Pessoas com vida dupla: personalidade e consequências

Pessoas com vida dupla: personalidade e consequências

A infidelidade, os triângulos amorosos e a vida dupla são temas muito controversos e constituem um dos motivos de consulta mais frequentes na área de atenção à casais. Existem muitos estudos por aí, mas continua sendo um mistério por que as pessoas são infiéis. Qual é a personalidade das pessoas que mantém uma vida dupla? O que é que os leva a buscar algo fora da relação? Por que fazem isso? Este tipo de pessoa pode mudar? O que é que falta a eles e quais podem ser as consequências para uma pessoa que leva uma vida dupla, para ela e para seus parceiros/as?

Neste artigo de Psicologia-Online, falamos sobre as pessoas com vida dupla, sua personalidade e as consequências. Veremos as possíveis razões que podem levar alguém a buscar algo fora da relação e tentaremos entender um pouco do que há por trás dessa necessidade.

Perfil de pessoa que leva uma vida amorosa dupla

A seguir, faremos uma lista de comportamentos para poder elaborar um perfil psicológico completo de uma pessoa com uma vida amorosa dupla:

  • São pessoas que escondem uma imaturidade emocional e que possuem carências afetivas que dificulta para elas a conexão e a capacidade de estabelecer vínculos íntimos, profundos e estáveis.
  • Realmente não estão disponíveis afetivamente. São pessoas que não estão prontas para se comprometer, com tudo o que isso implica, nem para ser responsáveis afetivamente com seus/as parceiros/as.
  • São inseguros de si mesmos e possuem uma baixa autoestima. Apesar de demonstrar o contrário para o exterior, por trás do escudo de segurança e poder, se esconde uma pessoa com muitas inseguranças.
  • Geralmente têm problemas de comunicação e são pessoas que evitam o conflito amoroso; seja por isso causar incômodos, porque não sabem o que fazer ou porque não possuem as ferramentas necessárias. Geralmente se afastam quando algo não os agrada ou buscam o que precisam por fora, antes de pedir para seu/sua parceiro/a.
  • Desconhecem suas necessidades e esperam que seu/sua parceiro/a as identifique e se comunique ou as satisfaça.
  • Têm expectativas irreais na relação com o outro. Para elas, é difícil ver o outro como um "outro" e pedem inconscientemente que seja ou se comporte como uma extensão de si mesmos. Quando o outro age de forma diferente deles (valores, formas de ser e crenças diferentes) se sentem decepcionados.
  • São excessivamente exigentes. São pessoas que têm uma falta ou necessidade não coberta na infância e que buscam preenchê-la sem saber como. A nível de casal parece que nunca conseguem se sentir satisfeitas e sempre falta algo na relação.
  • Tendem a idealizar e desvalorizar. É difícil para elas perceber o outro com um lado bom e com um mau, e tendem a se fixar no muito bom e em outros casos, no muito ruim do relacionamento.
  • Necessitam se reafirmar constantemente através dos outros, ser amada, aceita, querida e seduzida para se sentir bem consigo mesmas.

Por que algumas pessoas mantêm relações paralelas?

Vejamos as possíveis causas de levar uma vida amorosa dupla:

  • A fidelidade não é natural: antes de tudo, creio que é importante mencionar que não é tão fácil ser fiel, já que é algo que não nos é natural. A fidelidade é uma decisão sustentada com grande esforço e nem todas as pessoas sabem claramente o que querem (acreditam saber mas nem sempre é assim) e quando não sabemos bem o que queremos, fica muito mais difícil sustentar nossas decisões e ser consequentes e coerentes com elas, o que nos faz mais propensos a duvidar ou cair em tentações.
  • O ser fiel a um outro, às vezes, não está em consonância com o ser fiel a si mesmo: se vemos uma relação como uma construção contínua, com altos e baixos que se apresentam de forma permanente, descobrimos que haverá em alguns momentos certas ocasiões onde nossos desejos não estarão em concordância com os compromissos adquiridos ao estar em um relacionamento e terá que optar, e neste processo há quem optará por seguir sendo fiel a si mesmo, quem decidirá ser fiel ao parceiro e outros que encontrarão estratégias para colocar ambas em equilíbrio.
  • O desejo continua existindo: como disse Rolon, a força do desejo, que existirá sempre, é colocada em jogo por mais apaixonados que estejamos. Sempre aparecerá em algum momento uma pessoa que nos gerará desejo e neste sentido o "amante fiel" tem que lutar uma batalha com suas próprias tentações a favor de algo que considera melhor para ele.
  • A premissa de estabilidade psicoemocional: o poder de estabelecer vínculos fiéis, sadios e permanentes ao longo do tempo, requer um "backup" que nem todos nós conseguimos alcançar satisfatoriamente em nossa infância. As pessoas que mantêm relações paralelas são pessoas com muitas falhas e carências, e também pessoas que não aprenderam o necessário para poder responder com fidelidade antes que com a infidelidade.
  • As experiências vividas: nossa história condiciona nosso tipo de escolhas e o tipo de dinâmicas que estabelecemos com outros. Uma pessoa que sustenta uma vida dupla aprendeu muitas dessas coisas que hoje repete de forma inconsciente e compulsiva e por isso é muito possível encontrar em sua história um histórico de infidelidades ou de traços associados como falta de limites, incapacidade para se comunicar e ser atendido e entendido, dificuldade pra resolver satisfatoriamente os conflitos com outro, necessidades silenciadas, etc. É por isso que poderíamos dizer que a infidelidade por um lado se escolhe e por outro se sofre e, portanto, devemos nos fazer responsáveis, em um nível consciente, de tudo que carregamos.

Consequências psicológicas de uma vida dupla

As pessoas que mantém uma vida dupla e são descobertas ou que por alguma razão chegam a confessar a infidelidade, têm que enfrentar a realidade e isso implica tomar consciência de seus atos e as consequências deles. Tudo tem um custo e o fato de quebrar o acordo do casal gera um dano importante em cada uma das partes e na relação.

  • Término da relação: a pessoa que foi infiel deve aceitar e se fazer responsável e consciente de que seus atos possuem consequências e entre elas aceitar que feriu seu/sua parceiro/a e que por isso, o mais provável é que o relacionamento termine ou a confiança seja fortemente afetada e sua própria dignidade seja colocada em jogo. Esta é uma das razões pelas quais muitas das pessoas que são infiéis decidem logo guardar segredo, antes de assumir tudo o que pode significar o fato de falar a verdade.
  • Dano ao/à parceiro/a: o/a parceiro/a afetado/a por esta infidelidade, também experimentará consequências psicológicas. Primeiro a experiência gerará muita dor, já que implica incorporar e aceitar uma realidade diferente à que imaginava e isto será um golpe forte na confiança e na autoestima que também afeta sua identidade como pessoa, mas também afeta a identidade do/a parceiro/a.
  • Desconfiança: a nível do vínculo de casal, isto também será afetado, já que a confiança na relação será lesionada gravemente. Na maioria dos casos, o relacionamento termina, mas algumas vezes os casais decidem continuar e aqui é necessário muito tempo, trabalho e esforço para conseguir recuperar a confiança e reconstituir o que foi quebrado, é importante fazer este processo com a ajuda de um profissional para evitar gerar de forma inconsciente mais danos à qualquer uma das partes afetadas. Neste artigo falamos sobre como superar a desconfiança no relacionamento.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Rolon G. (2012). Encuentros. El lado b del amor. Argentina: Planeta
  • Vrij. A, Anders. P, Porter. S. (2011). Pitfalls and opportunities in nonverbal and verbal lie detection. APS. Estados Unidos: SAGE
  • Figueroa L. (2015). Investigación de casos: La infidelidad una descripción psíquica desde un enfoque psicoanalítico. Antioquía.