Idealização: significado e como evitá-la

Essa sensação que temos por vezes é conhecida como "idealização" e é um processo psíquico em virtude do qual as qualidades e valor do objeto são associadas à perfeição. O autor do amor idealizado diz que "... o objeto é tratado como o próprio Eu do sujeito e o amor passa uma parte considerável de libido narcisista ao objeto. De alguma forma, a seleção amorosa chega mesmo a evidenciar que o objeto serve para substituir um ideal proprio e não alcançado do Eu." (Freud, 1921).

Os contos de príncipes e princesas mostram uma vida sem sobressaltos onde tudo é maravilhoso e perfeito, mas a realidade é que muitas vezes as vicissitudes da vida nos fazem tropeçar no que acreditávamos ser perfeito e a desilusão é muito grande quando as coisas se terminam. Receita mágica para uma vida sem sobressaltos emocionais não existe, apenas diálogo permanente, um "contrato implícito" para as situações que nos incomodam que permite escutar o que outro necessita de nós e transmitir o que nos incomoda.

Este "contrato" é um diálogo não falado no qual são expostos os nossos desejos, carências, necessidades e exigências e englobam todos os aspetos imagináveis da vida em casal. De forma comum, nenhum dos dois se apercebe de que os esforços para agradar a pessoa amada se baseiam na certeza de que o outro é. sente e pensa as coisas do mesmo jeito que nós próprios.

Se viajarmos até à infância, onde se forma a identidade, o autoconceito, os modelos de amor, as formas de ser homem e mulher, assim como os valores de família, os pais são os representantes do social nesse momento da nossa jovem vida. Com eles, encaramos o amor incondicional, também o carinho condicionado, e reservamos os nossos maiores desejos infantis de exclusividade, pertença e ser apenas para eles e nada mais.

Quando esses conflitos e desejos infantis não se resolvem de forma adequada, vamos pela vida procurando parceiros que nos resolvam as carências mais íntimas depositadas na alma. Queremos, então, ser únicos na vida do parceiro(a), que adivinhem nossas necessidades como quando eramos crianças que, apenas por chorar, a mãe responda ao pedido. também esperamos que todas as situações estejam solucionadas, procurando um provedor poderoso e, quando ele não é encontrado, nos sentimos muito desamparados.

Devido a tudo isso, muitas vezes esperamos reações e atitudes dos outros, já que, desde a nossa óptica, são "necessárias" de um modo particular. No entanto, é aí que está a diferença que nos caracteriza e diferencia do outro, é quando devemos entender que cada um faz o que pode e como pode. É por isso que aceitar o outro como diferente é a chave para poder dialogar de outra forma, descobrindo que essa pessoa tem muitas coisas que gostamos e que nos atraem. também possui uma série de rasgos que por vezes podem fazer que entremos em um curto-circuito nosso relacionamento, uma vez que também temos uma bagagem de qualidades e defeitos.

Se não conseguimos manter essa escuta e diálogo, mantendo apenas esse estado idealizado, isso faz com que, quando essa pessoa caia do pedestal que ocupava, a dor e a frustração que a pessoa que a via como perfeita pode sentir sejam muito grande, existindo um forte sentimento de que essa pessoa nos falhou. Simples, e não tão fácil, é o trabalho diário de construir essas bases sólidas no casal através do diálogo, poder expressar-nos com liberdade e, sobretudo, deixar o outro ser e sermos nós mesmos.

Por esses motivos que o outro nos escolheu e nós o escolhemos a ele da mesma forma é que a renúncia não deve estar nos nossos ideais para sustentar um casal. Apenas mantendo os nossos espaços e compartilhando as alegrias e tristezas com o outro seremos mais livres para escolher-nos todos os dias.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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