O que é psicanálise

O que é psicanálise

A psicanálise é uma das teorias mais populares no estudo da mente humana e no tratamento das condições emocionais, uma teoria que foi muito criticada, da mesma forma que seu autor, Sigmund Freud, por seu estudo e interesse na estruturação da psique, do desenvolvimento psicossexual e na análise profunda da influência moral na saúde do ser humano. É por isso que neste artigo de Psicologia-Online explicamos o que é psicanálise, quais são seus métodos de tratamento, sua história e alguns dos autores mais reconhecidos em seu estudo.

Definição de psicanálise na psicologia

A psicanálise é uma teoria a mente humana que serve para compreender o inconsciente, uma prática terapêutica para problemas de humor, um instrumento de pesquisa e uma profissão. Ao mesmo tempo, poderíamos dizer que é um fenômeno intelectual, sociológico e médico muito complexo.

A psicanálise foi muito criticada por sua proposta sobre a existência do inconsciente e a implicação psicossexual no comportamento humano. Sigmund Freud, o médico neurologista precursor da psicanálise, propôs que o comportamento e a personalidade humana procedem de uma interação constante de forças psicológicas que operam em diferentes níveis de consciência: inconsciente, pré-consciente e consciente.

Apesar de que por vários anos a psicanálise, assim como seu autor, foi apontada como inoperante ou ineficaz por seus próprios discípulos e por outros profissionais de saúde, conseguiu sustentar e conservar seu caráter imprescindível na saúde mental, na investigação social e na medicina (sobretudo em todos os sintomas físicos idiopáticos).

A psicanálise se propõe à investigação e ao tratamento de conflitos emocionais sob uma perspectiva dos primeiros anos de vida (infância) da pessoa, assim como os atos falhos, a associação livre e a interpretação dos sonhos.

História da psicanálise

A carreira científica do neurologista Sigmund Freud inicia em uma época de declínio para a filosofia natural, a qual concebia o universo como um organismo constituído de forças e movimentos em perpétua contradição. Um princípio da visão metafísica da realidade era a conhecida lei das polaridades, que propunha a existência de forças antiéticas como o calor e o frio, a noite e o dia, o sono e a vigília.

Freud mostrou então um grande entusiasmo pela filosofia da natureza, e seu desejo por estudar medicina foi determinado ao escutar a conferência de Carl Brühl sobre a anatomia comparada, onde também teve a oportunidade de ler um fragmento da Natureza do teólogo C. Tobler. Isto ocorreu em 1873, antes que Freud terminasse o ensino médio.

Josef Breuer aparece profundamente associado à fase inicial da psicanálise em razão de sua colaboração com Sigmund Freud na pesquisa da histeria, por esta mesma razão seu nome é eludido como símbolo de um notável investigador.

A palavra como método de tratamento no início da psicanálise

Não se pode esconder que o determinismo e o mecanismo da escola de Helmholtz tiveram uma constante e permanente influência sobre as teorias psicológicas de Freud, tanto em sua fase pré-psicanalítica, como em toda sua trajetória. Esta influência é evidente nas pesquisas que realizou com Breuer.

Josef e Sigmund se conheceram no final de 1870, e entre 1882 e 1885 formaram uma amizade bastante próxima, na qual compartilharam diversos interesses científicos em comum. Em 1890, devido a situação econômica que atravessava e devido à resistência de que os judeus ocupassem posições importantes na academia, Freud se retirou da carreira acadêmica, dedicando-se daí em diante à carreira de médico assalariado da fisiologia do cérebro e a neurologia na prestigiosa clínica do Dr. Theodor Meynert.

É ali onde Freud se especializa nas doenças do sistema nervoso e em sua prática no tratamento de pacientes com doenças mentais. Começou a se interessar e a se dedicar cada vez mais ao estudo destes fenômenos, sobretudo nos sintomas de histeria. Aqui é onde descobre que a palavra está entre os princípios fundamenteis para chegar ao inconsciente e assim conseguir uma cura para aliviar o mal-estar de seus pacientes (crenças, fantasias, recordações, conflitos, pensamentos, ideais, desejos, sentimentos e propósitos). Quanto mais penetrava nas profundezas da psique do paciente, mais se aproximava à origem de seus problemas.

Desta maneira, através de suas interpretações Freud ajudava a colocar em palavras o que estava em seu inconsciente partindo da seguinte hipótese: tudo o que se vive na infância deixa marcas profundas, ficando guardadas em nosso inconsciente sem que nos demos conta e assim determina nosso comportamento na idade adulta.

Quando o paciente se dá conta de quais são as origens de seus conflitos, pode começar a mudar as ideias sobre si mesmo.

Primeiras influências de Sigmund Freud

Freud recebe uma bolsa para estudar em Paris com o famoso neurologista Jean Martín Charcot. O neurologista francês mais influente da época deu importância de interesse científico aos sintomas histéricos que até então haviam sido consideradas produtos de simulação. Charcot afirmava que a histeria era resultado de uma degeneração hereditária do cérebro e para isto utilizava métodos de hipnose em seu tratamento. Também demonstrou que os sintomas histéricos podiam ser provocamos e eliminados pela sugestão hipnótica, com o que conseguiu estabelecer uma natureza relativa aos fatores neurológicos causais.

Nessa época, qualquer sintoma que não pudesse ser explicado se atribuía a algum tipo de histeria e, pelo fato de não ter cura aparente, os médicos recomendavam eletroterapia, massagens, banhos termais ou repouso. Aqui também é onde Freud propõe que a neurose é um transtorno da personalidade e não uma doença do sistema nervoso, sendo assim, a neurose, para Freud, surgia de conflitos, situações não resolvidas ou frustrações e se manifesta em nossos comportamentos.

O conhecimento de Charcot intensificou o interesse de Sigmund Freud pelos fenômenos histéricos, mas também o decepcionaram ao se dar conta que Charcot não tinha nenhum interesse no estudo dos mecanismos psicológicos subjacentes aos sintomas.

Em 1882, Breuer e Freud conheceram uma variante do método hipnótico. Charcot e Liébault usavam a hipnose para trazer à consciência conteúdo psíquico que até então estava inacessível. Breuer e, em seguida, Freud, usaram a hipnose para interrogar o sujeito enfermo sobre a história do surgimento de seu sintoma, a qual não podia comunicar completamente em seu estado de vigília. Desde então, se evidenciou o interesse de Sigmund por se dirigir à estruturação central de suas intervenções terapêuticas: a elaboração da história vital do sujeito.

Em 1886, Freud volta da França para Viena e se reencontra com Breuer, que conta que tratou de um caso de histeria hipnotizando uma paciente, Berta Pappenhem (Anna O), uma jovem com as pernas e os braços paralisados, se sentia mal, tossia e não entendia quando falavam com ela. Freud prefere não hipnotizá-la e deixá-la falar o que vinha à mente (fantasias, sonhos, recordações que se associavam livremente) e ao terminar o relato, Anna O se sentiu aliviada, através da palavra começa seu processo de cura - a associação livre.

O início das teorias da associação livre, a interpretação dos sonhos e o desenvolvimento psicossexual

Freud descobre que a associação livre não é a única forma de chegar ao inconsciente, mas que os sonhos também expressam desejos não manifestos. Foi quando, em 1896, escreveu seu livro "Interpretação dos sonhos". Neste estudo também explica que através dos sonhos também é possível abordar situações enraizadas no inconsciente.

Em 1905 Freud publicou suas pesquisas em três ensaios de teoria sexual. Aqui vincula o prazer com a sublimação; os desejos sexuais são impulsos que buscam os primeiros prazeres que tivemos. É por este motivo que Freud separa o genital do sexual (homens e mulheres obtêm prazer sexual não apenas da estimulação da zona genital, pois todas as superfícies do corpo são erógenas).

Etapas no desenvolvimento psicossexual

Freud propôs que as pessoas satisfazem parcialmente esses desejos na vida sexual e nos sonhos, e é assim que distingue três fases do desenvolvimento psicossexual:

  1. A etapa oral onde a maior satisfação do bebê é proporcionada pelo alimento, portanto o prazer é obtido ao mamar, mas quando a mãe para de dar o peito, o bebê sente desconforto.
  2. A etapa anal: na segunda etapa o bebê sente prazer ao soltar e reter.
  3. A etapa fálica, ou etapa três, surge aos três ou quatro anos, quando a criança descobre que colocando as mãos na zona genital obtém prazer e começa a curiosidade, angústia e confusão que a diferença da anatomia sexual do menino e da menina provocam. Freud propõe então que é até os 5 e 6 anos que a criança entra na fase do complexo de Édipo (os sentimentos do menino pela mãe e da menina pelo pai entram em cena) sentindo amor e ciúmes, rivalidades e dependência. Estes sentimentos, propõe Freud, que influenciarão na formação de seu caráter, seu individualismo e sua orientação sexual.

A estrutura da mente

Durante a primeira guerra mundial Sigmund Freud continuou procurando respostas a um conflito neurótico de base: o que desejamos vs. o que fazemos. É aqui onde Freud propõe que todos nossos comportamentos estavam a serviço de reduzir esta tensão (elevação de energia psíquica), postulando por sua vez o modelo da psique:

  • O id: impulsos primários.
  • O ego: atua como guia diante da realidade, inibidor de impulsos inconscientes que é o que constitui um mecanismo de defesa.
  • O superego: é o olhar dos pais por cima do próprio.

Também durante a primeira guerra mundial, Freud expôs a diferença entre moral e consciência moral: demonstrou assim que sua teoria também podia ser aplicada no comportamento da sociedade. Freud disse que a moralidade tinha uma carga superegóica (uma imposição) e que a consciência moral tinha raízes na parte reprimida da sociedade.

Autores da psicanálise

Para compreender a psicanálise é fundamental conhecer seus principais representantes.

1. Sigmund Freud (1859-1939)

Neurologista austríaco de origem judia, precursor da psicanálise. Estudou em Paris, com o famoso e renomado neurologista Jean Charcot, o uso da hipnose como tratamento da histeria. Ao voltar à Viena, com apoio de seu velho amigo Josef Breuer, desenvolveram o método catártico. Através de pesquisas posteriores, foi substituindo o uso da sugestão hipnótica (catarse) pela associação livre e a interpretação dos sonhos.

2. Carl Jung (1875-1961)

Psiquiatra e psicólogo colaborador e discípulo de Sigmund Freud. Fundador da psicologia profunda; sua teoria se interessa pela relação funcional entre a psique e seus produtos (sua cultura). Logo se inclina ao uso da metodologia de origem antropológica, filosófica, religiosa, interpretação de sonhos, arte e alquimia.

3. Alfred Adler (1870-1937)

Psicoterapeuta austríaco, colaborador e discípulo de Sigmund Freud, mas, igualmente Jung se separa dele e de sua teoria por não concordar com alguns pontos. Fundador da escola de psicologia individual. Suas principais teorias são: o complexo de inferioridade e superioridade. Além disso, Adler também foi educador de conhecidos pensadores e terapeutas, mesmo que eles também tenham se separado de sua teoria: Viktor Frankl e Rudolf Allers. Exerceu uma grande influência em grandes neopsicanalistas como Erich Fromm, Gordon Allport, Karen Horney e Albert Ellis.

4. Melanie Klein (1882-1960)

Psicanalista austríaca, contribuiu com grandes ideias sobre desenvolvimento infantil por uma perspectiva psicanalítica.

5. Jacques Lacan (1901-1981)

Psiquiatra e psicanalista francês, baseou suas teorias na análise da leitura de Freud, agregando elementos à psicanálise como a filosofia, linguística estrutural e o estruturalismo. Lacan foi considerado como o retorno a Freud, ao mesmo tempo como alguém que reinterpretou os conceitos Freudianos. Se opôs a muitos preceitos da Associação Psicanalítica Internacional (como a rejeição de sessões tão extensas e diárias dos psicanalistas ortodoxos, propondo sessões mais breves), mas também apontou que vários psicanalistas de sua época alteraram, distorceram ou parcializaram a teoria de Freud. Uma de suas contribuições mais importantes foi o inconsciente como linguagem.

Técnicas da psicanálise

Das leituras de Freud, é possível dizer que não existem técnicas psicanalíticas, pois ninguém pode ensinar alguém a analisar ou a escutar. Freud ao longo de toda sua teoria fala de técnicas, mas apenas expõe uma como base da psicanálise: a associação livre, diferentemente de outras teorias (por exemplo a técnica da cadeira vazia, a troca de papéis, induções imaginárias).

A associação livre consiste em o analisado expressar nas sessões, todas suas ideias, todas suas ocorrências, imagens, emoções, recordações, sentimentos e pensamentos tal como surgiram, sem selecioná-los nem os estruturar, mesmo que pareçam sem sentido, incoerentes ou de pouco interesse.

Base teórica da associação livre

Freud expõe então a associação livre como a regra fundamental da operação psicanalítica, com isto compreendemos, tal como propõe Juan Manuel Martínez (2020), que há uma estrita relação entre a teoria e a prática; há certos elementos teóricos para que Freud proponha a associação livre como regra fundamental. No modelo Freudiano aqueles aspectos ou vivências que são muito desagradáveis para o sistema são reprimidas, isto é, se faz um esforço para removê-las e isto as converte rapidamente em conteúdo reprimido e, portanto, dinamicamente inconscientes.

Com isto queremos dizer que se nós quiséssemos acessar certas recordações, não poderíamos fazê-lo, já que estão inacessíveis para a consciência. Assim, Freud propõe que como a informação sintomática compõe do retorno de tudo que está reprimido, o método clínico psicanalítico teria que ser uma forma de lembrar isso de uma maneira diferente que a repetição sintomática "lembrar-repetir e reelaborar", já que há uma clara oposição entre recordar e repetir: quando a cena reprimida é colocada em palavras, já não se repete sintomaticamente, e é para o enfoque psicanalítico a cura.

Função da associação livre

Freud pensava que as forças dinâmicas que compõem o aparato psíquico (o inconsciente sempre está lutando ou empurrando para sair e a defesa sempre empurra em um sentido contrário para evitar que saia). Então o método de associação livre tem por função tratar de diminuir a defesa e permitir que esse conteúdo inconsciente saia.

Aplicação da associação livre

No livro de Psicopatologia da vida cotidiana de Freud, se propõe que existem certas formações de compromisso que permitem que esse conteúdo inconsciente saia (por exemplo piada, lapso, ato falho, sintoma e sonho). O que faz a associação livre é favorecer que haja um controle menor por falta da defesa sobre o que está dizendo e que aflorem conteúdos inconscientes. Assim dizendo tudo o que nos vem à mente, vamos conseguir que de alguma maneira ou em algum momento algo desse conteúdo inconsciente saia e será tarefa do psicanalista partir daí e reconduzir esse material até a origem traumática inicial.

Livros de psicanálise

Para continuar aprendendo e se aprofundando na psicanálise, se recomenda a seguinte bibliografia:

  • Psicanálise para iniciantes (2002) de Iván Ward e Oscar Zarete.
  • A interpretação dos sonhos (1899) de Sigmund Freud.
  • Introdução à psicanálise (1917) de Sigmund Freud.
  • Psicopatologia da vida cotidiana (1901) Sigmund Freud.
  • O triunfo da religião de Jacques Lacan.
  • O seminário de Jacques Lacan (1994).

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Juan Manuel Martínez. (2020). Asosiación libre en Lacan. México