Reestruturação cognitiva: o que é e exemplos

Reestruturação cognitiva: o que é e exemplos

Talvez você seja estudante de psicologia, um/a paciente ou simplesmente tem interesse na psicologia e ouviu falar da reestruturação cognitiva como se fosse a chave do sucesso nas terapias de orientação cognitivo-comportamental, mas é certo que, mesmo que tenha uma ideia do que esta técnica quer conseguir, é muito provável que não conheça exatamente como se aplica e em que se baseia ou porque é uma técnica tão recorrente no dia a dia do psicólogo.

Se você tem interesse em conhecer exatamente em que se baseia esta técnica, como aplicá-la e entender melhor seus fundamentos, continue lendo! Neste artigo de Psicologia-Online falaremos sobre a Reestruturação cognitiva: o que é e exemplos.

O que é a reestruturação cognitiva

A reestruturação cognitiva é uma das técnicas mais recorrentes dentro do paradigma cognitivo-comportamental mesmo com a dificuldade de aplicação. A reestruturação cognitiva pretende ajudar o paciente a conseguir os seguintes objetivos:

  1. Identificar as cognições pertinentes.
  2. Compreender o impacto destas sobre as reações emocionais e comportamentais.
  3. Considerar a cognições como hipóteses que precisarão ser discutidas e submetidas à prova.
  4. Questionar comportamental e verbalmente as cognições inadequadas.
  5. Modificar estas cognições e substituí-las por outras mais apropriadas para conseguir a mudança emocional e comportamental desejada. Estas cognições alternativas devem ser ao menos relativamente plausíveis para o paciente e fáceis de se lembrar e utilizar.

Se você quer entender melhor sobre os processos cognitivos, te recomendamos ler este artigo sobre quais são os processos cognitivos básicos.

Bases teóricas da reestruturação cognitiva

Principalmente, a reestruturação cognitiva se baseia no modelo A-B-C de Albert Ellis. Este modelo afirma que uma situação ou evento da vida real (A) ativa uma série de crenças e pensamentos irracionais ou inapropriados, que podem ser ou não conscientes, assim como certos processos cognitivos e/ou esquemas pré-estabelecidos (B). Então, estes processos dão lugar a um ou vários comportamentos, emoções e reações físicas (C).

Neste modelo terapêutico observamos como as crenças, os esquemas e, definitivamente, tudo aquilo relacionado com a cognição (B), atua como intermediário entre o evento (A) e o comportamento, emoção ou reação física observável (C). Visto que A é um evento que já ocorreu e, portanto, não pode ser modificado, a modificação de B daria lugar a um C diferente.

Sendo assim, segundo esta perspectiva, podemos concluir que o que dá lugar a um comportamento, emoção ou reação física determinada não é o acontecimento em si, mas a interpretação que se faz deste evento e as crenças e esquemas relacionados o que daria lugar a C. Se você quer saber mais sobre este modelo, não perca este artigo sobre Albert Ellis e o seu ABC Emocional.

Neste sentido, é possível identificar 3 pressupostos teóricos que fundamentam a reestruturação cognitiva e que possuem como base o modelo de Ellis:

  • O modo com que as pessoas estruturam cognitivamente suas experiências exerce uma influência fundamental em como se sentem e agem e nas reações físicas que possuem.
  • É possível identificar as cognições das pessoas.
  • É possível modificar as cognições das pessoas.

Técnicas de reestruturação cognitiva

Como a reestruturação cognitiva é complexa, para realizá-la é preciso utilizar várias técnicas como as que exporemos a seguir, dependendo do momento de tratamento em que o paciente se encontra.

1. Técnicas para identificar pensamentos e crenças

Se o que você quer é ajudar a identificar crenças e pensamentos, o melhor será realizar um autorregistro como os propostos por Ellis, Clark ou Wells. Você deve saber que com o uso desta técnica de reestruturação cognitiva podem surgir algumas dificuldades devido aos seguintes fatores:

  • Os pensamentos estão tão normalizados que não atraem a atenção dos pacientes.
  • Pensamentos ansiogênicos podem gerar evitação no paciente.
  • Pensamentos que apareçam na forma de imagens podem ser difíceis de captar.
  • Falta de congruência entre o estado de humor atual e o que surge quando as cognições aparecem.

Outras técnicas que podem ser úteis para identificar crenças a parte do autorregistro são:

  • Técnica da flecha descendente para identificar a crença básica que se encontra sob o pensamento.
  • Questionários de aptidões ou crenças disfuncionais.
  • Mostrar exemplos que ajudem a observar o impacto que as cognições possuem no pensamento.

2. Técnicas para modificar pensamentos e crenças

Como se faz a reestruturação cognitiva na terapia cognitivo-comportamental? Estas são as metodologias terapêuticas usadas para modificar pensamentos e crenças:

  • Diálogo socrático: consiste em fazer perguntas que ajudem a questionar a veracidade das crenças e sua fundamentação.
  • Informação direta contrária aos pensamentos inadequados do paciente com a finalidade de gerar um debate didático que ajuda a modificação.
  • Examinar a utilidade de pensamentos negativos através de perguntas: para isso, a técnica do "o que aconteceria se..." pode ajudar, de maneira que o paciente se questione o que aconteceria se tudo o que pensa fosse certo e desmontar as crenças a partir de suas respostas.
  • Modelagem e role playing para incorporar mudanças positivas no pensamento.

3. Estratégias para abordar as ideias irracionais

Os exercícios de reestruturação cognitiva que permitem abordar ideias irracionais são:

  • Questionar sua veracidade.
  • Buscar evidências a favor e contra.
  • Reduzir ao absurdo.
  • Imaginação racional emotiva.

Como fazer uma reestruturação cognitiva

A reestruturação cognitiva a ser feita deve se ajustar a cada caso, dependendo do problema a tratar em particular e das características individuais de cada paciente. Ainda assim, podemos oferecer um guia geral para ser utilizado como referência.

Objetivamente, os passos da reestruturação cognitiva são:

  1. Aplicação de um autorregistro para obter as 3 variáveis A, B e C que ajude a detectar os eventos desencadeantes iniciais, avaliar as consequências que têm para o indivíduo e aprofundar nas 4 crenças que podem manter as consequências. Segundo Godoy[1], estas crenças são a negação, o tremendismo ou catastrofismo, a baixa tolerância à frustração e a condenação e autocondenação.
  2. Aplicação da técnica de debate didático ou diálogo socrático.
  3. Substituição da crença ou pensamento.
  4. Automatização do pensamento.

Exemplos de reestruturação cognitiva

Algumas das terapias que incluem a reestruturação cognitiva em seu tratamento são:

  • A terapia racional-emotivo-comportamental de Ellis.
  • A terapia cognitiva de Beck.
  • O treinamento em autoinstruções de Meichenbaum.

Em função do objetivo da terapia, é recomendável utilizar uma ou outra ou combiná-las. Visivelmente, existem muitos métodos para trabalhar a reestruturação cognitiva, para clarificar como funciona este processo, a seguir, te mostraremos um exemplo dos resultados que oferece:

  • Pensamento negativo a modificar: Não sou capaz, nunca irei conseguir.
  • Pensamento modificado com reestruturação cognitiva: Agora não tenho as ferramentas necessárias para conseguir meu objetivo porque é algo que não foi feito antes e pode ser que seja complicado para mim a princípio.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. Ruiz, C., Godoy, A., & Gavino, A. (2008). PROPIEDADES PSICOMÉTRICAS DE LA VERSIÓN ESPAÑOLA DEL CUESTIONARIO DE CREENCIAS OBSESIVAS (OBQ). Ansiedad y Estrés, 14.
Bibliografia
  • Bados, A., & García, E. (2010). La Técnica de la reestructuración cognitiva. Universitat de Barcelona
  • Rosique, M.T. (2019). Avances en técnicas de intervención psicológica. Madrid: Ed. CEF