Mãe narcisista: causas, características e consequências nos filhos

Mãe narcisista: causas, características e consequências nos filhos

Os distúrbios de personalidade ou transtornos de personalidade dão origem a uma série de comportamentos disfuncionais que causam mal-estar tanto na pessoa que sofre do transtorno quanto nas pessoas que estão ao seu redor. Mais especificamente, nossa personalidade ou "jeito e ser" influencia na criação de nossos filhos ao modular o comportamento que temos em relação a eles que, por sua vez, acabam tendo o próprio comportamento afetado por isso.

Um dos transtornos de personalidade é o transtorno narcisista, um distúrbio em que os pacientes apresentam problemas ligados aos vínculos emocionais com os demais, entre outros. Nesse sentido, pode-se ter a criação dos filhos afetada de forma severa. Continue lendo esse artigo de Psicologia-Online no qual nos centramos no tema mãe narcisista: causas, características e consequências nos filhos.

Transtorno de personalidade narcisista

O transtorno de personalidade narcisista está elencado nas classificações diagnósticas do DSM-5 da Associação Americana de Psiquiatria[1]e na CIE-11 da Organização Mundial de Saúde. Na classificação dos transtornos de personalidade, o transtorno narcisista está no grupo B, junto com o transtorno de personalidade histriônica e o transtorno de personalidade borderline.

Os pacientes, de acordo com Caballo, V.E., Salazar, I.C. e Irurtia, M.J. (2014)[3] apresentam os seguintes sintomas de transtorno de personalidade narcisista:

  • Ar de grandeza e superioridade;
  • Tratam os outros como objetos;
  • Não demonstram humildade ou generosidade;
  • São persistentes em conseguir o que os interessa;
  • Ausência total de empatia;
  • Acreditam que são especiais, únicos e superiores aos outros;
  • Têm necessidade de serem admirados;
  • Estilo de pensamento inflexível;
  • Raiva e inveja inapropriadas;
  • Relações superficiais, sem vínculo emocional;
  • Incapaz de impressionarem-se;
  • Oscilações extremas de humor.

Fatores que influenciam no transtorno de personalidade narcisista

Conforme Caballo V.E, Bautista, R. e López-Gollonet, C. (2004)[4], as experiências vividas são as que mais pesam no desenvolvimento do transtorno de personalidade narcisista, superando os fatores biológicos. Em relação ao transtorno de personalidade narcisista, Millon e Everly (1994; apud Caballo V.E et al., 2004) apontam os seguintes fatores ambientais que influenciam no desenvolvimento desse distúrbio:

  • Indulgência e supervalorização por parte dos pais: falta de responsabilidades em casa, falta de críticas e/ou correções.
  • Aprendizado de comportamentos exploradores: se fora do âmbito familiar o tratamento não for o mesmo, a mãe irá desenvolver habilidades de manipulação e exploração alheia para assim receber a atenção que julga ser merecedora. Aprendem também que os outros podem ser explorados.
  • Status de filho único: aparentemente esse fato poderia influenciar os outros, ainda que os resultados das pesquisas não sejam conclusivos.

Como diferentes fatores influenciam no transtorno de personalidade narcisista, nem sempre ele irá se manifestar da mesma maneira. Leia nossos artigos sobre o narcisista perverso e o narcisista dissimulado.

Como é uma mãe narcisista

Para ilustrar o comportamento de uma mãe narcisista, vamos usar a descrição do transtorno de personalidade narcisista anterior e adaptá-lo à maternidade. No entanto, como ocorre em todos os fenômenos psicológicos em geral e mães narcisistas e narcisismo em particular, partiremos do pressuposto que há uma variabilidade que marca as diferenças entre os casos.

A seguir, veremos quais são as características de uma mãe narcisista e exemplos:

  • Falta de empatia: no caso da maternidade, a mãe demonstrará dificuldades em entender seu/sua filho(a), seus problemas e também em exercitar a empatia.
  • Acreditam que são melhores que os outros: esse fato pode levá-las a se sentirem superiores aos próprios filhos ou até mesmo a percebê-los como uma extensão delas próprias, ensinando-os que também são superiores aos demais.
  • Necessidade de admiração: por tratar os outros como objetos e sentirem a necessidade de serem admiradas, podem usar dos filhos para alimentar seu narcisismo e receber atenção e elogios.
  • Estabelecem relações superficiais e sem vínculo emocional: no caso de mães narcisistas, essas características podem levá-las a manter relações frias e distantes com os filhos.

Consequências de ser filho de mãe narcisista

Se levarmos em conta todas essas características, não é nada surpreendente que o estilo de apego de uma mãe narcisista com seus filhos seja de um apego inseguro, isto é, um tipo de apego no qual a criança sofre de carências em seu cuidado.

Caso se estabeleça um apego inseguro-evitativo, a criança irá se distanciar dos pais na medida do possível e não contará com eles como figuras de referência/apego, tendo em vista que eles não contemplam suas necessidades, são inacessíveis e os rejeitam emocionalmente. Dessa forma, as consequências de ser filho de mãe narcisista serão as seguintes:

  • Buscaram evitar contato emocional;
  • Terão dificuldade para expressar e controlar suas emoções, bem como em entender as dos demais;
  • Irão se comportar como se os outros não importassem;
  • Terão dificuldades nos relacionamentos. Neste artigo você pode ler mais sobre carência afetiva: o que é, consequências e como curá-la;
  • Não buscarão consolo ou apoio frente à situações dolorosas - eles se fecharão em si mesmos;
  • Mostrarão ou buscarão certa autonomia.

Por outro lado, como indicamos, as mães narcisistas também podem ver seus filhos como extensões de si próprias. Dessa forma, é possível criar a hipótese de que a criança que seguir o padrão de comportamento da mãe também irá desenvolver uma personalidade narcisista. Lembramos que de acordo com as teorias sobre a origem do narcisismo, os fatores ambientais possuem forte influência no desenvolvimento do distúrbio.

Como lidar com uma mãe narcisista

Conforme as recomendações propostas por Olham e Morris (1995, apud Caballo V.E et al., 2004), para nos relacionarmos com uma pessoa narcisista devemos levar em conta diversos aspectos. Vejamos como lidar com uma mãe narcisista:

  • Devemos ser leais;
  • Não devemos criticar nem competir com o narcisista. Da mesma forma, não devemos esperar que compartilhem suas vitórias conosco;
  • O fato de sermos simpáticos ​​e até um pouco bajuladores pode ajudar a manter um relacionamento adequado com os narcisistas. Devemos ter em mente que a recíproca não se aplica;
  • Os parceiros de pessoas narcisistas deverão estar preparados para não serem alvos de gestos românticos da outra parte, e sim em se preocuparem em demonstrar continuamente afeto pelo narcisista;
  • O melhor jeito de fazer uma crítica é sendo diplomático e ir intercalando com expressões de admiração. Lembre-se que os narcisistas são muito sensíveis a críticas.
  • Devemos levar em conta que as mães narcisistas não irão admitir seus erros, ainda que possam corrigir seu comportamento.

Você pode conferir mais informações sobre o assunto no artigo sobre mães tóxicas.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSQUIATRIA (2014). DSM-5. Guía de consulta de los criterios diagnósticos del DSM-5-Breviario. Madrid: Editorial Médica Panamericana.
  2. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS) (2018) Clasificación Internacional de Enfermedades, 11.a revisión. Disponível em: <https://icd.who.int/es> Acesso em: 30 de julho de 2021.
  3. CABALLO, V.E., Salazar, I.C. y Irurtia, M.J. (2014). Trastornos de personalidad. En Caballo, V.E., Salazar, I.C. Y Carrobles, J.A. (2014) Manual de Psicopatología y Trastornos Psicológicos. Madrid. Pirámide.
  4. CABALLO, V.E, Bautista, R. y López-Gollonet, C. (2004). El trastorno narcisista de la personalidad. En Caballo, V.E. (Coord.), Manual de trastornos de la personalidad. Descripción, evaluación y tratamiento (PP.137-160). Madrid: Editorial Síntesis