Gelotofobia: como superar o medo de passar vergonha

Gelotofobia: como superar o medo de passar vergonha

Você conhece a Síndrome de Pinóquio? Ela se caracteriza pela aparição como a frieza emocional, petrificação de expressões faciais, assim como movimentos "torpes" com o corpo. A Síndrome de Pinóquio, cujo nome faz referência à história de um boneco de madeira que ganhou vida, também pode surgir como consequência da gelotofobia.

Neste artigo, você conhecerá outras particularidades curiosas da gelotofobia: como superar o medo de passar vergonha. Ou, como é mais comumente conhecido, o como o medo patológico de passar vergonha ou da risada dos outros. Quer saber seu significado, sintomas, causas e tratamento? Explicaremos tudo isso neste post de Psicologia-Online, então continue lendo!

O que é gelotofobia

A palavra gelotofobia deriva do termo grego gelos, que significa risada, juntamente com o termo phobos, indicando um medo patológico da risada alheia. Trata-se, então, de um fenômeno específico da vergonha. O significado de gelotofobia guarda, além disso, a condição de ser definida como o medo patológico de parecer como objeto de ridicularização diante dos agentes sociais, e o medo do ridículo é a principal preocupação dos gelotofóbicos.

Sintomas da gelotofobia

Se você se pergunta "Como saber se tenho gelotofobia?", atente-se aos seguintes sintomas mais característicos, os quais guardam um vínculo com os sintomas das fobias em nível geral:

  • Referências negativas a todas as situações que provoquem vergonha no sujeito.
  • Evitação excessiva e escape de tais estímulos.
  • Hiperventilação e palpitações.
  • Ansiedade intensa diante das estimações errôneas de ameaça, isto é, diante dos significados atribuídos ao estímulo e a resposta gerada pelo medo.
  • Aparição de outros transtornos derivados desta fobia.

Outros sintomas mais característicos e distintivos da gelotofobia ou do medo de ser ridicularizado poderiam ser:

  • Convicção de estar equivocado ou que há algo errado nele/a e que isto o/a faz parecer ridículo/a diante dos outros.
  • Convicção de ser estranho ou incomum para os outros.
  • Expectativa de ser objeto de risada por parte dos outros.
  • Percepção de defeitos próprios (sejam ou não reais).
  • Sentimento de inferioridade: baixa autoestima e baixas competências sociais.
  • Retraimento social para evitar agir deforma ridícula.
  • Aparição de frieza ou ausência de humor.
  • Alterações psicossomáticas como ruborização, cefaleias tensionais, tremores, tonturas e alterações do sono.
  • Síndrome de Pinóquio: rigidez, torpeza...
  • Carência de vitalidade espontânea, alegria.

Causas da gelotofobia

A causa não é unicamente um estressor ou uma vivência, ou a predisposição biológica do indivíduo, pois sempre teremos presente a interação entre genética e ambiente:

  • O sujeito que sofre de gelotofobia certamente tem uma vulnerabilidade biológica generalizada que, junto com o estresse que vivencia, criará uma sensação de alarme falso, que terminará convertendo-se em um alarme aprendido, gerando uma vulnerabilidade psicológica.
  • Esta vulnerabilidade é influenciada pelos aprendizados passados, sejam de forma direta ou vicária de outros alarmes reais. Este ciclo dá lugar à aparição de transtornos de ansiedade e fobias.
  • Como causa específica, podem se considerar as repetidas vivências traumáticas nas que se fez o ridículo (ou foi ridicularizado), durante a infância e/ou a adolescência. Neste sentido é muito importante a opinião vergonhosa de fazer o ridículo ou se sentir ridículo, que poderá se habituar (ou não) durante o processo da formação de identidade da criança ou do jovem, produzindo-se assim um estilo de vida defensivo que tende à evitação do ridículo.

Tratamento da gelotofobia

Como superar a gelotofobia? A chave para curar o medo da risada dos outros é a exposição repetida ao estímulo em concreto, e a geração de um novo aprendizado em que o estímulo temido se torna inofensivo.

Para começar o tratamento da gelotofobia, é importante adquirir habilidades de controle da ansiedade e relaxamento, assim como criar um entorno de segurança no marco de uma aliança terapêutica apropriada para poder continuar avançando. A partir daqui, como com todas as fobias, o melhor tratamento seria a terapia de exposição ou dessensibilização sistemática.

Terapia de exposição

Segundo Wolpe, a dessensibilização sistemática funciona por contra condicionamento, isto é, por associar ou gerar uma resposta oposta, como o relaxamento, que seria gerado de forma inicial, como medo e a ansiedade.

A terapia de exposição, a mais atual e usada, fundamenta-se na teoria bifatorial de Maurer e nos modelos de habituação e extinção. Sua eficácia para curar a gelotofobia reside em impedir que a evitação se converta em um sinal de segurança. Esta terapia pode ser desenvolvida de várias formas:

  • Ao vivo (gradual ou intensiva): expondo-se diretamente à situação que gera o medo irracional e provoca vergonha.
  • Simbólica: através de estímulos visuais ou auditivos associados ou através de realidade virtual.
  • Em grupo: aumentando assim o apoio social e a motivação e aderência à terapia.
  • Interoceptiva: provocando as sensações corporais próprias do momento de aparição do medo como a hiperventilação.

Outras terapias cognitivo-comportamentais

Por último, também se conhecem outras técnicas que funcionam com algumas fobias como a terapia narrativa e o processamento e dessensibilização por movimentos oculares (EMDR). Todas estas terapias mencionadas são englobadas na corrente cognitivo-comportamental da psicologia, da qual temos mais evidências científicas de sua eficácia.

Como sempre, a escolha do tratamento para a gelotofobia mais adequado dependerá de muitos fatores, pessoais, sociais e ambientais, que farão que funcione melhor um tipo ou outro. Seja qual for o tipo de tratamento escolhido, as chaves do sucesso para curar a gelotofobia são:

  • Que o terapeuta tenha conhecimento do modelo conceitual que aplica.
  • Que se tenha estabelecido uma boa relação terapêutica.
  • Que se transmita uma lógica consistente do tratamento.
  • Que se implantem de maneira efetiva as diferentes modalidades de exposição.

Consulte nossos posts sobre Terapia cognitiva comportamental: o que é e que técnicas usa e Terapia narrativa: o que é e quais técnicas utiliza - se quiser saber mais sobre estes tipo de terapias cognitivo-comportamentais .

Se você acredita que pode sofrer de geletofobia e nota que isto está interferindo em seu dia a dia, gerando mal-estar, é importante que procure um/a psicólogo/a que possa fazer os exames pertinentes e realizar o tratamento que melhor se ajuste a seu caso com a finalidade de superar a gelotofobia.

Este artigo é meramente informativo, aqui no Psicologia-Online não temos autorização para fazer um diagnóstico nem recomendar um tratamento. Te recomendamos ir a um psicólogo para que trate seu caso em particular.

Diagnóstico diferencial da gelotofobia

Para realizar um bom diagnóstico, é importante que diferenciemos a fobia específica, neste caso a gelotofobia, de outros transtornos de ansiedade e outras fobias como:

  • Agorafobia: a diferença é que os sintomas da agorafobia se apresentam em várias situações, desiguais, nas quais o sujeito se encontra em lugares fechados; ou aquelas situações são temidas ou evitadas devido a ter pensamentos sobre o desenvolvimento de alguns sintomas similares à crise de pânico ou outros sintomas incapacitantes ou humilhantes em situações nas quais seria difícil escapar ou onde não se poderia dispor de ajuda.
  • Transtorno de ansiedade social: para diferenciá-la, é importante remarcar que se tem medo de fazer o ridículo devido a coisas que eles pensam que causam vergonha, não ao medo de uma avaliação social negativa global.
  • Transtorno de ansiedade por separação: neste caso a situação temida se dá pela separação do cuidado ou figura de apego.
  • Transtorno de pânico: se as crises de pânico se produzem unicamente na presença do objeto ou a situação temida, então se diagnosticará fobia específica, enquanto que esta se generaliza e se produzem as crises de pânico de forma inesperada, se diagnosticará transtorno de pânico.
  • Transtorno obsessivo-compulsivo: para diferenciar o diagnóstico, deveremos conhecer se a causa, a origem do medo específico é consequência de ideias obsessivas.
  • Trauma e transtornos relacionados com estressantes: se a fobia se desenvolve depois de um evento traumático, como consequência de bullying, por exemplo. Será necessário também conhecer se os critérios TEPT são cumpridos.
  • Transtornos do espectro da esquizofrenia e outros transtornos psicóticos: quando o medo e a evitação se devem a ideias delirantes, não se diagnosticará a fobia específica.

Se você gostou deste artigo sobre a gelotofobia, o medo da ridicularização, te recomendamos ler mais posts sobre fobias, entre eles Como vencer a fobia social.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

Se pretende ler mais artigos parecidos a Gelotofobia: como superar o medo de passar vergonha, recomendamos que entre na nossa categoria de Psicologia clínica.

Bibliografia
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