Conflitos familiares

Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos

Equipe editorial
Por Equipe editorial. Atualizado: 1 agosto 2019
Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos

Podemos definir a violência doméstica ou intrafamiliar como a violência que ocorre dentro da família, quando o agressor compartilha ou compartilhou o mesmo domicílio no passado, e que inclui, entre outros, violação, maltrato físico, psicológico e abuso sexual (violência doméstica sexual). Entendemos que a violência doméstica é um modelo de comportamentos aprendidos e coercitivos que envolvem abuso físico ou a ameaça de abuso físico. Também pode incluir abuso psicológico repetido, ataque sexual, isolamento social progressivo, castigo, intimidação e/ou coerção econômica.

Existem autores que assinalam que este tipo de agressões ocorre basicamente por três fatores: a falta de controle dos impulsos, a carência afetiva e a incapacidade para resolver problemas adequadamente. Em algumas pessoas também podem existir variáveis de abuso de álcool e drogas. Se você quer saber mais sobre a violência doméstica: maltrato contra a mulher e filhos, recomendamos que você continue lendo esse artigo de Psicologia-Online.

Índice

  1. O que é violência doméstica
  2. Violência doméstica infantil
  3. A codependência na violência de gênero
  4. Ciclo da violência doméstica
  5. Personalidade do agressor
  6. Como identificar violência doméstica
  7. Manifestações de violência psicológica
  8. Por que a vítima continua no relacionamento abusivo?
  9. Violência doméstica contra a mulher: causas
  10. Violência doméstica: consequências
  11. Violência doméstica no Brasil

O que é violência doméstica

A violência doméstica se define como um conjunto de atos que atentam contra a integridade física, psicológica, social e/ou econômica de algum membro da família. De forma geral, as vítimas da violência intrafamiliar costumam ser as crianças e as mulheres.

Todos sabemos que é triste e doloroso arrastar a vida quando não se recebeu amor, sobretudo da parte dos pais durante a infância. Qualquer pessoa que estudou um pouco do ser humano concorda que os cinco primeiros anos de vida deixam uma marca inapagável para a toda a vida, para o bem e para o mal.

Por isso, privar uma criança de amor é como privar uma árvore que começa a crescer de fertilizante e, ao mesmo tempo, a agressão é como um veneno, acabando por matar a criança psicológica e emocionalmente ou por fazer com que cresça machucada e ferida. Existem vários tipos de agressões, alguns deixam sangue e hematomas e podem até levar à morte, mas outros mais subtis não podem ser vistos, sendo gravados lentamente na mente e na identidade dessa criança. Acabam se gravando no seu "eu" e os frutos dessas agressões emocionais se tornam evidentes mais tarde nas suas relações com os outros e na sua relação com o mundo.

Violência doméstica infantil

É importante falar detalhadamente desse tipo de agressão que apenas é visto e escutado pelo agressor, embora ele não esteja considerando as terríveis consequências futuras que a sua ação vai trazer aos seus filhos.

É claro que, quando se repetem as agressões físicas, sobretudo as psicológicas ou emocionais, o amor vai esgotando. Nós, adultos, sabemos como o silêncio machuca, talvez até mais que as palavras ofensivas: esse silêncio é o pior dos castigos. Agora imagine uma criança que não fez nada de errado e com quem ninguém fala, que ninguém acarinha: como se forma a sua identidade?

Os agressores não consideram os danos que provocam nos seus filhos quando, possivelmente sem serem conscientes disso, estão preocupados com o trabalho, com a limpeza, etc,. ao invés de se relacionarem com eles. São todas estas agressões que vão formando defeituosamente a escultura do seu filho ou filha.

A criança recebe silêncio e ausência quando é repreendida por pequenos erros, mas o agressor não aplaude quando ela faz algo bem. Por exemplo, quando a criança começa na escolinha e faz um desenho (que podem ser apenas quatro traços mas que, para ele, são uma obra de arte), o agressor guarda silêncio e não abraça ou elogia a criança. Estas pequenas agressões fazem com que a criança apenas veja os erros e não as qualidades das pessoas que a rodeiam.

Consequências da violência doméstica nas crianças

Todas estas agressões emocionais e psicológicas são muito prejudiciais na infância porque o menino ou a menina não sabem como se defender; a sua mente começa a desenvolver lentamente determinados mecanismos de defesa para poder filtrar e analisar tudo o que escuta e vê. A sua mente é como uma esponja: recebe tudo. Não tem capacidade para dizer que algo é verdadeiro ou falso, distinguindo apenas o que é justo ou injusto. É por isso que as mensagens-agressões são como ondas gigantes que chegam sem controle ao mais profundo interior desse ser indefeso. No entanto, que diferente é a infancia e o futuro das crianças quando elas sentem o amor entre o pai e a mãe, quando desde pequenos podem ver que a sua mãe recebe o pai com um beijo ou um abraço quando ele chega do trabalho e que ele traz um ramo de flores para a sua esposa. São detalhes que ficam grabados na memória das crianças, que vão moldando a sua personalidade, que enchem o seu coração de amor. Essa é, sem dúvida, a melhor herança que você pode deixar aos seus filhos.

Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos - Violência doméstica infantil

A codependência na violência de gênero

Em todas as famílias, existe um pouco de disfuncionalidade, em maior ou menor grau. Com frequência, pessoas co-dependentes foram vítimas de algum tipo de abuso físico ou verbal, ou sofreram o abandono de um ou de ambos os pais, quer seja físico ou emocional.

As causas da codependência

O codependente busca alívio em algum vício para anestesiar a sua dor. Por vezes, isto é feito através de relações pessoais disfuncionais e, em alguns casos, tóxicas; ou através de vício em dinheiro, sexo, raiva, drogas, bebida, etc. O codependente está amarrado ao que aconteceu com a sua família de origem e se sente internamente torturado por isso, embora na maioria das vezes não saiba o que está acontecendo com ele próprio.

Cada um de nós tem uma necessidade inata de receber amor. Podemos chamar esta necessidade de "tanque de amor". Quando a criança nasce, o tanque está vazio. Se os pais são pessoas emocionalmente saudáveis cujos tanques de amor estão cheios, podem encher o tanque dos filhos e eles vão crescer e se desenvolver de um jeito psicologicamente saudável. No entanto, se um ou ambos os pais não têm o seu próprio tanque cheio, o mais provável é que a criança não receba amor suficiente porque o seu pai ou a sua mãe não tinham suficiente para dar. Esta falta de amor deixa cicatrizes na alma das crianças que dão origem a comportamentos disfuncionais na idade adulta, como a codependência. O codependente não pode dar o que não recebeu, por isso a codependência se torna un ciclo vicioso que se transfere de geração para geração quando não se procura ajuda psicológica.

As crianças de famílias disfuncionais cresceram sem escutar mensagens importantes dos seus pais tais como "você é inteligente", "você está fazendo um bom trabalho" ou "obrigado meu amor, agradeço muito a sua ajuda". Devido a isso, as crianças crescem sentindo-se abandonadas, têm baixa autoestima e procuram a aprovação de outras pessoas para se sentirem melhor com elas próprias. Por vezes, a sua fome de amor e aprovação são tão grandes quando atingem a adolescência ou a idade adulta, que estão dispostos a suportar qualquer coisa, mesmo que seja para receber apenas "migalhas" de carinho e atenção.

Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos - A codependência na violência de gênero

Ciclo da violência doméstica

No início da maioria das relações, é muito raro encontrar violência de gênero. Durante este período, o comportamento geral é positivo e cada membro do casal mostra o seu lado positivo, já que a probabilidade de que o parceiro termine o relacionamento após um episódio de violência é muito alta. Em seguida, demonstramos a abordagem teórica de Leonor Walker sobre o ciclo da violência doméstica. A dinâmica da violência intrafamiliar funciona como um ciclo que passa por três fases:

    Fase 1. Acumulação de tensão

    • À medida que a relação avança, a exigência aumenta, assim como o estresse.
    • Há um aumento do comportamento agressivo, mais habitualmente em relação a objetos que ao parceiro ou parceira. Por exemplo, murros na parede, jogar objetos no chão, quebrar coisas.
    • O comportamento violento é reforçado pelo alívio da tensão logo após a violência.
    • A violência evolui desde os objetos até ao parceiro e pode existir um momento de abuso verbal e de abuso físico.
    • O parceiro tenta modificar o seu comportamento para evitar a violência. Por exemplo: manter a casa cada vez mais limpa, as crianças mais silenciosas, etc.
    • O abuso físico e verbal continua.
    • A mulher(mais comum) começa a sentir-se responsável pelo abuso.
    • O agressor começa a ficar obcecado com ciúmes e tenta controlar tudo o que pode: o tempo e o comportamento da mulher (como se veste, onde vai, com quem está, etc.)
    • O agressor tenta isolar a vítima da sua família e amigos. Pode dizer, por exemplo, que se eles se amam não necessitam de mais ninguém, ou que as pessoas de fora estão tentando manipular o agredido e que estão loucas, etc.

    Esta fase muda de acordo com cada caso, a duração pode ser de semanas, dias, meses ou anos. No entanto, vai ficando cada vez mais curta com o passar do tempo.

    Fase 2. Episódio agudo de violência (explosão)

    • Surge a necessidade de descarregar as tensões acumuladas.
    • O abusador faz uma escolha sobre a sua violência. Decide tempo e lugar para o episódio, faz uma seleção consciente sobre que parte do corpo agredir e como decorrerá a agressão.
    • Como resultado do episódio, a tensão e o estresse desaparecem no agressor. Se existe intervenção da polícia, ele se mostra calmo ou relaxado, enquanto a mulher parece confusa e histérica devido à violência que acaba de sofrer.

    Fase 3. Período de calma, arrependimento ou lua de mel

    • É caracterizada por um período de calma, não violento, e de demonstrações de amor e carinho.
    • Nessa fase, é possível que o agressor assuma parte da responsabilidade pelo episódio agudo, oferecendo à vítima alguma esperança de mudança no futuro. Os dois agem como se nada tivesse acontecido, prometem procurar ajuda, prometem que não voltará a acontecer, etc.
    • Se não há intervenção e a relação continua, existe uma grande possibilidade de que a violência aumente, assim como a gravidade da mesma.
    • Excepto quando o agressor recebe ajuda para aprender métodos apropriados para controlar o seu estresse, esta fase apenas dura algum tempo e volta a começar o ciclo que se retroalimenta a ele mesmo.
    • Após um tempo, tudo volta à primeira fase e o ciclo de violência de gênero volta ao início.

    O homem agressor não se cura sozinho, deve sempre receber tratamento. Se a esposa continua com ele, o ciclo volta a começar uma e outra vez, cada vez com mais violência.

    Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos - Ciclo da violência doméstica

    Personalidade do agressor

    Os agressores costumam vir de lares violentos, costumam sofrer de transtornos psicológicos e muitos deles tomam álcool e drogas, potenciando assim a sua agressividade. Possuem um perfil determinado de imaturidade, dependência afetiva, insegurança, falta de estabilidade emocional, impaciência e impulsividade.

    Habitualmente, os abusadores transferem a agressão acumulada em outros âmbitos para as suas mulheres.

    Com frequência, o agressor é uma pessoa isolada, não tem amigos próximos, é ciumento, possui baixa auto-estima que o deixa frustrado e, por isso, tem atitudes violentas.

    Uma investigação dos psicólogos norteamericanos Dr. John Gottman e Dr. Neil Jacobson indica que os homens violentos caem em duas categorias: pitbull e cobra, com suas próprias características pessoais:

    Pitbull:

    • Apenas é violento com as pessoas que ama
    • É ciumento e tem medo do abandono
    • Priva a parceira da própria independência
    • Espia e ataca publicamente a parceira
    • O seu corpo tem uma resposta violenta a discussões
    • Tem potencial para reabilitação
    • Não foi acusado de nenhum crime
    • Possivelmente teve um pai abusivo

    Cobra:

    • Agressivo com todo o mundo
    • Propenso a fazer ameaças com arma branca
    • Se tranquiliza internamente quando se torna agressivo
    • Difícil de tratar com terapia psicológica
    • Depende emocionalmente de outra pessoa, mas insiste em que a parceira faça o que ele quer
    • Possivelmente já foi acusado de algum crime
    • Abusa de álcool e drogas

    O pitbull espia a sua mulher, é ciumento e tem bom relacionamento com o todo o mundo, excepto sua esposa ou namorada. O cobra é sociopata, frio, calculador, podendo ser carinhoso em alguns momentos e a sua agressão não cessa por ela mesma.

    Depois de que a mulher tenha sido fisicamente maltratada e sinta medo, é possível que este tipo de abuso cesse e seja substituído por um maltrato psicológico constante que deixa claro para a vítima que o abuso físico pode voltar a qualquer momento.

    Em alguns casos, a violência do agressor oculta o medo ou a insegurança que sentiu na infância na frente de um pai agressivo com frequência e, ao chegar à idade adulta, prefere adotar a personalidade do pai abusador que sentir-se fraco e assustado. Em outros casos, os comportamentos ofensivos são consequência de uma infância demasiado permissiva nas quais os pais tentaram agradar a criança em todos os momentos. Isso faz com que a criança acredite que é superior quando chega a adulta e a pense que está acima da lei. Ela pensa que merece tratamento especial, melhor que os que os demais recebem.

    Como identificar violência doméstica

    A violência doméstica ou maltrato intrafamiliar nem sempre são fáceis de definir ou reconhecer. Em termos gerais, podemos designá-la como o uso deliberado da força para controlar ou manipular o parceiro ou ambiente mais próximo.

    Se trata de abuso psicológico, sexual ou físico habitual. Ocorre entre pessoas com relação afetiva, como são marido e mulher adultos contra os menores que vivem na mesma casa.

    A violência doméstica não é apenas o abuso físico, as agressões ou as feridas. A violência psicológica e sexual são ainda mais terríveis que a violência física pelo trauma que provocam, já que é algo que não se pode ver. Existe violência quando se ataca a integridade emocional ou espiritual de uma pessoa.

    A violência psicológica é mais difícil de detectar. Quem sofreu de violência intrafamiliar física tem marcas visíveis e pode conseguir ajuda mais facilmente. No entanto, a vítima com cicatrizes do tipo psicológico tem mais dificuldade em provar a agressão. As capacidades de manipulação do agressor também podem ser um obstáculo, já que ele descreverá a vítima como sendo exagerada nas queixas ou simplesmente louca.

    A violência física precede, por vezes, anos de violência psicológica. A violência psicológica consiste em desprezar a mulher, insultá-la de tal forma que chega a um momento no qual a mulher maltratada psicologicamente já acredita que merece essa violência. Nesse momento, pode ser muito difícil convencer uma mulher a buscar ajuda quando ela acredita que não precisa.

    Algumas mulheres têm vergonha do que está acontecendo com elas, chegando até a acreditar que merecem os abusos. Por esse motivo, preferem manter os abusos em segredo, fazendo com que a situação se prolongue por muitos anos. Os indivíduos que maltratam as suas vítimas obedecem a um padrão de abuso psicológico.

    Assim como um alcoólico, o agressor de gênero que usa violência física, psicológica ou sexual, o primeiro que fará é negá-lo. Negação é dizer: "não, eu tive motivos para fazê-lo". Não existe nenhum motivo para agredir qualquer outra pessoa, mas ainda assim a negação continuará.

    Outra forma de abuso psicológico é o isolamento, no qual a mulher é ignorada: o agressor não fala nem olha para a vítima e ela começa a acreditar que merece esse tratamento.

    A intimidação também é um abuso: "Se você falar, eu te mato". Muitas mulheres não se atrevem a falar, pelas ameaças de que o seu marido ou companheiro se vire contra elas. Tanto um toxicodependente como um abusador sempre terão desculpas e culparão outra pessoa.

    Também dentro desse hábito de abuso psicológico, encontramos o abuso econômico: "se você contar para alguém, não te darei mais dinheiro". Dentro desse tipo de abuso psicológico dos maridos agressores (o que se chama em psicologia de triangulação), existe outro tipo de abuso: usar os filhos para fazer com que a mulher se sinta culpada. Neste caso, os filhos servem até de mensageiros: "fale para a sua mãe que...". Ameaças através dos filhos, ameaças de que a vítima não poderá mais ver o filho, tudo isso são abusos psicológicos que precedem o abuso físico.

    Todos essa violência intrafamiliar psicológica impede que a mulher deixe o lar violento. A violência psicológica afeta muitas mulheres e pode ser bem pior que o abuso físico em muitos casos.

    Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos - Como identificar violência doméstica

    Manifestações de violência psicológica

    Uma das modalidades mais subtis e, ao mesmo tempo, comuns de violência intrafamiliar é a violência ou maltrato psicológico, que pode aparecer das seguintes formas:

    • Abuso verbal: Rebaixar, insultar, ridicularizar, humilhar, fazer jogos mentais e ironias para confundir, etc.
    • Intimidação: Assustar com olhares, gestos ou gritos. Atirar objetos ou destruir a propriedade.
    • Ameaças: De ferir, de matar, de suicidar-se, de levar os filhos.
    • Abuso econômico: controlo abusivo de finanças, recompensas ou castigos monetários, impedir a vítima de trabalhar embora seja necessário para o sustento da família, etc.
    • Abuso sexual: Imposição do uso de anticoncepcional, pressão para abortar, menosprezo sexual, imposição de relações sexuais contra a própria vontade.
    • Isolamento: controlo abusivo da vida do outro através de vigilância dos seus atos e movimentos, escutar as conversas da vítima, impedimento de cultivar amizades, etc.
    • Desprezo: tratar o outro como inferior, tomar decisões importantes sem consultar o outro.

    Por que a vítima continua no relacionamento abusivo?

    A pessoa abusada acaba por se tornar codependente do agressor, mesmo depois de ser agredida. É frequente escutar a vítima dizer que ama o agressor e que apenas não se separa dele por amor. Neste caso, o "amor" é uma dependência do abusador.

    Outro motivo pelo qual algumas mulheres não se afastam desse problema de codependência é que, lamentavelmente, a família e a Igreja incentivam que elas continuem do lado do agressor, quer seja pelo bem dos filhos ou pela incapacidade para criá-los sozinha. Mas o que é melhor, ter um pai que agride a mãe e que em breve agredirá os filhos, ou não ter pai? É muito mais prejudicial para uma criança ver a sua mãe ser agredida pelo pai. Para as crianças pequenas, a mãe é a base de toda a sua vida, do seu afeto, da sua segurança. Se uma mãe é violentada, os filhos vão sofrer afetivamente, sendo menos traumático que os pais se separem.

    Por vezes, as mulheres não se separam e sofrem em silêncio por medo de perder a sua segurança econômica e a dos seus filhos. As vítimas suportam o que for preciso para não perder o sustento da família. Normalmente, falamos de mulheres com pouca preparação acadêmica, conscientes de que não podem viver confortavelmente sem o marido. Em outros casos, a vítima não se separa do agressor devido às ameaças de mais violência ou de morte caso tente.

    Quando se pergunta a algumas mulheres porque suportaram o maltrato por tantos anos, a resposta mais comum é "não queria que meus filhos ficassem sem um pai". Parece uma resposta válida mas, se analisarmos profundamente, descobrimos a sua inconsistência, já que em situações de violência os filhos também sofrem. O crescimento em uma atmosfera de medo, tensão e terror influenciará negativamente o seu desenvolvimento emocional e, mais tarde, se manifestará através do abandono escolar, uso de drogas, transtornos psicológicos e violência e delinquência.

    Violência doméstica e violência de gênero

    O pior é que a mulher abusada repetidamente acaba se destruindo psicologicamente, destruindo a sua identidade individual, o seu "eu". Isso acaba diminuindo a sua capacidade para tomar a decisão correta. Cai na ambivalência efetiva ("Que bom que é quando ele não me agride!") e a sua autoestima desce até ela acreditar que merece todos esses insultos e agressões.

    Quando uma pessoa chega a esse nível, a sua capacidade de decisão se torna quase nula. Ao ameaçar uma pessoa assim com um "se você denunciar, eu te mato", ela ficará paralisada. Talvez num último instinto de sobrevivência reaja, mas usando as mesmas armas que o agressor. O amor não deve doer, já que implica confiança, comunicação, carinho e ajuda no crescimento emocional e espiritual. Consiste em partilhar a vida com alegria, falar sobre as diferenças e preferências e respeitar a integridade física, moral e espiritual da pessoa amada.

    As mulheres que aguentam uma relação abusiva indefinidamente acabam perdendo a saúde física e mental, adoecem, toda a família termina doente.

    Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos - Por que a vítima continua no relacionamento abusivo?

    Violência doméstica contra a mulher: causas

    Primeiro existe uma raiz cultural histórica (relacionada com o sistema patriarcal). Durante muito tempo, a nossa sociedade foi muito machista e o homem acreditou ter o direito primário de controlar, disciplinar severamente e até mesmo abusar da vida da mulher e dos filhos. Isso aconteceu graças à aparência de papel econômico do homem como provedor de alimentação. Esse papel foi se mantendo na nossa sociedade e é por isso que, hoje em dia, as mulheres continuam sendo vítimas de abusos, violações, disparidade de salários e assédio no trabalho.

    Outra causa é a cultura atual, já que o modelo presente da nossa sociedade reforça o uso da força para resolver os problemas, como é o caso da guerra. Por isso o abusador usa a força física, para manter o poder e o controlo sobre a mulher, porque aprendeu que a violência é eficaz para obter esse objetivo de controlo.

    A violência doméstica ocorre em todos os níveis da sociedade, não só em famílias pobres, também em famílias de muito dinheiro em qualquer raça ou religião. No entanto, se uma mulher rica for agredida,pode ir a uma clínica privada tranquilamente, sem envolver autoridades. Já no caso das mulheres pobres que precisam ser vistas no hospital, a polícia é alertada pelo médico.

    Outra causa do problema são os meios de comunicação. Na televisão, nos filmes e nos videojogos, a violência é glorificada e muitos dos esterótipos que nos são apresentados diariamente são de violência sexual. Quando um marido tem relações forçadas com a sua esposa, por exemplo, isso é chamado de violência sexual, já que a mulher também tem direito a dizer que não.

    Em muitos casos, também a violência doméstica está intimamente relacionada com o álcool e as drogas. O que acontece quando uma pessoa consome drogas ou bebe álcool? Nessa parte do cérebro, encontramos os centros vitais que partilhamos com os animais, sendo onde encontramos o centro de agressividade ou do instinto agressivo. Todas as pessoas têm esse centro, homens e mulheres. Contudo, na pessoa normal, esses centros comunicam com a parte consciente do homem, sendo que é isso que distingue um ser humano de um animal. Quando uma pessoa toma álcool ou usa qualquer droga, estes centros se tornam um barco sem leme, fazendo com que a agressividade e o instinto sexual percam o controle. Dito isso, o próximo passo será agredir a mulher os filhos sob o efeito de álcool e abusar dela sexualmente. Em 50% dos casos conhecidos de abuso sexual dos filhos, falamos de agressores alcoólicos ou dependentes de alguma substância que perdem o controle desses centros. As memórias, os valores e os conselhos não funcionam quando alguém abusa de álcool ou drogas, dando origem à violência contra a família.

    Apesar da chamada "liberação feminina", ainda existem homens que consideram a esposa e os filhos como propriedade e, por isso, acreditam que têm o direito de descarregar a sua frustração neles sempre que querem.

    Como os filhos imitam os pais, é muito comum encontrar pessoas que presenciaram abusos físicos entre os seus pais na infância repetindo o mesmo comportamento em adultos. Aprenderam que os problemas e conflitos se enfrentam com a força bruta.

    Esta aprendizagem negativa se absorve tanto que pode passar de geração em geração. Se, a isto, somamos a "glorificação" da violência nos meios de comunicação, podemos entender porque muitos seres humanos recorrem a ela.

    A experiência ensina que muitos abusadores intrafamiliares parecem inofensivos, passam por pessoas educadas e simpáticas, mas no fundo são indivíduos ciumentos com uma pobre imagem deles mesmos e que vivem em um mundo irreal. Quando essas pessoas bebem demasiado, algo comum, a explosão violenta será muito maior.

    Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos - Violência doméstica contra a mulher: causas

    Violência doméstica: consequências

    Muitas vítimas continuam sofrendo até ficarem totalmente destruídas física, psicológica e moralmente. Outras denunciam os seus agressores na polícia que, com frequência, não faz o necessário para acabar com o problema. Além disso, pode acontecer algo menos esperado: a vítima se torna violenta também.

    Violência doméstica no Brasil

    Se você acredita que alguém próximo está sofrendo de violência doméstica (ou você mesma), é de vital importância que informe os serviços sociais e que busque apoio no círculo próximo alheio ao maltrato.

    Para denunciar casos de violência doméstica no Brasil, você pode contatar o Ligue 180. Você pode fazer uma denúncia anônima em sigilo, quer seja a vítima, familiar ou uma testemunha da violência contra a mulher ou crianças. O número está disponível 24 horas por dia, todos os dias do ano, e o atendimento será feito sempre por uma mulher.

    Não fique em silêncio. Denuncie!

    Em seguida você pode assistir o vídeo da campanha sobre o Ligue 180:

    Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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    2 comentários
    A sua avaliação:
    Luciane De Souza Wosniak
    Eu também , sofria de violencia eu e os meus filhos. Neste momento estou separada, e ele desapareceu e agora entrou com recursos de fazer visitaçao de as crianças ficar sabado e domingo, nao por que ele gosta dos filhos, mas faz isto por vigança, por pedir o divorcio. e, pagar pensao. E as crianças nao quer ir com eles , e, nao quer nem saber do pai. Eu olhando bem , ja deveria ter separado ha anos, pq agora eu medo deles, apesar de nao esta mais em casa. Isto prejudicar ...estou pagando psicologo para meus filhos, pq ele esta entrando com recurso dizendo que eu nao quero da as crianças para ele. Nao confio nele. Ele quase matou a minha filha... so monitorizada....e acho que o juiz dever respeitar o sentimento das crianças.
    A sua avaliação:
    Zelia Hernandez
    violencia intrafamiliar contra idoso?
    1 de 7
    Violência doméstica: maus-tratos contra mulher e filhos