Pensamento abstrato: o que é, exemplos e como desenvolvê-lo

Pensamento abstrato: o que é, exemplos e como desenvolvê-lo

A habilidade de formular hipóteses e poder comprová-las não é uma habilidade que nos acompanha durante toda nossa vida. Nossa forma de pensar vai mudando com o desenvolvimento, acompanhado e sustentado também pelo desenvolvimento de nosso próprio sistema nervoso.

Uma criança pode saber que se apertar certo botão a televisão ligará, mas, e se não ligar? Certamente, procurará um adulto, que será capaz de pensar em diversas explicações do que pode estar acontecendo. Verificará se o controle tem pilha, se estas estão descarregadas, se a televisão tem a luz que indica que está ligada à corrente, etc.

O adulto, através de seu desenvolvimento, adquiriu a habilidade de pensar de forma abstrata ou formal. Quer saber mais sobre isso? Continue lendo este artigo de Psicologia-Online, no qual te falamos sobre o pensamento abstrato: o que é, exemplos e como desenvolvê-lo.

O que é o pensamento abstrato

O pensamento abstrato ou pensamento formal consiste na capacidade para pensar de forma independente à realidade que se apresenta a nós de forma concreta. Permite ao ser humano pensar em diferentes cenários e possibilidades entre os quais, logicamente, se encontra a realidade concreta.

No exemplo simplificado que expusemos na introdução, a criança não é capaz de pensar além da realidade que tem diante de si, que é que a televisão não liga. O adulto, no entanto, poderá pensar mais além, estabelecer hipóteses, comprová-las e solucionar assim o problema.

O pensamento abstrato, contextualizado na teoria de Piaget, aparece na última etapa do desenvolvimento: a etapa das operações formais. Para Vygotskié, precisamente esta aquisição que marca a diferença entre o pensamento da criança e o pensamento do adolescente.

Fases do desenvolvimento e pensamento abstrato

Como apontamos, o pensamento formal é o que caracteriza a última etapa do desenvolvimento cognitivo de Piaget. A teoria piagetiana postula que o desenvolvimento cognitivo se produz ao longo de várias fases ou estágios, mais ou menos duradouros em função de cada pessoa, mas necessariamente sucessivos.

A aquisição do pensamento abstrato começa em torno dos 11 anos (estágio formal incipiente) e se consolida a partir dos 14 ou 15 anos (estágio formal avançado). É certo que Piaget modifica suas teorias iniciais e indica que é aos 20 anos quando tal aquisição evolutiva se consolida [1].

Até que esta aquisição se produza na adolescência, a criança passou por vários estágios de desenvolvimento nos quais sua forma de pensar tem sido qualitativamente diferente.

1. Estágio sensório-motor

Compreende desde o nascimento até os dois anos e está ligado ao desenvolvimento sensorial e motor. O pensamento do bebê estaria circunscrito "ao aqui e ao agora".

2. Estágio pré-operacional

Esta etapa compreende dos 2 até os 7 anos, aproximadamente. Neste estágio surge o pensamento simbólico, de forma que a criança pode pensar sobre fatos ou objetos que não estão presentes nesse momento. Pode pensar na bola que viu há alguns dias ou no brinquedo que seu colega de escola tem e ela tanto gostou.

3. Estágio de operações concretas

Mesmo que desde os 7 aos 11 anos, as crianças sejam capazes de realizar operações mentais complexas (tarefas de conservação, classificação, seriação, etc.) sua forma de pensar apresenta uma limitação, pela qual a criança tem que manipular as coisas ou vê-las para poder pensar sobre elas. Se pedir para ela imaginar, ela não dará uma resposta correta. Na etapa pré-operacional, começam, portanto, a utilizar a lógica e operações mentais, mas, unicamente para fatos e objetos de seu ambiente, de sua realidade concreta.

4. Estágio de operações formais

Para Piaget, a característica mais importante desta nova forma de pensar, seria o fato de poder pensar em termos de possibilidades e não somente de realidades. Os adolescentes vão mais além da realidade imediata e começam a descobrir que a realidade pode ser muito mais ampla daquilo que possuem diante de si, o que influenciará de forma importante em seu comportamento.

Segundo Sierra, P. e Brioso, A. (2006)[2], o adolescente diferencia entre o que é real e o que é possível utilizando, necessariamente, raciocínios hipotético-dedutivos e raciocinando sobre enunciados verbais em vez de raciocinar sobre objetos concretos.

Este seria o último estágio da teoria piagetiana, no entanto, foi proposto a existência de um pensamento pós-formal, posterior ao pensamento formal. Este pensamento pós-formal vai mais além dos raciocínios formais que trazem resultados corretos ou incorretos, e propõe soluções relativas aos problemas.

Exemplos do pensamento abstrato

Na introdução deste artigo expusemos um exemplo simplificado de pensamento abstrato, no qual a pessoa é capaz de pensar em hipóteses e possibilidades além do que a realidade objetiva mostra.

  • O raciocínio dedutivo é um claro exemplo de pensamento abstrato. Tratando de exemplificar este tipo de raciocínio, podemos pensar "Todas as pessoas respiram. Meu primo é uma pessoa, portanto meu primo respira".
  • Levantar hipóteses. Em um exemplo mais ecológico e menos teórico, imagine que você combinou com um amigo que está atrasado. Nosso pensamento abstrato nos permite estabelecer hipóteses sobre o que pode ter acontecido: se ele/a esqueceu algo e voltou para buscar, o ônibus se atrasou, há um engarrafamento, não quer responder, surgiu algum problema, etc.
  • Criar uma obra de arte é um exemplo de pensamento abstrato, sejam as cores de um quadro ou as notas de uma obra musical.
  • Imaginar o futuro: o futuro é algo que não podemos tocar nem conhecer, portanto faz parte do pensamento abstrato. Por exemplo: fazer planos para o futuro ou, simplesmente, pensar no futuro são exemplos de pensamento abstrato.
  • Analisar o passado: para sair do presente é necessário utilizar este tipo de pensamento, pois refletir sobre o passado é outro exemplo de pensamento abstrato.

Atividades para desenvolver o pensamento abstrato

Em geral, qualquer tarefa que requer de pensamento dedutivo ou requer que a pessoa pense em diversas possibilidades, colocará em marcha mecanismo formais de pensamento. Por exemplo:

  • A resolução de problemas matemáticos: nestes devemos aplicar as regras e fórmulas matemáticas e, em muitos casos, precisamos pensar no problema através de diferentes perspectivas para encontrar a solução, portanto, é um bom exercício de pensamento abstrato.
  • Resolução de charadas e enigmas: esta atividade de raciocínio abstrato ajuda a desenvolver este tipo de pensamento, já que para resolvê-los devemos ir além de sua mensagem literal.
  • Resolução de silogismos: podemos oferecer duas premissas e solicitar a conclusão.

Veja também o que é o Pensamento crítico e como desenvolvê-lo.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. AGUILAR VILLAGRÁN, M., Navarro Guzmán, J.I., López Pavón, J.M. y Alcalde Cuevas, c. (2002). Pensamiento formal y resolución de problemas matemáticos. Psicothema, 14 (2), 382-386.
  2. SIERRA, P. y Brioso, A. (2006). Cambios Biológicos y Cognitivos Durante la Adolescencia. En Sierra, L. y Brioso, A. (2006). Psicología del Desarrollo. Madrid: Sanz y Torres
Bibliografia
  • Moya Santoyo, J. y Georgieva Kostova, E. (2014). Psicología del Pensamiento. Madrid: Editorial Síntesis.
  • Saldarriaga-Zambrano, P.J., Bravo-Cedeño, G.R. y Loor-Rivadeneira, M. (2016). La teoría constructivista de Jean Piaget y su significación para la pedagogía contemporánea. Revista Científica Dominio de las Ciencias, 2 (Extra 3), 127-137.