Psicologia clínica

Síndrome do cuidador: o que é, sintomas, fases e tratamento

Marta Thomen Bastardas
Por Marta Thomen Bastardas, Psicóloga. Atualizado: 21 outubro 2019
Síndrome do cuidador: o que é, sintomas, fases e tratamento

Em 90% das famílias, é necessária ajuda para cuidar de um membro dependente e, geralmente, são os familiares diretos que tendem a assumir este papel. Frequentemente, é um único membro da família que assume esse papel de cuidador de uma pessoa idosa. Esta situação emerge de forma sobreveniente e a sobrecarga que pode provocar no cuidador principal do idoso pode dar lugar à síndrome do cuidador. Se você está interessado em conhecer a síndrome do cuidador: o que é, sintomas, fases e tratamento, continue lendo esse artigo de Psicologia-Online.

Índice

  1. Síndrome do cuidador
  2. Síndrome do cuidador: sintomas e sinais
  3. Síndrome do cuidador: fases
  4. Síndrome do cuidador: tratamento

Síndrome do cuidador

Na grande maioria dos casos, as pessoas idosas requerem ajuda em todas as funções que já não podem desempenhar, como a higiene pessoal os hábitos alimentares, a higiene do sono, fazer compras, etc. Perante essa situação, é necessária uma pessoa com o papel de cuidador para ajudá-las a desempenhar todas estas tarefas e oferecer-lhes apoio emocional.

Este grupo de pessoas recebe o nome de cuidadores e tende a ser dividido em dois grupos:

  • Os profissionais dedicados ao cuidado dessa população, ou seja, cuidadores profissionais de pessoas idosas ou muito idosas ou pessoas dependentes.
  • Familiares ou pessoas próximas da pessoa doente ou idosa. No entanto, existe uma elevada prevalência de familiares cuidando dos doentes em comparação com os profissionais, o que pode implicar um problema, já que não dispõem de estratégias ou formação para encarar esta circunstância.

Perante esses casos, a sobrecarga que implica cuidar de uma pessoa doente pode se repercutir notoriamente na saúde física do cuidador, mas surgem sobretudo repercussões psíquicas, relacionadas geralmente com a ansiedade e a depressão, devido à pressão que implica o cuidado de idosos, já que o cuidador deixa de responder às suas necessidades emocionais, deixando-as em segundo plano.

A pressão dessa situação pode causar frustração ao ver que não é possível chegar a tudo o que é necessário e, perante esse caso, o cuidador deixa de cuidar das suas próprias necessidades, interesses, ambiente e tempo livre, podendo surgir isolamento social, deterioramento da qualidade de vida e do tempo livre, dando lugar à síndrome de burnout do cuidador.

O que é síndrome do cuidador?

A síndrome do cuidador, também chamada de estresse do cuidador ou síndrome de burnout do cuidador, consiste na sobrecarga sentida pelos cuidadores de idosos, pessoas doentes ou dependentes, que implica repercussões na sua saúde física, mental e social.

Síndrome do cuidador: sintomas e sinais

Se você se está perguntando se sofre de síndrome do cuidador, pode identificar em seguida se apresenta os sinais e sintomas de síndrome do cuidador. A sobrecarga que o cuidador sente pode dar lugar a manifestações sintomáticas a nível físico, psíquico e social, sendo as seguintes as mais frequentes:

Síntomas físicos de síndrome do cuidador

  • Perda de energia e sensações de fadiga e cansaço
  • Dor de costas
  • Cefaleia
  • Tonturas
  • Incapacidade para relaxar
  • Dispepsia
  • Dores musculares
  • Sensação de pernas pesadas

Síntomas psíquicos de síndrome do cuidador

  • Ansiedade
  • Depressão
  • Alterações no sono
  • Apatia
  • Irritabilidade
  • Nervosismo
  • Pensamentos de suicídio ou de abandono
  • Ressentimento em relação à pessoa de quem se cuida
  • Sentimentos de desespero
  • Dificultades para manter a concentração
  • Problemas de memória

Síntomas sociais de síndrome do cuidador

  • Isolamento
  • Perda de interesse
  • Dificuldade nas relações interpessoais
  • Reação exagerada a críticas

Esses sintomas ou consequências da síndrome do cuidador ou estresse do cuidador podem variar segundo o tipo de cuidados, e dependerão da pessoa dependente e das suas necessidades. Uma das situações mais comuns na qual esta condição aparece é em cuidadores de pessoas com mal de Alzheimer.

Síndrome do cuidador: o que é, sintomas, fases e tratamento - Síndrome do cuidador: sintomas e sinais

Síndrome do cuidador: fases

O esgotamento físico e psíquico que um cuidador de idosos experiencia, que dá lugar à síndrome do cuidador, aparece gradualmente no cuidador. O cuidador vá passado por um seguimento de etapas. As fases da síndrome de burnout do cuidador são:

  • Fase 1 - perante a situação, assumindo a liderança: quando as circunstâncias familiares exigem que um dos seus membros deve ser cuidado, um único membro da família deve assumir o papel de cuidador principal e, embora toda a família possa colaborar nos seus cuidados, o cuidador primário ou principal do idoso ou pessoa dependente é quem deverá assumir a grande maioria das responsabilidades.
  • Fase 2 - desequilíbrio entre as exigências e os recursos: ao iniciar os cuidados da pessoa idosa, o cuidador observa que as exigências que a pessoa requer são muito grandes e, para cobrir as suas necessidades, é necessário dedicar-lhe mais tempo e mais cuidados, esgotando os seus recursos, o que pode ser desgastante para a pessoa cuidadora.
  • Fase 3 - reação perante a sobrecarga: com o tempo, o aumento de horas e de cuidados dedicados à pessoa produzem elevados níveis de estresse e esforço e, com isso, começam a aparecer os primeiros sintomas da síndrome do cuidador tais como: esgotamento físico e mental, ansiedade, sentimentos de tristeza, isolamento social ou alterações do sono, entre outros devidos à sobrecarga do cuidador.
  • Fase 4 - alívio: devido à síndrome do cuidador, quando a pessoa dependente falece, o cuidador pode temer expressar o alívio que essa situação supõe para ele. Nesse momento, surgem sentimentos de culpa junto desses pensamentos. No entanto, essa sensação de liberação é natural, uma vez que o cuidador se encontrava totalmente preso perante a situação.

Síndrome do cuidador: tratamento

Como superar a síndrome do cuidador? Todas as medidas executadas no tratamento da síndrome do cuidador se resumem ao conceito de cuidar do cuidador, ou seja, é orientado em procurar um aumento da qualidade de vida dele. Como cuidar do cuidador? O tratamento deve ser multimodal, atendendo todas as necessidades do cuidador. Em seguida, veremos como tratar a síndrome do cuidador.

Em primeiro lugar, o cuidador deve estar informado sobre a doença da pessoa cuidada com o objetivo de incrementar a aceitação do problema, evitar falsas expectativas de melhora ou idealizações negativas, como pensar que o idoso faz determinadas coisas apenas para incomodá-lo, compreender os limites da pessoa doente e lutar por aumentar a sua autonomia dentro das suas possibilidades.

Contudo, também é importante ter consciência dos próprios limites, entendendo que não é necessário forçar-se ou esquecer-se do próprio cuidado pessoal. Mais que nunca, o cuidador deve tratar das suas próprias necessidades, apostando numa alimentação correta, hábitos de sono saudáveis e programando descansos fora do cuidado dessa pessoa, evitando assim o aparecimento de sentimentos de culpa por dedicar-se a ele mesmo.

Por outro lado, embora esta pessoa seja designada cuidadora primária ou principal, no ambiente do doente existem outros familiares com os quais o cuidador deve compartilhar a evolução do doente e a sobrecarga que implica cuidar do mesmo, tanto prática como emocional, informando-os dos próprios sentimentos, medos e preocupações, para que a carga possa ser menor quando é compartilhada.

Em muitos casos, devido à culpa, o cuidador prefere não comunicar os seus medos, preocupações ou esgotamento à sua família, mas sente a necessidade de ter uma via de escape emocional onde possa liberar a frustração que sente ou o ressentimento que pode aparecer, assim como sentimentos negativos. Perante isso, é muito frequente iniciar tratamentos psicoterapêuticos que ajudem a pessoa a poder livrar-se desses sentimentos negativos e paliar as emoções de estresse, ansiedade e depressão.

Ocasionalmente, perante uma boa gestão da situação, a atenção ao cuidado pessoal e à realização de psicoterapia, os sintomas de síndrome do cuidador ou burnout do cuidador persistem e, por isso, é necessário usar psicofármacos que ajudem a reduzir a sintomatologia, como fármacos hipnóticos que ajudem na higiene do sono ou fármacos antidepressivos ou ansiolíticos para reduzir os elevados níveis de estresse, ansiedade e tristeza.

O que acontece com a síndrome do cuidador quando a pessoa dependente morre? Devido à sobrecarga do cuidador, depois de falecer a pessoa cuidada, o cuidador primário pode experienciar uma sensação de alívio. Essa sensação contradiz-se comos sentimentos de tristeza esperados numa situação de perda e pode implicar sentimentos de culpa. Por isso, o tratamento da síndrome do cuidador não termina após a perda, sendo inclusive recomendado continuá-lo no processo de luto.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
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  • Dueñas, E., Martínez, M. A., Morales, B., Muñoz, C., Viáfara, A. S., & Herrera, J. A. (2014). Síndrome del cuidador de adultos mayores discapacitados y sus implicaciones psicosociales.
  • Garcés de los Fayos Ruiz, E. J., & Peinado Portero, A. I. (1998). Burnout en cuidadores principales de pacientes con alzheimer, el síndrome del asistente desasistido. Anales de psicología.
  • Mendoza-Suárez, G. (2014). Síndrome de sobrecarga en familiares encargados del cuidado de pacientes con enfermedad neurológica crónica. Rev Soc Peru Med Interna, 27(1), 12-8.
  • Zambrano Cruz, R., & Ceballos Cardona, N. P. (2007). Síndrome de carga del cuidador.
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4 comentários
A sua avaliação:
Alexandre Bento PEIXOTO
Meu pai morreu a mais de 15 anos,,,. Desde então minha mãe mora comigo, e com minha esposa, ela faz tratamento de esquizofrenia. A mais 30 anos,, toma muitos remédios fortes,, mais parece não faz efeito, parece está chupando bala,,,,, estamos todos estressados casa,,, eu já pensei sumir, morrer, mais tenho tentado juntar forças na religião, em Deus... não sei o quê e dormir, direito, nem quê e férias... Sei estou esgotado..... Cansado... Sem dormir,,, uma sensação esgotamento,, vazio, sugado...
Maria
Oi Alexandre... te entendo perfeitamente... foi por sentir o mesmo que cheguei aqui nesta pagina... talvez o que eu diga nao mude a nossa situação atual como cuidadores, mas esta situação deveria ser um bom exemplo de como nos cuidar como pessoas tanto física como emocionalmente, porque a dependencia e muito triste...sofre o cuidador, sofre o dependente. Ninguém pode nos dizer o que fazer... mas siga buscando em Deus força pra levar a situação... e também pense um pouco em alternativas.... como você poderia encontrar um "descanso" desses cuidados... casas de repouso... sei la... mas algo vc precisa fazer pra nao pirar e acabar com a própria saude... Se descansar a mente um pouco, recarregar as energias, talvez te ajude... Animo!!!!
A sua avaliação:
Fátima
Sou cuidadora de meus pais há 5 anos.
Deixei minha casa e vim morar com eles.
Meu pai faleceu há 2 anos e meio.
Depois do falecimento dele minha mãe adoeceu. Faz 2 anos e meio que cuido dela. Ambos têm a mesma doença- DPOC. É irreversivel e piora a cada dia que passa. Faço meu melhor. Tanto pelo meu pai quando era vivo, como para minha mãe que ainda vive . Não tenho apoio dos outros 2 filhos. O máximo que fazem é ajudar a comprar os remédios. Nunca se propuseram a passar um final de semana com os pais, para eu ir ver meus filhos e netas. Tenho 61 anos. Sinto-me exausta. Procuro não me desesperar, nem perder a paciência. Mas, sou humana, imperfeita, já tenho problemas de saúde pertinentes à terceira idade e não estou aguentando mais. Às vezes chego a pensar que seria melhor que minha mãe falecesse. Ela está sofrendo, cada vez mais dependente de mim e eu estou muito cansada. Quando penso isso me sinto culpada, um monstro, por querer que a mãe morra. Preciso de ajuda. Alguém que me ajude a entender e administrar meus sentimentos. Obrigada!
Maria
Ola Fatima... estou sentindo o mesmo que você... comecei a buscar na internet porque ja imagina que nao sentia isso sozinha.... tenho uma carga econômica que nao dou conta... por mais que faça nao vejo melhoras de saude e tb tenho um irmão que nao faz absolutamente nada, esgota. Como vc esta? Mudou em algo sua situação?
A sua avaliação:
Marta Moreira
Boa noite! Cuidava do meu pai com Alzheimer 91 anos. E faleceu a 15 dias, me sinto mal por isso fiz tudo que podia mas nao consigo me conformar com perda me sinto incompetente.
A sua avaliação:
joao paulo de oliveira
é o mesmo que síndrome do estresse do cuidador?
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