Transtornos dissociativos: o que são, sintomas, causas e tratamento

Transtornos dissociativos: o que são, sintomas, causas e tratamento

Alguma vez você teve a sensação de estar vivendo um sonho? Se a forma como você percebe o mundo é a mesma nos sonhos, isto é, você o vê como algo distorcido e distante, pode ser que você tenha experimentado um transtorno dissociativo. Nestes casos, talvez até se perceba a si mesmo/a de uma forma diferente e sinta que não é você mesmo. Pode ser que você não se note da mesma forma fisicamente, não porque tenha ganhado ou perdido peso, mas devido a você se perceber de fora diferente ou se ver de fora de seu corpo, como se fosse um estranho.

Os transtornos dissociativos causam este tipo de sintomatologia que não te permite se identificar consigo mesmo/a nem com o que está ao seu redor. Se você quer saber mais sobre este tipo de alterações psicológicas, neste artigo de Psicologia-Online falaremos sobre os Transtornos dissociativos: o que são, sintomas, causas e tratamento.

O que são os transtornos dissociativos

Segundo Spiegel (1991), a dissociação é a separação estruturada dos processos mentais, como os pensamentos, a memória ou a identidade, que normalmente estão integrados. Quatro anos mais tarde, em 1995, a APA (American Psychologist Association) o definiu como a alteração das funções integradoras da identidade, a memória ou a consciência.

Tipos de transtornos dissociativos

Quais são os transtornos dissociativos? Descubra-os a seguir:

  • Amnésia dissociativa: incapacidade de recordar de informação autobiográfica importante que não pode ser explicada por uma doença ou dano cerebral.
  • Transtorno de identidade dissociativa ou personalidade múltipla: presença de duas ou mais identidades ou estados da personalidade que implica uma descontinuidade do sentido do eu.
  • Transtorno de despersonalização/desrealização: experiências de distanciamento a respeito de si mesmo/a e/ou experiência de distanciamento do entorno sempre que o sentido da realidade permaneça intacto.
  • Outro transtorno dissociativo especificado: alteração da identidade devido a uma persuasão coercitiva prolongada ou "lavagem cerebral", reações dissociativas agudas a eventos traumáticos (transitórias) ou perda de consciência do entorno imediato (transe dissociativo).
  • Transtorno dissociativo não especificado: qualquer alteração com formas de dissociação patológica diferentes das mencionadas anteriormente.

Sintomas dos transtornos dissociativos

Os sintomas dos transtornos dissociativos são muito diversos. As pessoas que experimentam dissociações patológicas podem apresentar os seguintes sintomas:

  • Intrusões espontâneas na consciência e no comportamento.
  • Fragmentação da identidade.
  • Despersonalização.
  • Desrealização.
  • Incapacidade de acessar as informações ou de controlar as funções mentais que normalmente são facilmente acessíveis ou controláveis.
  • Amnésia.

Causas dos transtornos dissociativos

Não se conhecer uma causa clara dos transtornos dissociativos, isto é, não há uma etiologia específica e clara que explique os sintomas que provocam. Mesmo assim, habitualmente se associaram aos transtornos traumáticos com a presença de estressores traumáticos e também se identificam como um sintoma de outros transtornos graves.

O fator precipitante por excelência, e que é aparentemente o fator comum em diversas pesquisas, é vivenciar um evento traumático ou momentos vitais estressantes acumulados. No entanto, foram elaboradas teorias com as quais se poderia explicar os sintomas dos transtornos dissociativos. As veremos a seguir:

  • Teoria Neodissociativa (Hilgard, 1977): esta teoria explica o transtorno partindo da consciência e o controle executivo. Hilgard diz que produz uma consciência dividida pela intervenção, em determinadas circunstâncias, do controle executivo, interrompendo assim a integração e organização hierárquica das estruturas de controle inferiores. De forma definitiva, se rompe a conexão e há uma diminuição do controle voluntário.
  • Teoria da memória (Kihlsstroom, 1990): expõe que um processo se torna consciente apenas se for estabelecida uma conexão entre a representação mental do acontecimento e de si mesmo como agente do acontecimento. Nesse caso, se isso não ocorrer, não pode haver dissociação.

Tratamento dos transtornos dissociativos

O tratamento dos transtornos dissociativos é complicado, já que implica a alteração e divisão da consciência. Dada sua natureza, não se recomenda o uso de hipnose ou terapias similares, já que podem provocar um efeito contrário ao desejado e aumentar os sintomas. Além disso, o tratamento dos transtornos dissociativos varia em função da sintomatologia que o indivíduo apresenta e do transtorno específico que se manifestar.

Mesmo assim, nestes casos, a base do tratamento geralmente é a psicoterapia complementada com remédios psiquiátricos nos casos em que haja comorbidade com outros transtornos, ou quando for necessária uma estabilização rápida para poder realizar a primeira entrevista e obter informações claras.

Para ficar mais evidente, exporemos um exemplo de como tratar o transtorno de identidade dissociativo em diferentes fases:

  1. Estabilizar a sintomatologia.
  2. Abordar as memórias traumáticas que possam dar lugar à aparição da dissociação em personalidades múltiplas.
  3. Integrar e reabilitar as diferentes partes da consciência que se dividiram.

No entanto, existem autores que apelam por trabalhar através de diferentes partes nas quais se encontra dividida a consciência, buscando a funcionalidade e a otimização da organização interna do indivíduo. De forma definitiva, os especialistas concordam que é preciso abordar o evento traumático que precipitou os sintomas dissociativos no paciente para reduzi-la e obter um rendimento ótimo no dia a dia.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
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Bibliografia
  • Belloch, A., Sandín, B., Ramos, F., (2009). Manual de psicopatología, volumen II. Madrid. McGraw Hill / Interamericana de España, S.A.U.
  • Rubio, J. C., & García, M. O. (2019). Trastornos disociativos. Medicine-Programa de Formación Médica Continuada Acreditado, 12(84), 4938-4946.
  • Vázquez, A., (2018). TRATAMIENTO DE LOS TRASTORNOS DISOCIATIVOS. 9º Congreso virtual de psiquiatría. Interpsíquis.