O que é borderline: causas, sintomas e tratamento do transtorno

O que é borderline: causas, sintomas e tratamento do transtorno

Se você conhece ou é uma dessas pessoas que leva tudo ao limite, que gosta de experimentar os limites a que sua personalidade pode chegar e os comportamentos e reações dos outros, talvez este artigo te interesse.

A personalidade borderline é um dos transtornos de personalidade que mais observamos em consultas, já que apesar de suas dificuldades e alterações, são os que mais pedem ajuda a profissionais pelo mal-estar que os sintomas geram. Então se você se interessa por este transtorno, acha que pode sofrer dele ou conhece alguém que possa se encaixar neste quadro, continue lendo! Neste artigo de Psicologia-Online, te explicamos com mais detalhes no que consiste o o que é borderline: causas, sintomas e tratamento do transtorno.

O é borderline: em que consiste o transtorno

Segundo o Manual diagnóstico e estatístico dos transtornos mentais (DSM-V)[1], o transtorno de personalidade borderline ou Transtorno Limite da Personalidade (TLP) se atribui àquelas pessoas que executam ações impulsivas com um estado de humor instável, mínima capacidade de planejamento e acessos de raiva com um mínimo controle de si mesmos.

Neste transtorno há um ponto de união entre a psicose e a neurose. O conceito de borderline do que deriva o limite começa a ser utilizado em pacientes que têm sintomatologia esquizofrênica, sem ser suficientemente invalidante e/ou perdurável. Alguns autores a consideram uma personalidade ponte entre a personalidade infantil ou primitiva e a imatura.

Sintomas do transtorno de personalidade borderline

Na hora de identificá-lo é importante conhecer as características do transtorno de personalidade borderline e quais comportamentos as pessoas que sofrem dele têm. Vejamos:

  • Medo intenso de serem abandonadas: poderiam estar relacionados com a intolerância de ficarem sozinhas e à necessidade de estarem acompanhadas de outras pessoas. Sensação de vazio.
  • Propensas a idealizar às pessoas que cuidam delas ou seus parceiros/as nas primeiras vezes que lidam com eles/as é comum que compartilhem detalhes muito íntimos de maneira rápida e exijam atenção para que fiquem a seu lado.
  • Mudanças dramáticas na opinião dos outros que costumam refletir desilusão e insatisfação porque não compreende nem satisfazem suas demandas, sentem que vão as rejeitar e que não estão dando atenção suficiente.
  • Falta de controle de impulsos e busca de sensações intensas.
  • Mudanças bruscas e dramáticas em sua autoimagem, opinião, planos para o futuro, identidade sexual, escala de valores e tipo de amizades que se dão por razão à percepção de falta de relações significativas de ajuda e apoio. Sentimento de não existência ou presença.
  • Podem praticar comportamentos de risco: controlar o dinheiro de forma irresponsável, esbanjar, abusar de substâncias, realizar sexo não seguro ou dirigir de forma perigosa.
  • Suicídio consumado entre 8-10%: as ameaças de suicídio e a automutilação também são muito frequentes.
  • Estado de humor básico de tipo disfórico: pode ser interrompido por períodos de raiva, angústia ou desespero. A raiva pode ser desencadeada quando consideram que um cuidador ou amante é negligente, repressor, despreocupado ou que os abandona. Vem seguida de pena e culpa.
  • Podem mostrar sarcasmo extremo, amargura persistente ou explosões verbais.
  • Podem aparecer sintomas como a ideação paranoide que remitem quando a atenção da pessoa retorna.
  • Mal rendimento profissional ou escolar, devido a sua instabilidade emocional, e se aborrecem com muita facilidade. Se ocorrer com você, te recomendamos ler este artigo sobre como ser mais produtivo no trabalho.

Causas do transtorno de personalidade borderline

Ao falar sobre os princípios da personalidade e dos transtornos associados, Millon, T.E., (1997)[2] destaca que a personalidade se desenvolve a partir da interação entre fatores genéticos e ambientais. Se levarmos isso em conta, as causas do transtorno de personalidade borderline são fruto do desequilíbrio dos sistemas que o formam, não sendo nem um nem outro determinante.

Além disso, também é importante apontar que a causa de um transtorno de personalidade independe do nível de educação e situação socioeconômica.

Tratamentos para transtorno de personalidade borderline

O transtorno de personalidade borderline é um dos transtornos da personalidade com maior número de pesquisas sobre os tratamentos eficazes.

Mesmo que existam muitas terapias que demonstraram eficácia, como a psicoterapia analítica em terapias focadas na transferência e na terapia de mentalização, os tratamentos que demonstraram maior eficácia para este tipo de transtorno são os da terapia cognitivo-comportamental, concretamente as duas terapias seguintes:

  • Terapia dialética comportamental de Marsh Linehan: baseada na solução de problemas, mudando o padrão básico de resposta, e o treinamento de habilidades sociais e emocionais.
  • Terapia de esquemas de Jefrey Young: baseada na existência de esquemas desadaptativos. É uma terapia integradora de diversos modelos.

A nível farmacológico, foi demonstrado um funcionamento eficaz em resposta a antidepressivos, antipsicóticos, ansiolíticos e eutimizantes. Além disso, alguns estabilizadores do estado de humor como o lítio, a carbamazepina, o ácido valproico e, alguns mais novos como o topiramato, lamotrigina ou pregabalina (lyrica), também são eficazes.

Outras terapias como a terapia eletroconvulsiva ou a lobotomia não mostraram efeitos significaticos nem favoráveis para o transtorno de personalidade borderline, diferente da estimulação magnética transcraniana, que aparece como alternativa à terapia eletroconvulsiva e parece ser útil para este transtorno e outros de personalidade do grupo C.

Diagnóstico diferencial do transtorno de personalidade borderline

O transtorno de personalidade borderline tem vários transtornos com os quais é diagnosticado de forma comórbida como a depressão ou o transtorno esquizoafetivo e outros transtornos de personalidade como os seguintes:

  • Do grupo B se codiagnostica junto ao transtorno histriônico de personalidade ou o transtorno de personalidade antissocial.
  • Do grupo C como o transtorno de personalidade dependente.
  • Inclusive pode ser diagnosticado junto a transtornos de personalidade do grupo A como a esquizotipia.

Para evitar confusão e os rótulos que ter vários diagnósticos implica, é importante fazer um bom diagnóstico diferencial e descartar outros transtornos. No caso do transtorno de personalidade borderline, será importante diferenciá-lo corretamente de outros transtornos de personalidade ou afetivos:

  • Diferenças com transtornos do estado de humor: se se manifestam ambos e os critérios diagnósticos são cumpridos para ambos os diagnósticos, assim se fará efetivo. Sempre evitaremos diagnosticar TLP se o problema não surgiu na adolescência ou na idade adulta.
  • Diferenças com o transtorno de personalidade histriônico (TPH): diferente do TPH, o TLP é mais autodestrutivo, gera rupturas de relações interpessoais e manifesta sentimentos crônicos de vazio e solidão.
  • Diferenças com o transtorno de personalidade esquizotípico (TPE): no TLP podemos observar a aparição de alucinações ou ideias paranoides passageiras e interpessoalmente são mais reativos em resposta a estruturas externas, diferente do TPE que não manifesta estes sinais.
  • Diferenças com o transtorno de personalidade paranoide (TPP) e o transtorno de personalidade narcisista (TPN): ambos transtornos (TPP e TPN), diferentemente do TLP, manifestam uma relativa estabilidade em sua autoimagem e carecem de comportamentos autodestrutivos, impulsividade ou preocupações pelo abandono.
  • Diferenças com o transtorno de personalidade antissocial (TPA): mesmo que ambos utilizem a manipulação, a finalidade é diferente. O objetivo dos pacientes com TLP é o de conseguir atenção e interesse, enquanto o dos pacientes com TPA é extrair algum benefício.
  • Diferenças com o transtorno de personalidade dependente (TPD): o TLP reage ao abandono com sentimentos de vazio, raiva e demanda de atenção, o que o leva a ter um padrão de relações intensas e instáveis. Por outro lado, o TPD após um término procura rapidamente um relacionamento que preencha a que foi finalizada e adota comportamentos de submissão em suas relações interpessoais.

Diferenças entre o borderline e o transtorno bipolar tipo II

As principais diferenças entre o transtorno bipolar tipo II e o transtorno de personalidade borderline são:

  • Início: o transtorno bipolar tem um início brusco com mudanças de humor espontâneas, enquanto o transtorno de personalidade borderline tem um início paulatino e as mudanças de humor são reativas.
  • Sintomas: no caso do TLP são sintomas dissociativos, podendo aparecer despersonalização, contradição do discurso, hiper-reatividade interpessoal, punição contra o outro e automutilação. No transtorno bipolar II aparecem sintomas psicóticos, taquicardias, reações a estímulos internos, sintomas depressivos matutinos, ideias de culpa e tentativas graves de suicídio, com frequente disfunção cognitiva.
  • Transtornos comórbidos: o TLP pode aparecer comórbido a transtornos da identidade sexual, enquanto o transtorno bipolar se associa mais a transtornos do desejo sexual.
  • Tratamento: o transtorno de personalidade borderline apresenta uma resposta farmacológica parcialmente boa aos antidepressivos e pobre ao lítio. Por outro lado, o transtorno bipolar II oferece boa resposta ao lítio e aos antidepressivos para as fases hipomaníacas.

Agora que você conhece o que é borderline, pode ser que você também queira saber em que consiste o transtorno bipolar, seus tipos e sintomas.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. American psychiatric association, (2014). Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales DSM – 5. Madrid, España. Editorial medica panamericana.
  2. Millon, T. E. (1997). The Millon inventories: Clinical and personality assessment. The Guilford Press.
Bibliografia
  • Belloch, A., Sandín, B., Ramos, F., (2009). Manual de psicopatología, volumen II. Madrid. McGraw Hill / Interamericana de España, S.A.U.