Psicologia clínica

O que é a depressão mascarada

 
Iván Piquero
Por Iván Piquero, Psicólogo. 21 junho 2021
O que é a depressão mascarada

Os transtornos psicológicos são categorias bem definidas e estudadas. A partir dessas categorias conhecemos dados importantes como o impacto que esses transtornos têm na população, suas causas, os tratamentos que funcionam melhor para um transtorno em particular, etc. Nas definições desses transtornos encontramos também, necessariamente, os sintomas que os compõem.

Por vezes, entretanto, os transtornos podem se manifestar de uma forma diferente da habitual, apresentando sintomas considerados atípicos para tais distúrbios. Um exemplo disso é o que se conhece como "depressão mascarada", uma forma atípica de depressão. Neste artigo de Psicologia-Online iremos desmistificar o que é a depressão mascarada, além de esclarecer quais são seus sintomas e o tratamento adequado.

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Índice

  1. O que é a depressão mascarada
  2. Causas da depressão mascarada
  3. Sintomas da depressão mascarada
  4. Tratamento da depressão mascarada

O que é a depressão mascarada

O dicionário psicológico da Associação Americana de Psiquiatria (APA)[1] define a depressão mascarada como a condição em que a pessoa experimenta um episódio depressivo grave e manifesta queixas físicas, como dores de cabeça ou dores nas costas, em vez de se referir a alterações de humor, mais comuns nesse distúrbio.

Por isso, a depressão mascarada também é chamada de depressão somática. Nesse outro artigo explicamos com profundidade o que é a somatização na psicologia. A depressão mascarada também é nomeada "depressão silenciosa".

Embora o paciente faça referência à queixas físicas, não se encontram causas biológicas para os tais sintomas. Ainda assim, o paciente não atribui seus sintomas à depressão, e sim a uma doença física. É, portanto, o próprio transtorno depressivo que provoca os sintomas físicos.

Trata-se de um tipo de manifestação depressiva que não é muito frequente na população. Segundo Shetty, P., Mane, A., Fulmali, S., & Uchit, G. (2018)[2], a depressão mascarada é responsável por 6% a 7% dos transtornos depressivos, e entre 30% e 40% dos pacientes buscam ajuda médica. Apesar disso, de acordo com uma pesquisa feita por Artiles Pérez, R. e López Chamón, S. (2009)[3], são justamente os sintomas somáticos que mais estão presentes nas consultas de atenção básica.

Em relação a esses dados, o fato da depressão se manifestar de forma atípica leva ao fenômeno ser subdiagnosticado e frequentemente confundido com outros problemas de saúde.

É importante deixar claro que a depressão mascara ou somática, por si só, não é um diagnóstico psicológico. Ela não está incluída nas classificações diagnósticas DSM-5 (APA) nem na classificação CIE-11 (da Organização Mundial da Saúde). Trata-se de uma forma de manifestação do transtorno depressivo grave, que é uma categoria de diagnóstico presente nos manuais de classificação supracitados, como indica o dicionário de psicologia da APA[4].

Causas da depressão mascarada

Artiles Pérez, R. e López Chamón, S. (2009)[3] apontam a importância da dor na depressão mascarada, já que se trata de um sintoma muito frequente nessa condição. No mesmo artigo, são propostas duas hipóteses que tentam abarcar o porquê de os pacientes sentirem dor sem uma causa física. Vejamos as causas da depressão mascarada:

  • Trata-se de um mecanismo fisiopatológico pelo qual o estado de humor debilitado amplifica as sensações somatossensoriais.
  • Seria desenvolvido um padrão de sintomas físicos frente à negativa de reconhecer um quadro depressivo.
  • Muitos pacientes com dores crônicas têm um quadro de transtorno depressivo, de forma que os sintomas de ambos seriam sobrepostos.
  • Os pacientes deprimidos também têm menor resistência à dor (devido a uma diminuição do limiar nociceptivo).
  • Os mecanismos fisiopatológicos e neurobiológicos da dor e da depressão compartilham traços em comum.

As teorias etiológicas relacionadas à depressão também podem nos ajudar a explicar a origem e o desenvolvimento desses quadros. Entre elas encontramos:

  • Teorias psicológicas como a teoria do desamparo aprendido ou a teoria cognitiva de Beck.
  • Teorias biológicas, entre as quais se destaca a hipótese monoaminérgica que sustenta a tese de um déficit de serotonina, dopamina e noradrenalina.

Sintomas da depressão mascarada

Como já apontamos, a depressão mascarada é subjacente ao transtorno depressivo, cujos sintomas típicos (listados no DSM-5) são os seguintes:

  • Estado de humor debilitado;
  • Perda ou diminuição do interesse em quase todas as atividades.
  • Perda ou aumento de peso.
  • Insônia ou hipersonia.
  • Agitação ou retardo neuropsicomotor.
  • Perda de energia.
  • Sentimento de inutilidade ou culpabilidade inapropriada/excessiva.
  • Diminuição da capacidade de raciocínio/concentração ou de tomar decisões.
  • Pensamentos recorrentes de morte ou ideações suicidas.

Como se manifesta a depressão silenciosa

Entretanto, esses sintomas típicos podem estar (ou não) presentes em maior ou menor grau nos casos de depressão mascarada ou somática. Como se manifesta a depressão silenciosa? Dentro dos sintomas atípicos, mas mais característicos desse tipo de depressão, podemos encontrar sintomas físicos. Os sintomas da depressão mascarada são:

  • Dores: de cabeça, nas costas, musculoesqueléticas, etc.
  • Enjoo
  • Dispneia: sensação de falta de ar.
  • Sintomas gastrointestinais: alterações no trato gastrointestinal.

Os autores também apontam alterações no sono, falta de energia, de apetite e diminuição da libido, ainda que esses sintomas também sejam frequentes na manifestação da depressão típica.

Tratamento da depressão mascarada

Se a causa subjacente dos sintomas corresponder a um transtorno depressivo, isso é que deverá ser tratado para atenuar os referidos sintomas. Ainda assim o caso deverá ser supervisionado por um médico para descartar a presença de uma causa orgânica para a dor (lembramos que é um sintoma característico da depressão mascarada) e oferecer um tratamento mais adequado para o paciente.

Focando-nos no tratamento da depressão, podemos contar com tratamentos tanto psicológicos como médicos e psiquiátricos bem estabelecidos.

De acordo com Carrobles, J.A. (2014)[5], o tratamento psiquiátrico consistiria em:

  • Administração de remédios antidepressivos;
  • Prescrição de estabilizadores de humor;
  • Terapia eletroconvulsiva;
  • Outras técnicas de estimulação cerebral, como a estimulação magnética transcraniana.

A terapia cognitivo-comportamental também oferece bons resultados para o tratamento da depressão. Para isso, o profissional pode usar diferentes formas de intervenção, como por exemplo:

  • Ativação comportamental ou programa de atividades agradáveis.
  • Terapia de solução de problemas.
  • Terapia cognitiva da depressão de Beck.
  • Teoria comportamental da depressão de Lewinsohn.

Além das terapias citadas, a terapia interpessoal também mostrou bons resultados no tratamento da depressão.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. ASOCIACIÓN PSIQUIÁTRICA AMERICANA (2014). DSM-5. Guía de consulta de los criterios diagnósticos del DSM-5-Breviario. Madrid: Editorial Médica Panamericana.
  2. SHETTY, P., Mane, A., Fulmali, S., & Uchit, G. (2018). Understanding masked depression: A Clinical scenario. Indian journal of psychiatry, 60(1), 97–102. https://doi.org/10.4103/psychiatry.IndianJPsychiatry_272_17
  3. ARTILES PÉREZ, R. y López Chamón, S. (2009) Síntomas Somáticos de la Depresión. Medicina de Familia. SEMERGEN. 35 (S1). 39-42
  4. ASOCIACIÓN AMERICANA DE PSIQUIATRÍA (2020). APA Dictionary of Psychology. Recuperado de https://dictionary.apa.org
  5. CARROBLES, J.A. (2014) Trastornos Depresivos. En Caballo, V.E., Salazar, I.C. Y Carrobles, J.A. (2014) Manual de Psicopatología y Trastornos Psicológicos. Madrid. Pirámide.

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