Sexologia

Transtornos sexuais segundo o DSM-V

 
Claudia Pradas Gallardo
Por Claudia Pradas Gallardo. Atualizado: 23 novembro 2020
Transtornos sexuais segundo o DSM-V

Em nossa sociedade, os comportamentos sexuais continuam sendo um assunto tabu, e é por isso que muitas dúvidas a respeito dos diferentes problemas e transtornos relacionados com o sexo continuam aparecendo. O que é um transtorno sexual? Qual é a diferença entre uma disfunção e um transtorno? Como posso tratar meus problemas sexuais?

Se todas essas dúvidas aparecem em sua mente, recomendamos que você continue lendo este interessante artigo de Psicologia-Online. Nele, você encontrará um extenso estudo das disfunções sexuais e uma lista com sintomas dos transtornos sexuais de acordo com o DSM-V: o manual de diagnóstico mais utilizado em psicologia.

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Índice
  1. Transtornos sexuais de acordo com a psicologia
  2. Transtornos sexuais no DSM-V
  3. Lista de transtornos sexuais comuns e seus sintomas
  4. Psiquiatria dos transtornos sexuais
  5. Transtornos sexuais de acordo com o DSM-V: conclusões

Transtornos sexuais de acordo com a psicologia

Felizmente, a psicologia tentou reunir todas as informações possíveis relacionadas ao comportamento e as orientações sexuais. Da psicanálise de Freud até a escala de orientação sexual de Kinsey, muitos especialistas tentaram estudar o comportamento humano do ato sexual. Na penúltima edição do manual de diagnóstico DSM (O DSM-IV, publicado em 1994[1]) podemos observar que coletaram os transtornos sexuais da seguinte forma:

Disfunções sexuais no DSM-IV

Sob o nome de disfunções sexuais, estão incluídas todas as alterações (essencialmente inibições) que ocorrem em qualquer uma das fases da resposta sexual e que impedem ou dificultam o prazer satisfatório da sexualidade (Labrador, 1994). Na especificação das categorias de diagnósticos, o DSM-IV (APA, 1994) é baseado no modelo trifásico do ciclo de resposta sexual: desejo, excitação e orgasmo.

A APA inclui uma categoria adicional que inclui as disfunções que implicam mais do que a alteração de uma fase da resposta, o aparecimento de dor a qualquer momento durante a atividade sexual. Consequentemente, o DSM-IV considera essas quatro categorias principais de disfunções:

  • Transtornos do desejo sexual, que incluem desejo sexual inibido (o hipoativo) e transtorno por aversão ao sexo;
  • Transtornos da excitação sexual, diferenciando-se no homem (transtorno da ereção) e na mulher;
  • Transtornos do orgasmo, diferenciando também entre disfunção orgástica feminina e masculina, e também incluindo uma categoria específica para o diagnóstico da ejaculação precoce;
  • Transtornos sexuais por dor, que compreendem a dispareunia e o vaginismo.

Transtornos sexuais no DSM-V

A última revisão do manual de diagnóstico foi realizada em 2014, o DSM-V[2] contém algumas variações em relação aos critérios de diagnósticos dos transtornos sexuais definidos no DSM-IV.

Neste manual, os transtornos relacionados ao comportamento sexual são divididos da seguinte forma:

  • Disfunções sexuais: aquelas anteriormente incluídas no DSM-IV
  • Transtornos parafílicos: transtornos relacionados com a excitação sexual inadequada ou anormal (fetichismos, filiações, atração incomum por objetos...)
  • Disforia de gênero: perturbação e desconforto pelo gênero socialmente designado ao nascer. As pessoas com disforia de gênero geralmente recorrem à uma mudança de sexo ou optam por se definir por outro gênero, com o objetivo de melhorar seu bem-estar psicológico.

Lista de transtornos sexuais comuns e seus sintomas

A seguir, estão alguns dos transtornos sexuais mais comuns e seus critérios de diagnóstico:

1. Disfunções Sexuais

Para poder diagnosticar as disfunções sexuais que mencionamos ao longo do artigo, os seguintes critérios devem ser atendidos:

  • Não há patologia orgânica/ ou de substâncias que produzam dificuldades acentuadas de desconforto nas relações interpessoais
  • Presente na maior parte das relações sexuais (70-80%)
  • Persistência de pelo menos 6 meses

2. Desejo sexual hipoativo

  • Diminuição (ou ausência) de fantasias e desejos de atividade sexual de maneira persistente ou recorrente. O julgamento da deficiência ou ausência deve ser feito pelo clínico, levando em consideração fatores que, como a idade, o sexo e o contexto da vida do indivíduo, afetam a atividade sexual.
  • O transtorno sexual hipoativo provoca desconforto acentuado ou dificuldades de relação interpessoal.
  • O transtorno sexual não se explica melhor pela presença de outro transtorno (exceto outra disfunção sexual) e não se deve exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (p. ex., drogas, medicamentos) ou a uma doença médica.

3. Aversão ao sexo

  • Aversão extrema persistente ou recorrente à, e com evitação de, todos (ou praticamente todos) os contatos sexuais genitais com um parceiro sexual.
  • A alteração provoca acentuado desconforto ou dificuldades nas relações interpessoais.
  • O transtorno sexual não se explica melhor pela presença de outro transtorno (exceto outro transtorno sexual).

4. Parafilias

  • Comportamentos sexuais anormais nos quais o paciente mostra uma absoluta dependência desse objeto ou comportamento para obter prazer.
  • Atualmente, o termo vício também é admitido.
  • Algumas das parafilias mais comuns são: exibicionismo, fetichismo, frotteurismo, masoquismo sexual e sadismo sexual.
Transtornos sexuais segundo o DSM-V - Lista de transtornos sexuais comuns e seus sintomas

Psiquiatria dos transtornos sexuais

A visão dicotômica deste tipo de transtornos (há ou não disfunção sexual) foi criticada, pois a sexualidade e o funcionamento sexual parecem se ajustar melhor em um contínuo de satisfação individual e interpessoal (cf. Wincze e Carey, 1991). Do mesmo modo, a diferenciação dos subtipos psicógeno vs. orgânico foi questionada, por ser considerada simplista e excessivamente restritiva (cf. LoPiccolo, 1992; Mohr e Beutler, 1990).

Por outro lado, a classificação da Organização Mundial da Saúde, o CIE-10 (OMS, 1992) mostra um notável paralelismo com a classificação da APA, incluindo entre as disfunções sexuais não orgânicas as seguintes:

  • Impulso sexual excessivo (que representa a principal novidade, pois essa categoria de diagnóstico não está incluída no DSM-IV).
  • Ausência ou perda do desejo sexual.
  • Rejeição e ausência do prazer sexual.
  • Fracasso na resposta genital.
  • Disfunção orgásmica.
  • Ejaculação precoce.
  • Dispareunia não orgânica.
  • Vaginismo não orgânico.
  • Outras disfunções sexuais.

Essas classificações, em função das fases da resposta sexual, não evitam as sobreposições de diagnósticos. De fato, a sobreposição e a comorbidade são frequentes. Assim, por exemplo, Segraves e Segraves (1993)[3], em um estudo com 588 pacientes (homens e mulheres) diagnosticados com TDS hipoativo, descobriram que 41% das mulheres e 47% dos homens apresentavam pelo menos outra disfunção sexual.

Transtornos sexuais de acordo com o DSM-V: conclusões

Apesar das limitações que supõe o diagnóstico baseado no DSM-IV ou no CIE -10, é evidente que são sistemas classificatórios amplamente aceitos e que possuem uma descrição relativamente precisa do tipo de sintomas ou comportamentos incluídos.

No entanto, na maioria dos trabalhos sobre disfunções sexuais, os diagnósticos não se baseiam nos critérios ou categorias DSM, mas em relatos dos próprios pacientes sobre seus comportamentos sexuais, frequentemente descrições genéricas e informais (por exemplo, certas dificuldades de ereção, falta de orgasmos...), ou de avaliações clínicas excessivamente baseadas na opinião dos clientes.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. DSM-IV, D. (1994). Statistical Manual of Mental Disorders. American Psychiatric Association, 535.
  2. Manual diagnóstico y estadístico de los trastornos mentales: DSM-5. Editorial medica panamericana, 2014.
  3. Donahey, K. M., & Carroll, R. A. (1993). Gender differences in factors associated with hypoactive sexual desire. Journal of Sex & Marital Therapy, 19(1), 25-40.
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