O que é culpa na psicologia

O que é culpa na psicologia

De origem latina, a palavra culpa é um termo de uso comum e habitual nas conversas informais, especialmente nos contextos mais privados, amigáveis ou familiares. Entretanto, qualquer que seja a ideia por trás do uso dessa palavra, a comum "gramática da culpa" parece se referir, em todo caso, à necessidade individual (ou ao dever moral) de acusar alguém (incluindo nós mesmos) de alguma coisa.

Todas as interpretações possíveis da culpa são atribuídas a duas grandes categorias interpretativas: o erro ou o pecado. Neste artigo de Psicologia-Online vamos ver o que é culpa na psicologia, quais são seus sintomas e como lidar com o sentimento de culpa.

O que é culpa?

A culpa é uma emoção secundária, isto é, uma emoção complexa, autorreflexiva e específica dos seres humanos. É uma reação emocional que nos alerta de que "algo está errado" em nosso comportamento. Trata-se de uma reação emocional à convicção ou conhecimento (pensamento) de ser responsável por algo (uma decisão, um comportamento, uma omissão, um dano e assim sucessivamente) e, por isso, o indivíduo é acometido de culpa.

Sintomas do sentimento de culpa

Para alguns, o sentimento de culpa é uma sensação vaga, porém contínua: sentem-se inadequados e têm uma sensação de vazio, embora não saibam exatamente o que falta; também se sentem intimidados, inseguros, assustados e acabam por se isolar em casa ou mantém contato com poucas pessoas selecionadas. Para outros, por outro lado, a culpa se manifesta de formas mais explícitas: são os que exageram, se inflamam e se sentem atacados por nada, rugindo como feras para logo, momentos depois, se arrependerem, se sentirem "repugnantes", se perguntarem o que os outros vão pensar e tentar se refugiar ou, pior ainda, provocar tentativas tortuosas de "manterem seu ponto" que eles mesmos sabem que está errado.

A culpa na psicanálise

O sentimento de culpa apresenta alguns sintomas, segundo a psicanálise. Nesse contexto não se fala da culpa como sentimento de culpa, isto é, a emoção que se segue após a violação de um preceito. O sentimento de culpa pode ser consciente ou inconsciente e, em ambos os casos deriva, segundo Freud, dos conflitos entre o superego e os desejos sexuais e agressivos infantis, conflito esse é que uma representação interiorizada e uma perpetuação dos conflitos entre a criança e seus pais.

Se, como se supõe, o superego retira sua energia da própria agressividade da criança, o sentimento de culpa é diretamente influenciado pelo grau em que o indivíduo expressa seus sentimentos agressivos, voltando-os contra si mesmo como uma condenação moral. O sentimento de culpa inconsciente está na raiz das atitudes masoquistas, da propensão aos acidentes, do comportamento delitivo, enfim, as ações nas quais parece que o sujeito age para causar sofrimento ou castigos a si mesmo, ou, "como se — afirma Freud — sentisse um alívio poder ligar esse sentimento inconsciente de culpa a algo real e atual".

Tipos de culpa

Vejamos os quatro tipos de sentimento de culpa:

  • Sentimento de culpa reflexivo. Está ligado à avaliação cognitiva de que o ego não está à altura dos valores que a pessoa aderiu e internalizou. Na culpa reflexiva não há uma preocupação somente com as consequências das próprias ações, nem só empatia para com o outro pelos danos causados. É um tipo de culpa que pressupõe a existência de capacidades cognitivas e introspectivas por parte do indivíduo: uma emoção que poderíamos dizer construtiva e não destrutiva, que inclui em si uma orientação para os demais.
  • Sentimento de culpa irracional. Pode ser tanto consciente quanto inconsciente. No primeiro caso, a pessoa consegue focar em uma ou mais ações realizadas e imaginar ter decepcionado o outro ou ter prejudicado, de alguma maneira, a relação com esse terceiro. No caso da culpa inconsciente, a pessoa pode se sentir culpada e pensar que é alguém infame, sem saber exatamente o porquê.
  • Sentimento de culpa patológico. Está ligado a uma culpa irracional que carrega consigo uma angústia que toma conta do sujeito. É um sentimento de culpa neurótico, imediato e destrutivo. A autocrítica individual é desencadeada na pessoa pela convicção de não ter correspondido às expectativas alheias, e não porque ela agiu contra seus ideais pessoais. O sentimento de culpa irracional não tem nada a ver com o crescimento moral do indivíduo e não o impulsiona a amadurecer até o "ego ideal"; além disso, nessas circunstâncias, muitas vezes podemos observar vir à superfície a ansiedade generalizada, o sentimento de desamparo ou mesmo desespero.
  • Sentimento de "culpa" saudável. É uma emoção moral útil também para o desenvolvimento social do indivíduo, que assim se dá conta de seus próprios fracassos e responsabilidades. O sentimento de culpa "puro" (ou seja, sem estar "misturado" com vergonha ou outros sentimentos vividos) leva a muitos comportamentos construtivos de redenção, impulsionando de forma proativa o amadurecimento do indivíduo até o atingir o "ego ideal". Essa emoção pode ajudar o indivíduo a ter comportamentos futuros mais alinhados com a moral, além de se proteger de possíveis transgressões, corrigir-se (se cometeu um erro) e assumir suas responsabilidades.

Por que surge o sentimento de culpa?

É possível ter um sentimento de culpa sem motivo? Ou o mais correto é que, às vezes, é difícil para nós identificarmos as causas? O estado de culpa e a emoção de se sentir responsável por algo são suas coisas muito diferentes. Podemos falar de culpa objetiva quando, ao violar uma regra de conduta, a pessoa está num estado de culpa.

Por exemplo, um empregado que furta um objeto do escritório onde trabalha: romper uma norma de conduta, conhecida ou não pelo indivíduo, o coloca numa situação "objetiva" de culpa. Entretanto, a pessoa que cometeu o furto pode não sentir nada desagradável, ou seja, não sentir "culpa", apesar de ter rompido uma regra de conduta. Cometer um erro ou roubar algo de alguém pode não alterar minimamente equilíbrio emocional do indivíduo: dessa forma, ele pode então cometer um erro sem provar sua emoção relativa, a culpa.

No entanto, podemos observar duas situações paradoxais:

  1. A pessoa experimenta o sentimento de culpa em sua ausência (por exemplo, pensando erroneamente que agiu contra alguma regra ou lei, ou que causou algum dano, etc.);
  2. A pessoa pode não sentir culpa apesar de ter uma culpa objetiva.

Como todo sentimento, a culpa tem origem a função de auxiliar na interpretação da realidade com base em crenças sobre si mesmo e sobre o mundo.

Como superar o sentimento de culpa?

Um dos fatores que mais afeta a autoestima é a culpa. Tendo visto a origem e os sintomas causados por esse sentimento, vamos ver como trabalhar a culpa na psicologia. Algumas sugestões úteis para abordar e lidar com a culpa são:

  • Perdão. Nesse artigo falamos de forma aprofundada sobre como se perdoar.
  • Autocompaixão. Dizer a nós mesmos que fizemos o nosso melhor.
  • Compreensão do contexto. Considerar que, no momento do comportamento incorreto, não tínhamos o mesmo entendimento de hoje.
  • Aceitação. Aceitar que somos humanos.
  • Importância da linguagem. Chamar a culpa de "responsabilidade".
  • Importância do presente. Ter consciência de que não se pode mudar o passado.
  • Diferenciar o que depende de você e o que não depende. Somos responsáveis somente por nós mesmos, não pelas ações nem emoções dos demais.
  • Revisão de autocobranças. Perguntar a nós mesmos se nossos padrões de comportamento são adequados ou excessivamente elevados.
  • Revisão de crenças e expectativas. Reconsiderar nosso sistema de valores, regras e expectativas.
  • Opinião alheia. Aprender a tolerar a decepção e a desaprovação dos demais.
  • Dignidade intrínseca. Prevenir toda a culpa construindo a ideia de "ser digno".

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • CALVIO, A. (2019). 7 passi per superare il senso di colpa. Disponível em: <https://www.psicologiaperugia.it/approfondimenti/7-passi-per-superare-il-senso-di-colpa/> Acesso em: 05 de outubro de 2021.
  • CANTELMI, T., Costantini, B. (2016). Amare non è soltanto un sentimento. Psicologia delle emozioni e dei comportamenti morali. Milán: Franco Angeli.
  • PASTORE, T. (2010). Colpa vendetta perdono. Educazione affettiva e formazione dell’uomo. Roma: Armando Editore.
  • SACCÀ, F. (2021). Come riconoscere e superare il senso di colpa indotto da un narcisista patologico. Tricase: Youcanprint.
  • RIZA (2016). Così i sensi di colpa scompaiono. Disponível em: <https://www.riza.it/psicologia/tu/5253/cosi-i-sensi-di-colpa-scompaiono.html> Acesso em: 05 de outubro de 2021.