Tipos de inteligências múltiplas e a teoria de Howard Gardner

Tipos de inteligências múltiplas e a teoria de Howard Gardner

Há anos que o paradigma baseado em um único tipo de inteligência foi deixado para trás. Foi observado que o modelo de inteligência mais tradicional apenas media algumas capacidades lógico-matemáticas e que muitas pessoas eram capazes de se desenvolver corretamente e se adaptar às circunstâncias da vida sem a necessidade de ter essa inteligência desenvolvida.

O modelo das inteligências múltiplas proposto por Howard Gardner em 1983 afirma que existem diferentes tipos de inteligências e que cada indivíduo desenvolve aquelas que mais lhe convêm. Seja promovendo a inteligência musical, corporal, interpessoal, naturalista ou a lógica-matemática, cada pessoa tem um alto potencial para poder destacar e fortalecer um tipo ou outro de inteligência. No seguinte artigo de Psicologia-Online, falaremos dos tipos de inteligências múltiplas e a teoria de Howard Gardner.

Teoria das inteligências múltiplas: definição e resumo

O doutor Howard Gardner, diretor do Projeto Zero e professor de psicologia e ciências da educação na Universidade de Harvard, propôs desde 1993 sua teoria das Inteligências Múltiplas. Através dessa teoria o Dr. Gardner chegou à conclusão de que a inteligência não é algo inato e fixo que domina todas as destrezas e habilidades de resolução de problemas que possui o ser humano, estabeleceu que a inteligência está localizada em diferentes áreas do cérebro, interconectadas entre si e que podem também trabalhar de forma individual, tendo a propriedade de se desenvolver amplamente se encontrarem um ambiente que ofereça as condições necessárias para isso.

A história das inteligências múltiplas remonta ao livro de Howard Gardner "estruturas da mente", que introduz o conceito de inteligências múltiplas colocando o seguinte problema[1]:

Uma menina pequena passa uma hora com um examinador que lhe faz perguntas para avaliar sua inteligência 'Quem descobriu a América?' 'O que significa exagerado?' ou sobre sua capacidade para lembrar números 'complete a seguinte sequência: 1, 1, 2, 3, 5, 8' (...) Uma hora depois, o examinador qualifica as respostas e obtêm um valor: o quociente intelectual ou QI. Esse número pode chegar a ser terrivelmente determinante para a autoestima e autoconceito da menina, a importância que damos ao quociente intelectual não é inteiramente adequada.

O que aconteceria se considerássemos uma visão mais ampla e diversificada da inteligência?

Consideremos, então, aquelas pessoas que talvez não sabem recitar de memória um tema de literatura, mas são capazes de sair triunfantes de uma situação comprometedora através da lábia e do pensamento ágil. Ou aquelas crianças que apresentam dificuldades em resolver uma equação, mas não têm nenhum problema em superar provas físicas de alto nível. Como podemos definir tantos tipos de inteligências?

Definição das inteligências múltiplas

Definimos as inteligências múltiplas como oito capacidades cognitivas que todos possuímos em certo nível. Essas capacidades são relativamente autônomas e foram definidas a partir do estudo das habilidades mentais identificadas por meio de um estudo de casos particulares (como os exemplos que definimos anteriormente). Os diferentes tipos de inteligência podem ser desenvolvidos através da prática e do reforço, por isso não são completamente inatos, o potencial humano desempenha um papel muito importante na promoção das inteligências múltiplas, de acordo com Gardner.

Tipos de inteligências múltiplas e exemplos de acordo com Gardner

Na edição de 1983 do livro "As inteligências múltiplas", Gardner afirma a existência de sete tipos de inteligência, no entanto, hoje em dia podemos listar oito tipos de inteligência segundo Howard Gardner.

Vejamos cada uma dessas inteligências múltiplas com exemplos:

1. A inteligência linguística-verbal

A inteligência verbal é aquela que se pode observar em pessoas com facilidade para expressar, compreender e desenvolver mensagens verbais complexas. Graças à inteligência linguística podemos aprender novos idiomas com mais facilidade, as áreas cerebrais como a área de Broca e Wernicke (encarregadas da produção e compreensão da linguagem) geralmente estão mais desenvolvidas nestes casos.

É a capacidade de empregar de maneira eficaz as palavras, manipulando a estrutura ou sintaxe da linguagem, a fonética, a semântica, e suas dimensões práticas. Podemos encontrar este tipo de inteligência nas crianças que adoram escrever histórias, ler, brincar com rimas, trava-línguas e naquelas que aprendem com facilidade outros idiomas.

2. A inteligência física-cinestésica

É a habilidade para usar o próprio corpo para expressar ideias, sentimentos e suas particularidades de coordenação, equilíbrio, destreza, força, flexibilidade e velocidade, além de proprioceptivas e táteis.

É apreciada em crianças que se destacam em atividades esportivas, dança, expressão corporal e/ou em trabalhos de construções utilizando diversos materiais concretos. Também naquelas que são hábeis na execução de instrumentos.

3. A inteligência lógico-matemática

É a capacidade de manipular números, relações e padrões lógicos de maneira eficaz, bem como outras funções e abstrações deste tipo.

As crianças que a desenvolveram analisam com facilidade abordagens e problemas. Aproximam-se dos cálculos numéricos, estatísticos e orçamentos com entusiasmo.

4. A inteligência espacial

É a habilidade de apreciar com certeza a imagem visual e espacial, de representar graficamente as ideias, e de sensibilizar a cor, a linha, a forma, a figura, o espaço e suas inter-relações.

Ela está nas crianças que estudam melhor com gráficos, esquemas, quadros. Gostam de fazer mapas conceituais e mentais. Entendem muito bem planos e esboços.

5. A inteligência musical

É a capacidade de perceber, distinguir, transformar e expressar o ritmo, timbre e tom dos sons musicais.

As crianças que evidenciam isso, se sentem atraídas pelos sons da natureza e por todo o tipo de melodias. Gostam de seguir o compasso com o pé, batendo ou sacudindo algum objeto ritmicamente.

6. A inteligência interpessoal

É a possibilidade de distinguir e perceber os estados emocionais e sinais interpessoais dos demais, e responder de maneira efetiva a essas ações de forma prática.

As crianças que a tem gostam de trabalhar em grupo, são convincentes em suas negociações com colegas e adultos, que entendem o parceiro.

7. A inteligência intrapessoal

É a habilidade da introspecção e de agir consequentemente sobre a base do conhecimento, de ter uma autoimagem bem-sucedida e capacidade de autodisciplina, compreensão e amor próprio.

É evidenciado em crianças que são reflexivas, de raciocínio correto e geralmente são conselheiras de seus pais. Howard Gardner coloca como exemplo uma criança autista para ilustrar este tipo de inteligência prejudicada "a criança pode ser incapaz de se referir a si mesma. Ao mesmo tempo, muitas vezes mostra habilidades extraordinárias na área musical, espacial ou mecânica"

8. A inteligência naturalista

A mais recente adição à lista das inteligências múltiplas é a inteligência naturalista (adicionada na edição de 1995)[2]. Essa é definida como a capacidade de distinguir, classificar e utilizar elementos do meio ambiente, objetos, animais ou plantas. Tanto do ambiente urbano como suburbano ou rural. Inclui as habilidades de observação, experimentação, reflexão e questionamento do nosso entorno.

Ocorre em crianças que amam os animais, as plantas; que reconhecem e gostam de investigar características do mundo natural e do feito pelo homem.

Inteligências múltiplas em sala de aula: atividades para a educação

Com a ajuda de Howard Gardner, o educador e escritor Thomas Armstrong decidiu aplicar a teoria das inteligências múltiplas no âmbito educativo, escrevendo assim seu famoso livro "Inteligências Múltiplas na Sala de Aula[3]" em 1999.

Neste livro, Armstrong propõe estudar e descrever as inteligências dos alunos com o objetivo de poder desenvolver as inteligências múltiplas na sala de aula. O mesmo educador admite que desenvolver um perfil de inteligências múltiplas não é algo fácil, no entanto, nos propõe uma série de afirmações para cada tipo de inteligência para que possamos classificar as crianças de maneira correta de acordo com o que se identificam ou não com tais afirmações.

Inteligências múltiplas e estratégias de ensino

Para promover o desenvolvimento pessoal e o potencial humano dos alunos, é importante aplicar uma estratégia de ensino à cada aluno de acordo com o tipo de inteligência que queremos trabalhar. Por exemplo, se queremos desenvolver a inteligência espacial, podemos realizar as seguintes dinâmicas:

  • Visualização
  • Sinais de cores
  • Metáforas gráficas
  • Esboços de ideias
  • Símbolos gráficos

Por outro lado, se o que queremos é promover a inteligência interpessoal, as estratégias de ensino serão as seguintes:

  • Compartilhar com os colegas
  • Fazer grupos de cooperação
  • Jogos de tabuleiro
  • Jogos de simulação entre os colegas

Atualmente se fala do desenvolvimento integral da criança, ou seja, inclui todos os aspectos do desenvolvimento (físico, sexual, cognitivo, social, moral, linguagem, emocional, etc.), isso é baseado na teoria do Desenvolvimento das Inteligências Múltiplas.

Existem dois tipos de experiências chaves extremas no desenvolvimento das inteligências que é importante levar em consideração, as experiências cristalizadoras e as experiências paralisantes.

  • As primeiras, as experiências cristalizadoras, são marcos na história pessoal, chaves para o desenvolvimento do talento e das habilidades nas pessoas. Frequentemente esses fatos são produzidos na primeira infância. Essas experiências são as que acendem a centelha de uma inteligência e iniciam seu desenvolvimento até a maturidade.
  • Por outro lado, as experiências paralisantes existem como contrapartida às anteriores, se referem aquelas experiências que bloqueiam o desenvolvimento de uma inteligência, estão cheias de emoções negativas, capazes de conter o desenvolvimento normal das inteligências. Sensações de medo, vergonha, culpa, ódio, impedem o crescimento intelectual. É provável que, após essa experiência uma criança decida não se aproximar mais de um instrumento musical ou não desenhar mais porque já decidiu que “não sabe como fazê-lo”.

Atividades para desenvolver as inteligências múltiplas

A Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner tem impactado aqueles que estão envolvidos de uma forma ou de outra no processo de ensino-aprendizagem. Em muitas cidades dos Estados Unidos, em Porto Rico, Filipinas, Singapura, e também na Europa, surgiram escolas onde são realizadas atividades destinadas ao desenvolvimento das diferentes inteligências que o indivíduo possui.

Quanta possibilidade intelectual e quanta capacidade de desenvolvimento possuímos! No entanto, quando analisamos os programas de ensino ministrados em muitas instituições e que obrigam os alunos, as crianças a seguir, observamos que se limitam a se concentrar predominantemente nas inteligências linguística e matemática, dando a mínima importância às outras possibilidades de conhecimento. Razão pela qual muitos alunos que não se destacam no domínio das inteligências acadêmicas tradicionais, não têm reconhecimento e, assim, diluem sua contribuição ao âmbito cultural e social, e alguns chegam a pensar que são fracassados, quando na realidade, estão suprimindo seus talentos.

Pelo exposto acima, sabemos então que não existe uma inteligência geral que cresça ou estagna, mas um elenco múltiplo de aspectos da inteligência, alguns muito mais sensíveis que outros à modificação de estímulos adequados.

Aulas de inteligências múltiplas

Já se fala em “Escolas de Inteligências Múltiplas”, onde os estudantes aprendem e se fortalecem intelectualmente através de um currículo que ao invés de enfatizar o ensino através das inteligências, as escolas enfatizam o ensino “para” a inteligência. Os alunos são motivados para que possam alcançar os objetivos que se propuseram a alcançar.

Os professores desenvolvem estratégias didáticas que levam em consideração as diferentes possibilidades de aquisição do conhecimento que a criança tem. Se ele não compreende através da inteligência que é escolhida para informá-lo, consideram que existem pelo menos mais sete caminhos diferentes para tentar.

Os pais têm participação ativa no planejamento de atividades que ajudam a enriquecer o currículo e participam de reuniões onde são discutidos os progressos dos seus filhos, além disso, estimulam em casa, compreendem e incentivam seus filhos no desenvolvimento de suas habilidades.

Abre-se, assim, a partir dessa Teoria das Inteligências Múltiplas uma ruptura com velhos paradigmas do ensino.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

Se pretende ler mais artigos parecidos a Tipos de inteligências múltiplas e a teoria de Howard Gardner, recomendamos que entre na nossa categoria de Psicologia cognitiva.

Referências
  1. Fragmento del libro de Gardner, H. (2016). Estructuras de la mente: la teoría de las inteligencias múltiples. Fondo de cultura económica
  2. Gardner, H. (1995). Inteligencias múltiples (Vol. 1). Barcelona: Paidós.
  3. Armstrong, T., Rivas, M. P., Gardner, H., & Brizuela, B. (1999). Las inteligencias múltiples en el aula. Buenos Aires, Argentina: Manantial.