Psicologia clínica

O que é contratransferência na psicologia: tipos e exemplos

 
Sara Sanchis
Por Sara Sanchis, Psicóloga especializada em Crescimento Pessoal. 12 agosto 2021
O que é contratransferência na psicologia: tipos e exemplos

Nos processos terapêuticos existem muitos fenômenos que, a nível inconsciente, influenciam e dirigem o processo condicionado. Se tais fenômenos não são abordados convenientemente, pode ser que a terapia não produza os efeitos desejados sobre o paciente. A contratransferência supõe um dos efeitos que, entre outros, podem desviar o adequado desenvolvimento do processo terapêutico.

Neste artigo de Psicologia-Online, falaremos sobre o que é a contratransferência na psicologia, comparando-a com o mais conhecido termo de transferência, exporemos os efeitos que possui sobre o processo terapêutico e abordaremos a necessidade de incorporar a própria autoanálise do terapeuta como processo indispensável para conseguir bons resultados em seu trabalho psicoterapêutico.

Índice

  1. O que é contratransferência
  2. Tipos de contratransferência
  3. Exemplos de contratransferência
  4. Como trabalhar a contratransferência no processo terapêutico

O que é contratransferência

Para entender o que é contratransferência na psicologia, primeiro é necessário dar ênfase no que é a transferência, um fenômeno que surgiu com Freud e a psicanálise.

Objetivamente, a transferência se refere a um processo psicológico, que geralmente ocorre em todo tipo de relações humanas, mediante o qual uma pessoa revive afetos ou emoções de vínculos primários com pessoas diferentes em suas relações atuais. Este processo é inconsciente na maior parte dos casos e rege boa parte de nossos comportamentos e relações interpessoais.

Dentro do processo terapêutico, a transferência surge quando o paciente revive diante do terapeuta relações primárias com pessoas que deixaram uma marca importante em seu passado. É assim que o paciente transfere sobre o terapeuta relações e afetos vividos anteriormente com figuras importantes para ele, principalmente seus progenitores.

Significado de contratransferência

A contratransferência na psicologia supõe um fenômeno enquadrado exclusivamente dentro do enfoque terapêutico, já que faz referência aos processos inconscientes de transferência que o próprio terapeuta emite sobre seu paciente. Seria possível dizer que seu nome se deve ao processo contrário e esperável da transferência do processo terapêutico. Neste caso, é o terapeuta quem transfere suas emoções inconscientes sobre o paciente.

Para Freud, ambos processos são inevitáveis, pois são a manifestação inconsciente de nossas emoções reprimidas. A diferença entre ambos conceitos está no fato de que a transferência é usada pelo terapeuta como ferramenta útil dentro do processo terapêutico para trabalhar estes sentimentos com o paciente. A contratransferência, por sua parte, deve ser elaborada necessariamente pelo próprio terapeuta mediante sua própria e continuada análise para evitar que interfira negativamente na terapia.

Tipos de contratransferência

A contratransferência pode ter dois efeitos principais sobre o processo da terapia. Vejamos quais são os tipos de contratransferência e suas consequências:

  • Contratransferência inconsciente: pode interferir sobre o adequado progresso do paciente de diferentes maneiras. Por um lado, as interpretações que o terapeuta devolve ao paciente podem ser errôneas ao não estar relacionadas exatamente com a realidade do paciente. Por outro lado, certos sentimentos positivos além da relação terapêutica podem complicar a relação clínica e as emoções negativas para o paciente podem piorar sua situação pessoal atual, etc.
  • Contratransferência consciente: são produzidos, principalmente, dois benefícios como consequência deste processo de introspecção pessoal. Primeiramente, evita os efeitos negativos que se derivam da não tomada de consciência deste processo de contratransferência e reconduz adequadamente o processo. Além disso, também gera crescimento como resultado deste novo passo de conhecimento pessoal e, consequentemente, melhora seu conhecimento e experiência como psicoterapeuta.

Exemplos de contratransferência

Agora que já vimos as consequências da contratransferência sobre o processo terapêutico, a seguir, vamos expor exemplos de contratransferência conforme as duas classificações nomeadas anteriormente.

Contratransferência inconsciente

Por um lado, um exemplo da contratransferência inconsciente poderia ser quando o terapeuta transfere sobre seu paciente sentimento de rejeição. Se quando ocorrer ele/a não ter consciência disso, de maneira inconsciente, suas interpretações das diferentes situações que o paciente expor durante a terapia serão carregadas de certos graus de menosprezo, rejeição, oposição, etc.

Contratransferência consciente

Se falamos de exemplos de contratransferência consciente, neste caso, o terapeuta transfere igualmente este sentimento de rejeição sobre seu paciente, mas toma consciência disso e indaga em seu interior sobre o significado e procedência do mesmo. Após entender sua reação inconsciente diante de seu paciente, devido a reações inconscientes próprias cuja origem remonta à sua própria infância, escolhe resolver este assunto não terminado e concluí-lo.

A partir daqui este aspecto já não surge em seu processo com o paciente ou, se surge, é abordado e afastado convenientemente. Deste modo, o terapeuta escuta e empatiza de maneira mais pura e autêntica com a experiência narrada pelo paciente.

Como trabalhar a contratransferência no processo terapêutico

Como foi comentado no tópico anterior, os processos de contratransferência se dão de maneira inevitável em qualquer processo terapêutico tanto que os psicoterapeutas, da mesma forma que o restante das pessoas, são condicionados por elementos primários inconscientes derivados de suas vivências infantis.

Diante disso, tal como defendem as terapias psicodinâmicas e humanistas, é imprescindível incorporar o processo de autoanálise do psicoterapeuta como parte do processo de terapia se o objetivo for conseguir bons resultados com os pacientes atendidos.

No caso contrário, como foi exemplificado no tópico anterior, as próprias carências e reações emocionais inconscientes do terapeuta provocarão interferências no correto e adequado desenvolvimento da terapia.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • CASTANEDO SECADAS, C. (2008). Seis enfoques psicoterapéuticos. Manual moderno. México.
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