Violência psicológica: o que é, exemplos, tipos, causas e consequências

Violência psicológica: o que é, exemplos, tipos, causas e consequências

A violência psicológica é uma forma grave de agressão que não utiliza o contato físico. Porém, pode deixar sequelas graves na psique da vítima, já que é uma forma muito eficaz de exercer poder sobre o outro. Neste artigo de Psicologia-Online, abordaremos o tema com profundidade e daremos resposta para as seguintes questões: o que é, quais são os exemplos, quais são os tipos, as causas e as consequências, assim como de que forma podemos prevenir este tipo de violência.

O que é violência psicológica

É chamada violência psicológica toda agressão realizada sem a utilização de contato físico entre as pessoas. Pode acontecer através de uma ou mais pessoas por vez, e se manifesta basicamente de forma verbal: desqualificações, humilhações, desvalorizações, menosprezos... Estas condutas são prejudiciais à vítima a nível emocional e podem ocorrem em todos os âmbitos: familiar, escolar, social, profissional... Em muitos casos esta violência pode começar de forma sutil e ir impactando a pessoa pouco a pouco, de forma que esta não se dá conta até que se encontre sob o controle do outro, de forma dependente, com medo, coagida...

É uma forma muito grave de violência, pois afeta e prejudica diretamente a psique da pessoa. O dano físico deixa marcas visíveis, enquanto que o dano psicológico não pode ser visto, deixando marcas profundas na personalidade do indivíduo, assim como em sua razão e julgamento. Em alguns casos, esta violência também aparece de forma conjunta à violência física, sexual, etc... Principalmente, procura diminuir ou eliminar os recursos internos que a pessoa afetada possui para reagir às diversas situações da vida cotidiana.

Exemplos de violência psicológica

Alguns exemplos de violência psicológica são:

  • Ameaça: gera medo e restringe as ações da vítima. Alguns casos graves são penalizados por lei.
  • Chantagem: forma de controle que utiliza o medo ou a culpa.
  • Humilhação: ações degradantes direcionadas a entes queridos ou desconhecidos.
  • Monopolizar a tomada de decisões: não deixar que o outro também participe na tomada de decisões sobre alguma questão: controle do dinheiro, gestão do tempo, trabalho...
  • Controle: se o controle é excessivo, pode acabar transformando-se em uma forma de violência psicológica.
  • Insultos: humilhação.
  • Comparações desqualificadoras: apontar defeitos de forma frequente e comparar a pessoa com outra pode se converter em uma forma de violência psicológica.
  • Gritos: as discussões são normais nos relacionamentos, porém, gritos constantes não são, e podem ser considerados violência psicológica.
  • Controle da imagem: o controle da imagem realizado através de humilhações, coações, ameaça... se converte em uma forma de violência psicológica.
  • Provocações: as provocações que transpassam a confiança e que buscam prejudicar e humilhar, são uma forma de violência psicológica.
  • Moralização: associada à chantagem e à humilhação, está relacionada com a demonstração de superioridade moral de forma constante.
  • Crítica: reiteradas e constantes, prejudiciais, que não buscam ajudar, mas sim destruir.
  • Negar as percepções ou sentimentos do outro: desqualificar os sentimentos (de tristeza, de solidão, de alegria) de alguém de forma sistemática, provoca uma incapacidade de expressão e até mesmo a incredulidade no próprio julgamento.
  • Indiferença: permanecer indiferente ao outro em qualquer ambiente onde há relacionamentos (familiar, profissional...).
  • Assédio moral: é uma forma de violência psicológica deliberada, que busca destruir a autoestima da vítima.

Tipos de violência psicológica

Podemos diferenciar 5 tipos de violência psicológica:

1. Violência psicológica contra a mulher

Existem diversas formas de violência contra a mulher: a violência física, sexual e também a psicológica. Esta última está relacionada com o maltrato e, portanto, faz parte da violência de gênero que a OMS define como: "Qualquer ato ou intenção que resulta em danos ou sofrimento físico, sexual ou psicológico nas mulheres. Inclui as ameaças de tais atos, a coerção ou privação arbitrária de liberdade, sejam na vida pública ou privada".

2. Violência psicológica infantil

O maltrato psicológico contra crianças e adolescentes na família é um dos tipos mais importantes e potencialmente danosos de abuso infantil, e um dos que apresentam grande dificuldade para sua identificação, avaliação e enfrentamento. De acordo com o autor Glaser (2002), para que um ato seja considerado violência psicológica contra as crianças, deve cumprir o seguinte:

  • "Descreve uma relação entre as figuras parentais e a criança (mais que um evento ou uma série de eventos repetidos, que ocorrem em algum momento da relação paterno-filial);
  • Os comportamentos parentais que constituem a interação com a criança impregnam ou caracterizam sua relação atual -isto é, ocorrem sempre, habitualmente ou com frequência, e são observados em diferentes momentos e contextos-;
  • Os comportamentos parentais estão provocando ou potencialmente podem provocar um dano no desenvolvimento e saúde psicológica/emocional da criança;
  • Inclui tanto omissão como comissão; e
  • Requer que não haja contato físico."

3. Violência psicológica na família

Contempla toda agressão verbal de qualquer tipo, tanto contra os filhos como contra o cônjuge. Há de se levar em conta, que no âmbito familiar, é mais fácil para que a pessoa normalize a situação e sinta ansiedade ou estresse, já que ela experimenta sentimentos contraditórios: medo por um lado, amor por outro. Aqui você encontra mais informação sobre a violência doméstica.

4. Violência psicológica em relacionamentos

Acontece entre os cônjuges. Diversas descobertas científicas apontam que a violência psicológica em relacionamentos apresenta uma grande relevância, tão importante quando a violência física e, além disso, em muitos casos é indicadora do segundo tipo. A investigação também indica que a violência psicológica persiste por mais tempo que a outra.

5. Violência psicológica no âmbito profissional

Muito relacionada com o assédio profissional, isto é, com o assédio moral.

Causas e incidência da violência psicológica

Da mesma forma que é difícil saber os dados exatos sobre outros tipos de abuso, com a violência psicológica também ocorre o mesmo. Quando acontece através de uma única forma de abuso, tem pouca incidência, já que as denúncias são escassas, o que não significa que não ocorram.

Quanto às causas, estas variam conforme a tipologia. A nível geral, encontramos:

  • Alcoolismo
  • Ignorância e desconhecimento
  • Educação deficiente
  • Não conseguir controlar os impulsos
  • Falta de compreensão sobre os outros
  • O vício em drogas

No caso da violência psicológica exercida por pais contra filhos, foi encontrado o seguinte:

  • Pais com poucas habilidades parentais, abuso de substâncias, depressão, tentativas de suicídio ou outros transtornos psicológicos, baixa autoestima, habilidades sociais deficientes, estilo de educação autoritário, falta de empatia, estresse social, violência doméstica e disfunção familiar.
  • O abuso de substâncias ou transtornos afetivos por parte dos pais, estão significativamente correlacionados com as agressões verbais.
  • Concretamente, os pais que maltratam emocionalmente, apresentam frequentemente antecedentes psiquiátricos e, com menor frequência, antecedentes de delinquência, alcoolismo e vício em drogas ou prostituição.
  • As crianças em situação de risco são aquelas que os pais estão imersos em um divórcio contencioso, crianças não desejadas ou não planejadas, crianças com pais inexperientes ou pouco hábeis em sua paternidade, pais com problemas de abuso de substâncias, pais que abusam de animais, crianças expostas à violência doméstica, crianças isoladas socialmente ou com necessidades especiais.

Por outro lado, quando se trata das causas da violência psicológica contra a mulher, a questão é mais complicada. A conduta humana tem dois componentes: o emocional e o instrumental. Por um lado, o primeiro elemento se refere à carga afetiva que a conduta possui: ira, raiva... O segundo questiona o porquê, o que nos move a realizá-la. No caso da violência contra as mulheres em um contexto de relacionamento, a conduta é um tanto diferente, contém um elemento estrutural e cultural que leva o agressor a querer dar lições à mulher simplesmente por ela ser mulher.

Consequências da violência psicológica

As consequências da violência psicológica são múltiplas e variadas, segundo a respectiva tipologia.

Consequências da violência psicológica no âmbito familiar

Os efeitos da violência psicológica intrafamiliar são os seguintes:

  • Ambivalência de sentimentos em relação a quem pratica os abusos. Sente-se medo e ao mesmo tempo, amor e carinho.
  • Ansiedade e culpa por se considerar a causa de algum problema, por exemplo, um problema familiar.
  • Perda constante de autoestima, insegurança.
  • Estresse pela pressão do meio. Isto porque seu entorno, amigos ou familiares, incentivam o término da relação, ou ao contrário: para que continue com ele ou ela.
  • Dificuldade para controlar de forma eficaz seus impulsos.
  • Dificuldade para expressar afeto.

Consequências da violência psicológica voltada às crianças:

Segundo um estudo realizado por M. Gómez de Terreros:

  • "1)No nível de pensamentos, como sentimento de baixa autoestima (incluindo as condutas associadas à mesma), visão negativa da vida, sintomas de ansiedade e depressão, assim como ideias de suicídio.
  • 2) Sobre a saúde emocional, como instabilidade emocional, personalidade borderline ou limítrofe, falta de respostas emocionais apropriadas, problemas de controle dos impulsos, ira, condutas autodestrutivas, transtornos alimentares e abusos de substâncias.
  • 3) Sobre as habilidades sociais, incluindo conduta antissocial, problemas de vinculação afetiva, competência social limitada, falta de simpatia e empatia, isolamento social, dificuldade para ajustar-se às normas, má adaptação sexual, dependência, agressividade e violência e delinquência ou criminalidade.
  • 4) Sobre o aprendizado, baixo rendimento escolar, dificuldades de aprendizagem e dificuldades no desenvolvimento moral.
  • 5) Sobre a saúde física, dificuldade em prosperar, queixas frequentes, um estado pobre de saúde e alta mortalidade."

Consequências da violência psicológica contra as mulheres no âmbito doméstico

Os efeitos da violência psicológica contra as mulheres são:

  • Ansiedade
  • Depressão, perda de autoestima e sentimento de culpa
  • Isolamento social
  • Transtornos psicossomáticos
  • Transtornos sexuais

Consequências da violência psicológica no âmbito profissional

As vítimas de violência psicológica no trabalho ou assédio moral, podem apresentar:

  • Transtorno de ansiedade generalizada
  • Transtornos de pânico
  • Depressão
  • Síndrome de estresse pós-traumático
  • Transtornos de somatização, como enxaquecas, cansaço, digestão desregulada….
  • Vícios
  • Mudanças permanentes na personalidade
  • Deterioração e embotamento intelectual e perdas de memória
  • Perda da capacidade de concentração
  • Foco e obsessão no assédio sofrido, excluindo o restante das esferas vitais da pessoa, como família e amigos
  • Isolamento social e profissional
  • Incapacidade de experimentar prazer
  • Insensibilidade ou despersonalização
  • Abandono de carreira
  • Constante estado de alerta
  • Alterações no sono e no apetite
  • Maior vulnerabilidade às infecções (conjuntivite, otite, resfriados, etc.) devido aos efeitos sobre o sistema imunológico

Como prevenir a violência psicológica?

É praticamente impossível erradicar este tipo de violência de uma forma simples, pois há muitos comportamentos normalizados pela sociedade. A melhor forma de conseguir é educar no respeito, nas relações saudáveis e empáticas desde o início. É importante instruir habilidades socioemocionais às pessoas para que aprendam a enfrentar os conflitos de uma forma assertiva e serem capazes de gerirem-se e regularem-se emocionalmente. Canalizar de forma adequada as emoções como a ira, a frustração... e entender que são normais, mas devem ser controladas. Todos devemos fazer nossa parte na prevenção e ser capazes de criticar nossos próprios comportamentos para tentar melhorar aqueles aspectos que podem causar um dano a nível psicológico aos outros. Também é importante escutarmos a nós mesmos para identificar quando somos nós as vítimas deste tipo de violência, e assim poder pará-la o quando antes.

Como provar violência psicológica

Como a violência psicológica não deixa marcas visíveis no corpo, muitas pessoas se perguntam como é possível prová-la. Esses são os melhores conselhos para provar violência psicológica:

  • Mantenha um diário das ocorrências (de preferência, online e protegido com senha)
  • Procure ajuda médica, mesmo sem ferimentos visíveis
  • Faça queixa na polícia
  • Descarregue e guarde qualquer mensagem de voz
  • Imprima emails, mensagens de texto e registos de chamada
  • Crie um endereço de correio eletrônico secreto que você não usa para nada mais
  • Esconda qualquer prova física em um lugar onde o abusador nunca buscaria
  • Memorize as senhas e não compartilhe o seu plano com ninguém por via eletrônica

Como denunciar violência psicológica

Ao contrário do que a ideologia popular nos tem levado a crer, o Código Penal protege tanto homens como mulheres de tal violência.

Se você está vivendo uma situação de violência psicológica ou conhece alguém que é vítima, isso é o que você deve fazer para denunciar o problema:

  • Antes de denunciar, é aconselhável consultar um advogado sobre a sua situação para ver o melhor curso de acção. Os psicólogos podem ajudar a preparar relatórios que ajudarão o advogado a provar a agressão.
  • Se você não tem capacidade econômica para consultar um advogado, você pode ligar gratuitamente para 180 para receber informações.
  • Depois de ter estabelecido uma estratégia adequada e ter recolhido algumas provas (como indicado no tópico anterior), é necessário ir à polícia para estabelecer uma queixa.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
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