Violência no casal

Masculinidade tóxica: o que é, significado e exemplos

 
Julia Latorre
Por Julia Latorre, Editora. Atualizado: 25 novembro 2020
Masculinidade tóxica: o que é, significado e exemplos

Você já ouviu a frase 'mostra que você é homem', ou que 'chorar é coisas de mulherzinha'? Apesar das discussões de gênero ressaltarem muitas vezes a violência sofrida por ser mulher, se identificar como homem pode inserir o indivíduo em uma lógica cruel que nem sempre é percebida.

A masculinidade tóxica afeta mulheres e homens de maneira diferente mas com um impacto igualmente negativo em suas vidas. Apesar de ser uma questão estrutural, ela tem recortes interseccionais e afeta tanto saúde mental, quanto física. Para esclarecer todas dúvidas relacionadas ao tema, neste artigo do Psicologia-Online explicamos o que é masculinidade tóxica: significado e exemplos para que se possa reconhecer e desenvolver o tema em debate.

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Índice

  1. Masculinidade hegemônica hétero-patriarcal é tóxica
  2. O que é masculinidade tóxica
  3. Como a masculinidade tóxica afeta homens e mulheres
  4. Masculinidade tóxica e psicologia

Masculinidade hegemônica hétero-patriarcal é tóxica

A masculinidade tóxica existe a partir daquilo de podemos chamar de masculinidade hegemônica hétero-patriarcal. Para que uma faça sentido, você precisa entender a outra.

Dentro do modelo de sociedade hétero-patriarcal em que vivemos, existe uma masculinidade dominante que é uma espécie de pacto invisível entre os homens. Isso não quer dizer que ao se identificar como homem uma pessoa assine esse pacto, mas sim que vivemos em uma sociedade que transmite esses valores a indivíduos. Quero dizer, a estrutura social impõe comportamentos, de acordo com os órgãos genitais.

De maneira simplista, o modelo de masculinidade hegemônica é sustentado por alguns pilares:

  • Hierarquia;
  • Superioridade;
  • Virilidade associada à ideia de violência;
  • Autossuficiência.

Ao mesmo tempo, existe uma tríplice negação invisível que afirma o que um homem não é, segundo a lógica da masculinidade hegemônica hétero-patriarcal:

  1. Mulher;
  2. Criança;
  3. Homossexual.

Masculinidades alternativas e interseccionalidade

Apesar do uso do termo 'masculinidade hegemônica', é sempre fundamental analisar cada situação sob um recorte interseccional e considerar componentes de raça, classe, gênero e pensamento decolonial. Quer dizer, não existe uma masculinidade hegemônica, existem várias. Ela tem os pilares em comum e são sempre dominantes, mas cada uma delas nasce de acordo com a sua realidade.

O que é masculinidade tóxica

A masculinidade tóxica é a pressão social, os efeitos colaterais e frustração diante daquilo que a masculinidade hegemônica patriarcal espera dos homens. Tem a ver com necessidade de aceitação e uma performance de gênero que não enxerga e não reflete sobre os seus próprios problemas.

Significado da masculinidade tóxica

Tal modelo de masculinidade imposto, apesar de privilegiar certos indivíduos, é incompatível com qualquer outro sistema que não seja o hetero-patriarcal. Esse conflito de interesses gera aquilo que chamamos de masculinidade tóxica ou masculinidade frágil.

Exemplos de masculinidade tóxica

Algumas ideias e clichês que ainda estão normalizadas em muitas esferas da sociedade e podem ser interpretadas como consequência dessa fragilidade masculina são:

  • 'Homens não choram, chorar é coisa de mulherzinha';
  • Falocentrismo: extrema importância e sobre-valorizaçao do órgão genital masculino e seu tamanho;
  • Cultura do estupro;
  • Ideia de dominação masculina e de assumir o controle;
  • Expectativas irreais de performance sexual baseada na pornografia;
  • A ideia de que homens não falam sobre sentimentos;
  • Designação de estéticas masculinas e femininas (meninos vestem azul, meninas vestem rosa);
  • Estímulo a uma competição exagerada desde cedo;
  • Imposição da ideia de que homens devem ser autossuficientes e não devem procurar ajuda;
  • Agressividade e brutalidade como ferramenta.

Como a masculinidade tóxica afeta homens e mulheres

A masculinidade tóxica afeta tanto aqueles que voluntariamente ou não a sigam, quanto quem já seja consciente e tente fugir disso, mas regularmente se encontre em situações que o façam se sentir mal por não seguir a lógica, diminuindo a autoestima e autoconfiança.

Além disso, é patológica em diferentes níveis: a começar pelo fato de que a expectativa de vida dos homens (Brasil: 73 anos para homens e 80 para mulheres, segundo levantamento do IBGE em 2019[1]) é mais baixa, enquanto a taxa de suicídio é mais alta, de acordo a agência Gênero e Número [2]. A repressão, desde a infância, a comportamentos que vão contra a lógica da masculinidade dominante também pode ser fator responsável para o desenvolvimento de traumas e feridas emocionais.

Além do fator estrutural determinante para questões de igualdade de gênero como a jornada dupla, violência doméstica e de gênero, assédio, dentre outras, as mulheres, por suas vez, também são afetadas desde cedo ao ter que lidar os papéis de gênero e um comportamento masculino opressor ou misógino.

Masculinidade tóxica e psicologia

A masculinidade tóxica já é reconhecida pela Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association) e tem um guia publicado exclusivamente voltado ao tema.[3] Segundo o guia, é importante que terapeutas reconheçam essa questão para que possam auxiliar homens e meninos diretamente afetados pela pressão da toxicidade masculina.

O guia também frisa a importância do terapeuta reconhecer questões interseccionais que possam envolver problemáticas relacionadas a raça, classe social, cultura e orientação sexual.

Como combater a masculinidade tóxica

Há quem diga que o primeiro machista que devemos combater é aquele que levamos dentro, masculinidade tóxica é sobre isso. Qualquer pessoa que tenha a esperança de viver em uma sociedade mais igualitária deve começar pela mudança em si mesmo, uma das mais difíceis. Uma educação de base com perspectiva de gênero também é fundamental para que as pessoas saibam identificar esses comportamentos sem normalizá-los e reproduzi-los, o que permite uma verdadeira liberdade de expressão.

Ser um homem não viril é um ato revolucionário. A masculinidade tóxica é uma questão social que deve ser combatida e nível estrutural. As consequências geradas por ela, no entanto, merecem acompanhamento profissional. Se você sofre com problemas relacionados à masculinidades tóxicas, estar acompanhado de um ou uma terapeuta que tenha alguma formação em relação ao tema pode ser o caminho mais certeiro. Converse com o/a seu ou sua terapeuta de confiança e explique a situação. Não há dúvidas de que você se sentirá melhor.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. ÍNDIO DO BRASI, Cristina. Agência Brasil. Expectativa de vida aumenta mais de três meses e chega a 76,3 anos. Disponível em: <https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2019-11/expectativa-de-vida-aumenta-mais-de-tres-meses-e-chega-763-anos>. Acesso em 20 de novembro de 2020.
  2. FERREIRA, Lola. Gênero Número. Por que mulheres tentam mais e homens são as principais vítimas de suicídio?. Disponível em: <http://www.generonumero.media/suicidio-violencia-autoprovocada-homens-mulheres/>. Acesso em 20 de novembro de 2020.
  3. APA. American Psychological Association. Guidelines for Psychological Practice with Girls and Women. Disponível em: <https://www.apa.org/practice/guidelines/girls-and-women/>. Acesso em 20 de novembro de 2020.
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