Psicologia clínica

Síndrome da cabana: o que é, sintomas, causas e tratamento

 
Iván Piquero
Por Iván Piquero, Psicólogo. 13 agosto 2021
Síndrome da cabana: o que é, sintomas, causas e tratamento

Há pouco mais de um ano todos nós vivemos um momento excepcional: o isolamento por causa da Covid-19. A batalha sanitária contra o novo coronavírus fez necessária a reclusão das pessoas em suas casas. A transição para o "novo normal" após o confinamento domiciliar não é igual para todos, podendo haver casos em que voltar a sair possa provocar uma sensação de grande desconforto - lembrando sempre que, no Brasil, muitas pessoas sequer puderam fazer o confinamento adequado.

Para além dessa situação, outros aspectos relacionados a confinamentos prolongados, como longas estadias em hospitais, podem provocar sintomas característicos da chamada "síndrome da cabana". Embora de fato este não seja um fenômeno novo, ultimamente temos ouvido falar dele com mais frequência. Se você quer saber mais, continue lendo este artigo de Psicologia-Online sobre síndrome da cabana: o que é, sintomas, causas e tratamento.

Índice

  1. O que é a síndrome da cabana
  2. Sintomas da síndrome da cabana
  3. Tratamento da síndrome da cabana

O que é a síndrome da cabana

A síndrome da cabana inclui uma série de sintomas que aparecem em pessoas após um longo período de reclusão ou isolamento como consequência de uma mudança no ambiente, sendo o medo o sintoma central. Dessa forma, a origem da síndrome da cabana está relacionada com a uma mudança de ambiente que não necessariamente tem que ser pior para o sujeito, isto é, mais estressante, menos seguro, etc.

Embora este seja um fenômeno muito presente devido ao confinamento domiciliar que vivemos, tal como indicamos, é importante ressaltar que este não se trata de um transtorno reconhecido pelas classificações diagnósticas DSM-5, da Associação Americana de Psiquiatria[1], nem pelo CID-11 da Organização Mundial da Saúde[2].

Por não ser uma categoria diagnóstica, este fenômeno não foi estudado, de forma que se carece de literatura científica para fazer uma exposição mais detalhada dos seus elementos. Talvez a falta de interesse tenha provocado a ausência de pesquisas e, portanto, impedido a construção de uma categoria diagnóstica.

Síndrome do isolamento ou síndrome do confinamento

Como já salientamos anteriormente, a síndrome da cabana adquiriu uma relevância especial devido ao confinamento que temos que fazer por conta da pandemia que estamos enfrentando. Contudo, destaca-se que no século XIX já se falava desse fenômeno.

O medo, como qualquer outra emoção, possui uma função adaptativa. Ele é, precisamente, a emoção que nos leva a seguir as medidas sanitárias de segurança, como usar máscara, lavar as mãos e praticar o isolamento social. Por isso, ter medo de contrair a doença pode ser algo considerado como uma resposta normal.

Para além das respostas normais que podemos ter em maior ou menor medida, o fato é que o medo excessivo pode nos impedir de voltar à normalidade e fazer pensar: "não consigo sair de casa". Se isso ocorre, podemos estar falando de um problema: e é exatamente esse problema que entendemos como a "síndrome da cabana".

Por último, no contexto em que estamos vivendo, somos conscientes de que temos à nossa disposição uma enorme quantidade de informação. Além da necessidade e do direito de estarmos informados, o fato é que, em certas ocasiões, esse excesso de informação pode elevar a resposta do medo a um nível mal-adaptativo. Dessa forma, devemos ser críticos e cuidadosos com as informações que acessamos.

Sintomas da síndrome da cabana

Ainda que não tenhamos estudos sobre o tema, a verdade é que parece haver um consenso de que a síndrome da cabana está associada aos sintomas da depressão e da ansiedade.

Após o fim do isolamento prolongado, a pessoa pode demonstrar preocupações relativas aos perigos ou consequências negativas relacionadas com a mudança de ambiente, sejam elas reais ou não. Por exemplo, em relação ao confinamento pela Covid-19, a pessoa pode demonstrar medo de sair de casa e contrair o vírus, por exemplo.

O fato de mudar de ambiente, para além da antecipação, pode provocar respostas fisiológicas intensas associadas ao medo. Dessa forma, os sintomas da síndrome da cabana são:

Estas reações fisiológicas e psicológicas, juntamente com a antecipação, fazem com que a pessoa experiente um desconforto intenso. Por isso, a nível comportamental, evitará mudar de ambiente. Assim, um dos exemplos da síndrome da cabana aplicada à pandemia seria a fobia de sair de casa,fazendo-a evitar ir à rua. Dessa forma o indivíduo evitaria a aparição dos sintomas de ansiedade, o que por sua vez reforçaria a resposta evitativa.

Tratamento da síndrome da cabana

Como expusemos ao longo deste artigo, a síndrome da cabana não possui respaldo científico que nos indique qual tratamento ou intervenção é a mais adequada nesses casos. Contudo, a avaliação que o profissional fizer do caso concreto indicará o caminho a ser seguido na intervenção psicológica. Em relação à intervenção, o tratamento da síndrome da cabana poderia ser feito da seguinte forma:

  • Técnicas de desativação do estresse: para reduzir os sintomas fisiológicos relacionados à ansiedade.
  • Explorar a existência de ideias irracionais: usando técnicas cognitivas para tratá-las.
  • Incentivar saídas controladas e programadas: deve ser feito de forma gradual. Como já indicamos, a evitação contribui para manter a resposta evitativa, isto é, não mudar de ambiente, de forma que fazer pequenas saídas pode ajudar a combater essa resposta evitativa.
  • Estabelecer uma regulação emocional: incluir a criação de rotinas e/ou a busca por grupos de apoio.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. Asociación Psiquiátrica Americana (2014). DSM-5. Guía de consulta de los criterios diagnósticos del DSM-5-Breviario. Madrid: Editorial Médica Panamericana.
  2. Organización Mundial de la Salud (OMS) (2018) Clasificación Internacional de Enfermedades, 11.a revisión. Recuperado de https://icd.who.int/es
Bibliografia
  • El Puente de Salud Mental Valladolid (2020) II Guía para profesionales de la salud mental en el ámbito de la “nueva normalidad”. Recuperado de https://copcantabria.es/wp-content/uploads/2020/09/II-Gui%CC%81a-para-profesionales-de-la-salud-mental-1.pdf
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