas que se tem estima e confiança.
  • Terapia insistente e sugestiva para recuperar lembranças perdidas, como a terapia com memória recuperada (RMT)
  • Hipnose.

Como funcionam as memórias falsas 

Se você quer aprender a identificar falsas memórias, a melhor forma de se fazer é entender como funcionam. Por isso, a seguir, te mostramos as principais teorias que explicam o funcionamento deste fenômeno.

  • Teoria da visão construtiva da memória: promovida nos anos 70, esta teoria afirma que o raciocínio influencia na memória, em contraste com a opinião predominante de que a memória apoia o raciocínio. Objetivamente, destaca o papel que possuem os desejos e as crenças pessoais na hora de recuperar as memórias.
  • Teoria dos erros do source monitoring: o "controle da fonte" é o processo através do qual diferenciamos as falsas memórias das verdadeiras. Um exemplo poderia ser a distinção espontânea entre o que foi dito (fonte externa) e o que se pensou (fonte interna). Esta teoria sustenta as falsas lembranças que se criam através da comparação das memórias e a informação que se formou na codificação da memória. Isto ocorre quando a informação disponível é insuficiente para atribuí-la à fonte exata.
  • Teoria do traçado difuso: se baseia na suposição de que a memória não se registra de forma unitária. A teoria sustenta que quando se experimenta um evento, se captura, tanto os detalhes como o significado. Se o significado de um evento que não ocorreu realmente se sobrepõe ao significado de uma experiência vivida, uma memória falsa é formada.

Exemplos de memórias falsas na psicologia

Como reconhecer uma memória falsa? Nada melhor que conhecer alguns exemplos para saber identificá-la. Veremos alguns a seguir:

  • Crianças que observam uma série de objetos de diferentes distâncias. A memória posterior de seu tamanho sofre uma distorção e elas se lembram de os objetos serem maiores do que eram.
  • Se uma história é contada repetidamente, os detalhes são mostrados de forma distorcida, mas se preserva a essência.
  • Depois de estudar uma lista de palavras (por exemplo, enfermeira, hospital, tratamento, etc.) estas se relacionam com uma palavra associada de maneira semântica, mas que não estava presente na lista (por exemplo, médico).
  • Depois de ler um relato, os sujeitos reconhecem falsamente frases não ditas que conectam com o significado de algumas passagens.
  • Testemunhas de crimes podem reconhecer falsamente acontecimentos depois de receber uma sugestão, ou reconhecer falsamente os rostos de pessoas inocentes que são do mesmo gênero que os suspeitos.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • D’Ambrosio, A., Supino, P. (2014). La sindrome dei falsi ricordi. Cosa sono i falsi ricordi, come individuarli e ridurne il rischio. Milán: Franco Angeli.