Relação simbiótica: o que é e como rompê-la
É normal que para uma pessoa apaixonada seja difícil ver a pessoa que ama sofrendo. Entretanto, para algumas pessoas esta experiência chega a ser tão angustiante que não toleram o mal-estar da outra pessoa, chegando a se sentir responsáveis por ela e tratar de aliviá-la a todo custo.
Estas pessoas mantêm a crença de que seu/sua companheiro sentir dor é sua responsabilidade ou culpa, portanto devem fazer todo tipo de esforços para que não se sintam tristes, sozinhos, etc. No entanto, a crença de que a dor de outra pessoa é nossa responsabilidade pode se mostrar problemática, chegando a desenvolver uma forma de se relacionar pouco sadia: uma relação simbiótica. Neste artigo de Psicologia-Online, te explicamos a relação simbiótica: o que é e como rompê-la.
O que é uma relação simbiótica
Em uma relação romântica é necessário contar com a segurança que se cria quando ambos os membros reconhecem um ao outro como uma pessoa independente com seus próprios interesses e inquietações fora da relação. Pelo contrário, em uma relação simbiótica, as características que tornam as pessoas únicas são percebidas como uma ameaça, portanto tratam de suprimi-las.
Em um desejo de se unir com o outro, as relações simbióticas criam uma fusão entre duas pessoas que se sentem incompletas e não podem funcionar sem a presença psicológica ou real do outro. Geralmente, um membro da relação assume a liderança e a proteção de seu/sua companheiro/a, enquanto que o outro se caracteriza por uma fragilidade que impede tomar as rédeas de sua vida.
Exemplos de relações simbióticas
A seguir te damos alguns exemplos de relações simbióticas:
- Uma pessoa se sente culpada pelo mal-estar de seu cônjuge e não é capaz de tolerar sua irritação, portanto o menospreza constantemente, ignora, não escuta ou recorre ao sarcasmo. A outra pessoa responde com mais irritação, procurando se fazer escutar. Ambas compartilham a crença de que sua dor é responsabilidade do outro.
- Uma pessoa insulta e menospreza os interesses de seu/sua companheiro/a, fazendo-o/a sentir que não tem sentido ou são ridículos. Seu/sua companheiro/a, envergonhado/a, renuncia suas vontades para agradar a outra pessoa. Ambas têm medo do abandono, mas enquanto a primeira pessoa o expressa através da crítica, a segunda o faz se mostrando complacente.
Características das relações simbióticas
Podemos reconhecer as relações simbióticas através dos seguintes critérios:
- Capacidade limitada de ser consciente, respeitoso/a e apreciar a identidade do/a parceiro/a fora da relação. Os aspectos que diferenciam a pessoa da relação são vistos como uma ameaça, portanto podem ser questionados e rejeitá-los.
- Assumir como o/a parceiro/a deve se comportar, baseando-se nas próprias necessidades e preferências. É possível que se chegue a produzir uma perda de empatia e se trate o/a companheiro/a como se fosse um objeto em vez de uma pessoa individual. Isto é conhecido como "coisificação".
- Um ou ambos membros do casal se sentem responsáveis pelas emoções dos outros. É frequente que isto resulte em um transbordamento emocional, com o qual retroalimentam esta emoção em seu/sua parceiro/a. Resumindo, a intimidade acaba sendo uma experiência esgotadora.
- A relação de casal é a única fonte de apoio. As redes familiares e sociais são reduzidas, seja por causa de conflitos com a família de origem ou por fontes de tensão externas.
- Ajuste melhor no início da relação que se mantém sob grandes expectativas, de apoio e validação diante da progressiva fragilização de um de seus membros.
- Aparição de conflitos como consequência da falta de reconhecimento individual, negativa em deixar de lado projetos pessoais, não receber o apoio emocional esperado e/ou chantagem emocional do/a companheiro/a que se mostra frágil ou dependente da relação.
- Duas tendências principais no controle do conflito. Por um lado, a evitação total do conflito, onde ambas as pessoas não se permitem opinar de forma diferente (dinâmica simbiótica). Por outro lado, brigas constantes em que ambos os membros do casal não encontram o espaço para suas diferenças (dinâmica simbiótica-hostil). Se é seu caso, pode consultar este artigo sobre brigas no relacionamento por besteira.
- Os motivos para permanecer na relação geralmente são o medo da solidão, a necessidade de companhia, o desejo de estabelecer uma relação séria e compartilhar um projeto vital.
Como terminar uma relação simbiótica
Em certos casos, as pessoas se guiam por duas forças que as empurram em direções opostas. Por um lado, a necessidade de ter uma conexão próxima e ser amado/a e, por outro, o desejo de manter nossa individualidade e autonomia. No entanto, em uma relação simbiótica, as pessoas frequentemente se encontram entre uma destas duas forças, sentindo a necessidade de escolher entre ser eles/as mesmos/as ou ficar perto de seu/sua parceiro/a.
Então, como eliminamos esta tendência de "coisificar" nosso/a companheiro/a? Para romper a simbiose no relacionamento é necessário ver nosso/a parceiro/a como uma pessoa separada da relação. Esta é a maneira de conseguir não apenas uma conexão mais profunda, mas também para ter relações mais sadias com os outros e consigo mesmo/a.
Segundo Harville Hendrix[1], a reciprocidade entre duas pessoas diferentes e separadas, mas agora conectadas, é o começo do verdadeiro amor. Este processo é conhecido como diferenciação.
Como estabelecer a diferenciação em uma relação simbiótica
À medida que a simbiose diminui ("você e eu somos um"), surge a diferenciação (você e eu somos diferentes e isto é bom"). A diferenciação não é o isolamento nem a solidão, mas sim a capacidade de equilibrar a autonomia e a proximidade para que ambas as necessidades não sejam excludentes.
Quando nos diferenciamos, aprendemos a estar conectados com nossos pensamentos, valores e sentimentos, ao mesmo tempo que nos mantemos próximos de pessoas significativas em nossas vidas. Para que ocorra a diferenciação, é necessário o seguinte:
- Interromper a dinâmica predominante da relação: deixar para trás a fantasia de se unir ou fundir com o/a companheiro/a e celebrar sua autonomia.
- Reconhecer e aceitar as diferenças próprias e do/a companheiro/a: considerá-las como forças e não como ameaças. Explorar as crenças, preferências e vulnerabilidades de cada membro do casal para alcançar um posicionamento mais pessoal.
- Aprender a tolerar o mal-estar inicial que as diferenças podem gerar e assumir uma postura individual mais clara. Isto é imprescindível para poder tomar decisões de forma livre, tanto dentro como fora do contexto da relação.
- Substituir os julgamentos por curiosidade e conhecimento do/a companheiro/a: desta forma, descobrimos e aceitamos a realidade de nosso/a parceiro/a. Quando ambas as pessoas chegam a se conhecer de verdade, o espaço entre elas se converte em terreno fértil para experimentar uma conexão mais profunda.
- Restauração da empatia: quando expandimos nossa capacidade para nos diferenciar de nosso/a companheiro/a, rompemos a fusão simbiótica. A empatia é a emoção que nos permite se diferenciar, sem perder a humanidade do/a parceiro/a. Não basta entender que ele/a é diferente, também devemos ter empatia por sua diferença.
É importante fomentar a empatia em uma situação de conflito, já que sem empatia o "não eu" pode se converter em "não humano" e "não vale a pena se preocupar". A empatia mantém viva a conexão entre pessoas cujas diferenças poderiam afastá-las. Desta forma, em última instância, convertemos a empatia em conexão.
Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.
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- Hendrix, H. (1996). The evolution of imago relationship therapy: A personal and professional journey. Journal of Imago Relationship Therapy, 1(1), 1-17.
- Bowen, M. (1993). Family therapy in clinical practice. Jason Aronson.
- Herrera-Small, C., & Torres-Orozco, S. (2017). Comprensión de las dinámicas de relación de parejas del mismo sexo a partir de la intervención clínica sistémica. Universitas Psychologica, 16(1), 106-121.