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Rejeitar uma pessoa a atrai?

 
Equipe editorial
Por Equipe editorial. 5 junho 2021
Rejeitar uma pessoa a atrai?

Quase todo mundo já sofreu alguma vez a angústia de ser rejeitado em sua vida. Seja por uma relação que termina, onde saímos com o coração ferido e a outra pessoa rapidamente vira a página, ou por algum amor passageiro e idealizado no qual desejamos uma pessoa, mas ela nunca foi recíproca conosco.

Falamos desses "amores que nos marcam", esses amores difíceis e sofridos que vemos na literatura, na história da arte e em nossos dramas cotidianos. Por que a rejeição de alguém que nos interessa gera tanto impacto? Por que será que quando alguém nos rejeita ou é indiferente, faz ficarmos mais interessados e em alguns casos gera uma obsessão estranha? Qual é o mistério que se esconde por trás disso que não podemos ter ou que resiste a nós? Será que rejeitar uma pessoa a atrai? O que tem de verdade por trás dessa pergunta?

Neste artigo de Psicologia-Online, vamos desfazer mitos e esclarecer o que acontece e o que é atraente para nós quando alguém nos rejeita. O que sente uma pessoa quando não é correspondida, por que há pessoas que rejeitam as pessoas que gostam e se é efetivo utilizar a rejeição como uma técnica de sedução para atrair a pessoa amada.

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Índice
  1. Como uma pessoa age quando é rejeitada
  2. O que uma pessoa sente quando não é correspondida
  3. Rejeitar uma pessoa para atraí-la funciona?
  4. Por que há pessoas que rejeitam a pessoa que elas gostam

Como uma pessoa age quando é rejeitada

Existe um comportamento interessante que aparece diante de tudo que não podemos ter e que nos leva a fazer esforços e sacrifícios para conquistar. Desejamos de forma obstinada e persistente o que nos resiste e quanto mais difícil de alcançar, maior é o prazer que sentimos quando conseguimos. Então, o que será que acontece? Por que a rejeição de alguém que nos interessa gera tanto impacto? Se desejamos que o outro que nos interessa preste atenção e interesse em nós, por que cada vez que ocorre o contrário, nos apaixonamos e nos prendemos mais e mais?

Estas perguntas não são novas, nem surgiram apenas para mim. Elas têm sido objeto de estudo ao longo do tempo e há pesquisas muito interessantes a respeito. Uma delas, talvez minha favorita, é uma realizada por uma antropóloga e bióloga, Helen Fisher, que junto a colegas da área, fez um estudo sobre o amor e o desamor com 32 pessoas que se encontravam apaixonadas.

Delas, 15 estavam desesperadas e desiludidas por terem sido rejeitadas ou abandonadas pela pessoa amada. O experimento consistia em cada um dos participantes ver uma fotografia da pessoa amada ou desejada enquanto se observava e analisava sua atividade cerebral. O que acontece ao ser rejeitado por quem se ama:

  • Ativação cerebral dos circuitos dos vícios. O estudo apontou que em todos os casos onde as pessoas experimentaram rejeição, término ou abandono, ativavam as mesmas áreas cerebrais que são ativadas nos vícios profundos. Isto é, a rejeição gera reações físicas e psicológicas reais e importantes e neste sentido, a tentativa de voltar a se conectar com a outra pessoa é uma tentativa de recobrar a homeostase perdida.
  • Desequilíbrio. O ser humano sempre está em busca de recuperar isso que o faz se sentir bem, mas aqui está a armadilha, não necessariamente o que nos produz prazer é o melhor para nós.
  • Busca do prazer. Isto também ocorre no ciclo dos vícios e é, portanto, o que tanto nos aprisiona e confunde. Nosso cérebro entende que isso que nos gera prazer é bom para nós e começa a solicitar de forma desesperada diante da abstinência.
  • Desespero. Diante da rejeição ocorre algo similar ao que ocorre com os dependentes quando procuram a droga para aliviar sua dor, e não apenas buscam de forma desesperada, mas quando não conseguem obter o que o corpo pede, começam a tentar com mais forças e são capazes de tudo para conseguir.
  • Comportamentos obsessivos. Entendendo isto, que talvez fica mais fácil com a imagem das dependências, podemos entender porque a pessoa abandonada apresenta comportamentos obsessivos, pois a química neuronal que ocorre no cérebro diante deste tipo de situações é tão forte, que a frustração e necessidade levam a pessoa a agir de forma errática e desesperada.

O que uma pessoa sente quando não é correspondida

O que passa em níveis neuronal e emocional quando a pessoa amada nos rejeita?

  • Alteração química cerebral. Quando uma pessoa é rejeitada, uma alteração química neuronal é gerada em seu cérebro, onde se diminui a serotonina (algo parecido com o que ocorre nas depressões e transtornos obsessivos compulsivos) e há uma ativação no córtex cingulado (que é a mesma área ativada pela dor física).
  • Dor e ansiedade. Nosso cérebro reage à exclusão social de forma muito similar como faz diante da dor física e emocional, e é por isso que este tipo de emoções são vividas tão intensamente e com muitos sintomas, conforme maior ou mais inesperada for a rejeição, maior é a sensação de ansiedade e a variedade de sintomas que experimentamos.

Graças à pesquisa experimental que Fisher realizou, esse processo emocional e comportamental que a pessoa rejeitada atravessa, foi dividido nas seguintes fases:

  1. Fase de protesto. Quando a pessoa amada se afasta, a pessoa abandonada começa inicialmente a sentir um estado de inquietação e uma mescla de "nostalgia e saudade". Nesta fase, a pessoa pensa o dia todo em quem partiu e repete em sua mente os possíveis erros ocorridos, procurando possíveis soluções que permitam recuperar a pessoa perdida. Dedicam, de forma obsessiva, seu tempo, energia e atenção no outro, a quem buscam insistentemente e de formas diferentes; surgem as mensagens, cartas, ligações, as visitas aos lugares comuns, etc. Há um grande anseio pelo reencontro e por isso protesta, com a esperança de recuperar o objeto perdido.
  2. Fase de frustração. A pessoa não quer aceitar que foi rejeitada emocionalmente e isto tem uma correlação neuronal muito forte. O desejo de estar com alguém e não poder estar com essa pessoa é vivenciado de forma similar aos dependentes quando perdem uma substância que gera prazer e é então quando a procuram com mais força. Aqui é aplicável a frase de Terencio "Quando menor é minha esperança, mais ardente é meu amor". Nesta fase, a pessoa busca o encontro tão fortemente que, em certos casos, até mesmo se humilha. Tudo isto se deve à falta de uma substância no cérebro: dopamina.
  3. Fase de melancolia ou depressão. É quando a pessoa desiste e nesse ponto suas emoções são mais depressivas. É uma etapa de adaptação à perda, onde a pessoa tende a se retrair mais. Os elementos químicos envolvidos na possível atração e necessidade do outro reduziram, então se começa ver tudo com mais clareza, se começa a aceitar a perda e se conecta com a sensação de que talvez a pessoa não era tão boa como achávamos.

O que uma pessoa rejeitada sente pode ser resumido com esta citação de Helen Fisher:

“A rejeição pela pessoa afunda o amante não correspondido em um dos sofrimentos emocionais mais profundos e perturbadores que um ser humano pode suportar. A dor, a fúria e muitos outros sentimentos podem invadir o cérebro com tal vigor que a pessoa apenas consiga comer ou dormir. Os graus e nuances deste mal-estar intenso variam na mesma medida que as pessoas variam entre si." (Fisher, 2007).

Rejeitar uma pessoa para atraí-la funciona?

Ignorar alguém funciona? Vamos analisar a situação:

  • Não, prejudica e é tóxico. Dito todo o anterior, minha ideia jamais seria fomentar o jogo neuronal e emocional com outra pessoa. Creio que isso seria prejudicar o outro e cair em um jogo tóxico.
  • Sempre deve haver respeito. Além disso, creio que começar este tipo de dinâmicas é um pouco perverso e se distancia muito da ideia de crescer amando um ao outro através da aceitação, carinho e cuidado, que é como gosto de entender o que é amor saudável.
  • É sadio colocar limites. Sim, acredito que em certos casos confundimos com amor a transgressão de limites e dar tudo pela outra pessoa; todo meu tempo, todo meu ser, todas minhas atividades, etc. e não pode ser assim. O amor incondicional no casal não é real nem sadio. O amor requer condições e se estas não são explícitas, porque não manifesto o que espero do outro como parceiro/a, logo vou cobrar de alguma forma e o outro não entenderá porque agora peço o que antes não pedia, ou porque agora coloco condições em nosso amor e então, sem obter a resposta que espero, vou ficar frustrado e decepcionado várias vezes.
  • A rejeição não é uma boa estratégia. Na fase inicial do processo de se apaixonar, o "rejeitar" uma pessoa pode sim "funcionar". Mas não no sentido em que geralmente entendemos a palavra rejeição, isto é, não me refiro a "hoje te procuro e amanhã não" ou ao "te deixo falar como estratégia para se apaixonar". Se bem que estes tipos de comportamentos poderiam atrair pelo circuito de recompensas que geram e que explicamos anteriormente, acontecerão de uma forma tóxica e pouco sadia, e nada bom sairá desse tipo de comportamentos.
  • É necessário dosar. Colocar limites ao outro, dizer não quando não temos vontade de fazer algo, falar sobre o que gosta ou não gosta, respeitar minhas necessidades e meus espaços pessoais e ir dosificando a entrega na medida em que a relação for avançando, é bom e até mesmo necessário. Mesmo que isto poderia ser experimentado pela outra pessoa como uma rejeição e já explicarei adiante o porquê. É uma rejeição necessária para o outro e para nós mesmos.

Talvez o que falei aqui seja difícil de entender, mas as dinâmicas iniciais em uma relação remetem a comportamentos infantis. A princípio, em toda relação ambas as partes agem como crianças pequenas que precisam que demarquem o caminho do permitido e do não permitido, precisamos também que vão nos dosificando os reforços para darmos o valor que possuem e não fiquemos mal acostumados a eles e os esperamos.

Mas, da mesma forma como as crianças, resistimos inicialmente a estes pequenos e necessários limites, protestaremos, tentaremos sair por cima e fazer o que desejamos e, efetivamente, diante da negativa, sim nos sentiremos diante de uma rejeição, mas será uma rejeição que a longo prazo nos ajuda a crescer em conjunto como casal e fará que o outro me perceba como uma pessoa que se ama, se respeita e se faz respeitar e querer a mesma coisa, e isso é extremamente atrativo.

Por que há pessoas que rejeitam a pessoa que elas gostam

Por que há pessoas que utilizam a rejeição como uma estratégia para atrair uma pessoa que gostam?

  • Falta de educação nos relacionamentos. A ninguém foi ensinado as bases de um amor saudável e a maioria do que aprendemos é através de nossa experiência. É por isto que muitas pessoas aprenderam que ao rejeitar a outra pessoa se obtém benefícios e a verdade é que provavelmente pode ser assim, devido ao que ocorre a nível cerebral no outro quanto damos a ele algo que produz prazer e logo o privamos disso.
  • Más experiências. As pessoas que tendem a usar isto como uma estratégia de sedução são pessoas que, de forma geral, não experimentaram um relacionamento satisfatório, permanente e sadio e estão na busca dele. Efetivamente, o ser assim pode constituir um desafio e um mistério que fará que você se veja mais atrativo aos olhos dos outros, mas se seu objetivo é uma relação sadia e a longo prazo, você deve saber que não é uma atitude útil nem sadia.
  • Excesso de fantasia e escassez de realidade. Uma pessoa que te rejeita continuamente é, provavelmente, uma pessoa que não sabe o que quer, uma pessoa que não sabe se comunicar ou uma pessoa que apenas quer te fazer sentir coisas e acredita que essa é a única maneira. Os reforços intermitentes são iguais a um apego ambivalente no amor. O não saber o que é que vai acontecer com sua relação e não ter claro se seu/sua parceiro/a continuará é um forte gerador de angústia e insegurança.
  • Baixa autoestima. Uma pessoa que se encontra numa relação onde as rejeições são muitas, é uma pessoa que não tem uma autoestima muito boa e que também está carente de muitas coisas que seriam colocadas em jogo no relacionamento. Até que o jogo acabe. Cedo ou tarde, o/a parceiro/a rejeitado/a se aborrecerá dessa intermitência constante e encontrará em outro a segurança.

Em geral, falamos de uma pessoa que tem algo a resolver e isso se percebe por ambas as partes, mas além disso é uma pessoa que gera no outro muitos vazios e isso o/a parceiro/a sentirá e se ressentirá, e mesmo que esse vazio tenha sido inconscientemente um dos atrativos iniciais, a longo prazo não é sustentável porque gera muito dano. Sobre tudo em pessoas inseguras ou desconfiadas.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • FISHER H. (2004) Por qué amamos. Naturaleza y química del amor romántico. Lau rus: España
  • FISHER H. (2007) Por qué amamos y nos engañamos. TEDX
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