Síndrome de Otelo: o que é, sintomas e tratamento

Síndrome de Otelo: o que é, sintomas e tratamento

A síndrome de Otelo é um transtorno do tipo delirante que se caracteriza pela presença de ciúme patológico e a crença de que o parceiro está cometendo uma infidelidade. O nome dessa síndrome tem origem no personagem principal da novela Otelo: o mouro de Veneza de Shakespeare, já que sofre de ciúme doentio e incontrolável. Se você quer saber mais sobre a síndrome, continue lendo esse artigo de Psicologia-Online - Síndrome de otelo: o que é, sintomas e tratamento.

O que é síndrome de Otelo

Em que consiste a síndrome de Otelo? A síndrome de Otelo é um transtorno delirante baseado no ciúme, já que o tema central do delírio é que o cônjuge está sendo infiel. As pessoas com esta síndrome padecem de delírios e pensamentos paranoicos sobre o companheiro traindo e, em consequência, sofrem de ciúme doentio excessivo e totalmente desproporcionado.

A base do pensamento e as crenças sobre a suposta infidelidade é totalmente irracional e sem fundamento ou motivo algum. A síndrome de Otelo também é chamado de celotipia, já que o ciúme patológico mórbido ou de origem psicótica são a caraterística principal e definitória dessa síndrome.

Ciúme patológico ou Síndrome de otelo

O ciúme no âmbito do casal é uma reação emocional que se desenvolve quando uma pessoa sofre de avidez de possessão sobre o companheiro(a) e sente medo perante uma ameaça de perda ou experiencia uma perda real. O ciúme no relacionamento pode ser classificado da maneira seguinte:

  • Ciúme ocasional: se experiencia de forma momentânea, sobretudo perante mudanças, mas a pessoa é capaz de identificar estes medos e racionalizá-los.
  • Ciúme reativo: ocorre perante a infidelidade real da outra pessoa ou quando a mesma age de forma que provoca insegurança e desconfiança no companheiro(a).
  • Ciúme patológico de origem não psicótico: ciúme doentio e sem fundamento, a pessoa que o sente apresenta atitudes de suspeita e inquietude. São baseados no controle e na possessão.
  • Ciúme patológico de origem psicótico: se refere ao ciúme delirante, a forma mais grave de ciúme, A pessoa que sofre do mesmo constrói um sistema de crenças e condutas em torno da ideia da infidelidade, sem provas ou fundamentos de nenhum tipo. Existe distorção da realidade, paranoia e condutas comprovatórias que se tornam rituais compulsivos. Este é o tipo de ciúme presente na Síndrome de Otelo e a celotipia.

Síndrome de Otelo: sintomas

Os sintomas que se associam com frequência à síndrome de Otelo e o caracterizam são os seguintes:

  • Presença de ciúme extremadamente irracional, excessivo, doentio e delirante sobre a suposta infidelidade do parceiro ou parceira.
  • A nível cognitivo, são experienciados pensamentos paranoicos e intrusivos constantes com base na suposta infidelidade. Da mesma forma, pessoas com celotipia imaginam situações irreais de forma inconsciente que continuam alimentando este delírio.
  • A nível comportamental, surge um desenvolvimento de condutas obsessivas de comprovação, com o objetivo de descobrir o engano por parte da outra pessoa. Também se realizam condutas de busca de detalhes e provas que apoiem e reafirmem o delírio. Estes comportamentos ocupam a maioria do tempo da pessoa que sofre de síndrome de Otelo.
  • A nível emocional, a pessoa pode experienciar depressão, ansiedade, frustração e, em casos extremos, agressividade. Estas crenças geram altos níveis de sofrimento nas pessoas com essa síndrome.
  • É possível identificar uma alteração na percepção, pelo que detalhes sem importância são considerados provas da infidelidade, embora não sejam baseados na interpretação lógica.
  • Presença de preconceito de confirmação, que consiste em uma tendência em aceitar a informação que confirma o ponto de vista próprio e a rejeitar o que o desmente. Se trata de um preconceito muito comum nos transtornos delirantes, pelo que a pessoa aceita seletivamente os dados que alimentam o seu delírio e aprovam o seu sistema de crenças.
  • Embora exista uma falta total de provas, o ciúme não some, a crença se mantém com absoluta convicção e é vivida como uma verdade evidente.
  • As pessoas que sofrem de síndrome de Otelo acreditam ser vítimas de uma conspiração e podem chegar a pensar que o resto das pessoas sabe que a sua parceira ou parceiro está traindo, que lhe estão mentindo e ocultando a infidelidade.
  • As pessoas com síndrome de Otelo não são capazes de controlar a sua sintomatologia nem tentam, já que não são conscientes da falsidade da sua crença, que vivem como uma verdade absoluta.
  • O delírio celotípico constitui o elemento central da vida da pessoa com síndrome de Otelo, pelo que se produz uma alteração significativa no resto de esferas da vida da pessoa.

Síndrome de Otelo: tratamento

O transtorno celotípico apresenta uma sintomatologia complexa, com alterações cognitivas, emocionais e comportamentais. Esta complexidade pode fazer com que você não saiba como ajudar uma pessoa com síndrome de Otelo.

Ciúme doentio tem cura?

Síndrome de Otelo tem cura? Atualmente, a intervenção prescrita para a cura da síndrome de Otelo consta normalmente tanto de um tratamento farmacológico como psicológico. Em seguida, explicamos o tratamento da celotipia para que você saiba como tratar a Síndrome de Otelo desde uma vertente psicológica.

Tratamento psicológico para síndrome de Otelo

  • Técnicas comportamentais. Uma parte da intervenção se enfoca na aplicação de técnicas comportamentais para abordar as condutas obsessivas de comprovação e busca de provas. Esta abordagem se realiza através de técnicas de exposição e prevenção de resposta de forma conjunta. A pessoa com esta síndrome elabora, junto da pessoa profissional, uma hierarquia de situações ansiogênicas e vai sendo exposta às mesmas na imaginação e ao vivo de forma gradual. Perante a exposição a estas situações, a pessoa tende a apresentar condutas de comprovação e de busca, pelo que estará sendo treinada na técnica de prevenção de resposta, evitando a execução desses comportamentos rituais. Dessa forma, com ambas as técnicas, é promovido um hábito de tolerância aos impulsos, se reduz a ansiedade e não se reforçam os comportamentos celotípicos.
  • Técnicas cognitivas. Em quanto às técnicas cognitivas, costumam empregar a restruturação cognitiva e metodologia própria da terapia racional-emotiva de Ellis. O primeiro passo é que a pessoa seja consciente dos pensamentos automáticos e intrusivos que tem e de como os mesmos afetam as suas emoções e comportamento. Por outro lado, se fomenta que a pessoa veja os pensamentos como hipóteses e não como verdades absolutas, que se busquem provas objetivas a favor e contra na terapia. Da mesma forma, é executado um questionamento das crenças disfuncionais através de perguntas que permitem mostrar as incongruências e contradições das cognições. Finalmente, se recomenda que a pessoa realize registos dos seus pensamentos para ser mais consciente deles, das consequências emocionais e comportamentais dos mesmos e considere um pensamento alternativo mais racional.
  • Terapia de casal. Uma das consequências da Síndrome de Otelo é o desgaste e os conflitos no relacionamento. Por isso, se recomenda a terapia de casal, onde se trabalham objetivos como o fortalecimento do vínculo, aumento da confiança e da estabilidade na relação. Para isso, o casal é treinado na técnica de resolução de problemas e na técnica do treinamento em comunicação. Através da primeira, o casal melhora as suas habilidades na hora de considerar problemas ou dificuldades que surjam em casal, de planificar diferentes soluções e de chegar a um acordo sobre uma delas. Por último, com o treino em comunicação, se fomenta a empatia, a escuta ativa, a expressão de sentimentos e necessidades, assim como a compreensão do outro ponto de vista. O objetivo disso é reduzir mal-entendidos e a defensividade no casal.
  • Finalmente, é necessário trabalhar a autoestima e os mitos do amor romântico da pessoa com síndrome de Otelo. A base do ciúme se encontra nas inseguranças e nos esquemas mentais sobre como devem ser as relações do casal. É por isso que é importante fomentar o autoconceito e a autoestima da pessoa com celotipia, já que normalmente costuma ser baixa. Por outro lado, é necessário realizar um trabalho sobre a conceptualização das relações em casal na qual é feita uma desconstrução das condutas que a sociedade impôs como próprias de uma relação do tipo romântico. Da mesma forma, são apresentados modelos de relação mais saudáveis baseados na confiança e na comunicação.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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