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Disgrafia: o que é, tipos e tratamento

 
Nerea Babarro Rodríguez
Por Nerea Babarro Rodríguez, Psicóloga. 16 julho 2020
Disgrafia: o que é, tipos e tratamento

A disgrafia é um transtorno neurológico de caráter funcional que afeta a escrita, especificamente o traçado ou a grafia. Frequentemente, as pessoas que sofrem deste transtorno mostram dificuldades no controle da escrita, uma vez que o controle da escrita é um ato motor neuro-perceptivo que é afetado na disgrafia.

Seus filhos/as têm disgrafia? Você se dedica ao ensino e tem alunos/as com disgrafia ou suspeita de que possam sofrer disso? Além disso, é comum que você se pergunte como pode-se diferenciar a disgrafia e as dificuldades gerais na escrita, de acordo com a idade da pessoa. Neste caso, ou se você tem interesse em conhecer e se informar sobre as características da disgrafia, você pode continuar lendo este artigo de Psicologia-Online: Disgrafia: o que é, tipos e tratamento.

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O que é disgrafia

A disgrafia é um transtorno que afeta o desenvolvimento e a aquisição da habilidade de escrita das pessoas, provocando, acima de tudo, dificuldades nas escritas livres, nos ditados e na cópia de um texto já escrito.

Além disso, a disgrafia deve ser diferenciada de alguns casos, como ter letra ruim, as dificuldades gerais típicas da idade em que ocorre o processo de aprendizagem da escrita, a dislexia. Assim, a disgrafia se distingue desses casos, pois as pessoas com esse transtorno têm dificuldades para lembrar e dominar automaticamente os movimentos motores necessários para escrever letras ou números e formar palavras. Portanto, a disgrafia afeta a habilidade de escrita e a ortografia, tanto na escrita de palavras completas e textos, como de letras isoladas.

Características da escrita na disgrafia

As pessoas que têm disgrafia costumam compartilhar uma série de características em sua escrita. As características da escrita na disgrafia são:

  • Letra difícil de entender.
  • Escrita em espelho: letras escritas como se fossem o reflexo de um espelho, ou seja, ao contrário.
  • Espaços incorretos ou irregulares das letras e palavras: palavras juntas ou sílabas separadas.
  • Má apresentação: suja e com marcas de ter apagado palavras para escrevê-las novamente.
  • Letra irregular em forma e tamanho.
  • Letras maiúsculas e minúsculas usadas incorretamente.
  • Má postura corporal e maneira incorreta de segurar o lápis na hora de escrever.
  • Escrevem de maneira lenta e desajeitada, com erros.
  • Eliminação ou omissão de letras.
  • Letras invertidas.
  • Confusão de letras: por exemplo, mudar um “a” por um “e”.
  • Inclinação das letras.
  • Inclinação da linha, dando origem à um texto distorcido.
  • Traço grosso e apertando forte ou muito suave, quase sem deixar vestígios do que está escrito.

Tipos de disgrafia

Quando falamos dos tipos de disgrafia, devemos diferenciar duas grandes classificações que, cada uma delas inclui diferentes tipos de disgrafia:

Disgrafia adquirida

A disgrafia adquirida consiste em dificuldades na escrita como consequência de uma lesão cerebral em pessoas que já sabiam escrever, por exemplo, pessoas que sofreram um traumatismo em uma zona determinada da cabeça. Na disgrafia adquirida, podemos diferenciar as disgrafias centrais e as disgrafias periféricas:

1. Disgrafia adquirida central: este tipo de disgrafia afeta os aspectos linguísticos envolvidos na escrita das palavras. Dentro da disgrafia adquirida central encontramos três tipos diferentes:

  • Disgrafia adquirida fonológica: este tipo de disgrafia ocorre quando a rota fonológica é afetada, nesta rota, as palavras não são reconhecidas em sua totalidade, mas pequenas unidades, como as sílabas e as letras, são reconhecidas. Essa disgrafia cria dificuldades para compreender as regras de conversão grafema-fonema, ou seja, para relacionar o som e a pronunciação das palavras com sua forma de escrevê-las, portanto, as pessoas que sofrem dessa disgrafia geralmente cometem erros quando escrevem palavras desconhecidas, que não fazem parte de sua escrita cotidiana. Por exemplo, quando a letra “g” é pronunciada sozinha, tem uma entonação diferente de quando se une à palavra “gato”.
  • Disgrafia adquirida superficial: este tipo de disgrafia ocorre quando a rota visual é afetada, rota que permite reconhecer as palavras, mas não permite decodificar palavras sem compreendê-las ou sem conhecê-las anteriormente. Por essa razão, as pessoas costumam escrever lentamente e até soletrando as palavras, apresentam erros ortográficos, problemas na memória visual, dificuldades para escrever palavras difíceis e desconhecidas ou pouco usuais em seu dia a dia, entre outros.
  • Disgrafia adquirida profunda: este tipo de disgrafia ocorre quando as duas rotas anteriores (visual e fonológica) são afetadas. Esta é caracterizada pelo fato de cometerem erros semânticos, por exemplo, substituem futebol por basquete, dando lugar a uma substituição de palavras que fazem parte de um mesmo campo semântico, neste caso, esportes. Além disso, apresentam dificuldades para escrever uma palavra ditada por outra pessoa, mesmo que seu significado seja conhecido.

2. Disgrafia adquirida periférica: neste caso, as pessoas que sofrem este tipo de disgrafia mostram dificuldades para lembrar os movimentos necessários para poder traçar uma letra ou escrever palavras e frases.

Disgrafia evolutiva

A disgrafia evolutiva ocorre em pessoas que estão no processo de aprendizagem da escrita, pois nunca aprenderam a escrever antes, geralmente trata-se de crianças até sete anos ou, em casos excepcionais, em pessoas analfabetas. Dentro da disgrafia evolutiva, podemos diferenciar três tipos de disgrafia diferentes:

  • Disgrafia evolutiva fonológica: as pessoas que sofrem de uma disgrafia evolutiva fonológica ou superficial costumam apresentar as mesmas dificuldades que as pessoas que sofrem de uma disgrafia adquirida fonológica ou superficial, embora se diferenciam, pois nas evolutivas trata-se do processo natural de aprendizagem e nas adquiridas trata-se de pessoas que antes de sofrer uma lesão cerebral sabiam escrever.
  • Disgrafia evolutiva superficial.
  • Disgrafia evolutiva mista: por outro lado, diferentemente da disgrafia adquirida profunda, na disgrafia evolutiva mista não ocorrem erros semânticos. A disgrafia mista é a mais frequente dentro das disgrafias evolutivas, pois as dificuldades que ocorrem em uma das rotas (visual ou fonológica), como consequência, dificultam o desenvolvimento da outra rota.

Disgrafia e disortografia

Por outro lado, a disgrafia não deve ser confundida com a disortografia, sendo que a principal diferença reside na legibilidade da letra. Na disgrafia, já vimos que o problema é o fato de que o traço e a composição do texto são difíceis ou impossíveis de decifrar, enquanto que uma criança com disortografia pode ter uma grafia correta. Em casos de disortografia, a criança apresenta dificuldades em adquirir e assimilar as regras ortográficas na hora de escrever, podendo também ser confundida com a dislexia. Pode ser manifestada sem problemas de leitura, discapaciudade intelectual ou problemas de atenção.

Causas da disgrafia

Como mencionamos anteriormente, existem duas causas possíveis de disgrafia (adquirida ou evolutiva) e existem várias causas que podem originar qualquer uma delas:

  • Problemas de lateralização.
  • Dificuldades motoras: dificuldade no movimento, tanto de dedos como das mãos, e dificuldades no equilíbrio e na organização geral do corpo.
  • Fatores de personalidade: causas relacionadas com a personalidade e as características da pessoa que sofre de disgrafia, por exemplo, se a pessoa é rápida ou lenta.
  • Causas pedagógicas: existem causas relacionadas com a educação recebida em relação à escrita, como por exemplo, ter sido submetido à um ensino rígido e não adaptado às diferenças individuais de cada aluno, submetendo-se as exigências estabelecidas pelo professor, pela família e pela pressão social entre colegas, como escrever bem e rápido, entre outros.
  • Dificuldades na habilidade viso-perceptiva: problemas para identificar o que é visto. Por exemplo, dificuldades para interpretar o que é uma bola quando a pessoa a coloca diante de si ou a vê em uma fotografia.
  • Dificuldades para reter uma palavra na memória e dificuldades na capacidade de recuperar uma palavra que se presume que deveríamos reter na memória.
  • Coordenação viso-motora: dificuldades na habilidade de coordenar o movimento do corpo com a visão.
Disgrafia: o que é, tipos e tratamento - Causas da disgrafia

Tratamento da disgrafia

É de grande importância diagnosticar e tratar a disgrafia o mais rápido possível, devido ao seu efeito negativo, principalmente no âmbito acadêmico. Mas antes de começar a tratá-la, você deve observar atentamente quais são as dificuldades que a pessoa apresenta, para poder fazer uma abordagem específica e se concentrar nas características específicas de cada paciente, ou seja, para poder realizar um tratamento adaptado e centrado na pessoa.

Para tratar adequadamente a disgrafia, deve-se intervir em diferentes áreas:

  • A psicomotricidade grossa (capacidade de movimento global): ensinar ao paciente qual é a postura correta para poder escrever, com o objetivo de poder corrigir sua má postura, por exemplo, como deve se sentar, a distância entre a cabeça e o papel, posição do papel, como deve-se segurar o lápis, entre outros.
  • A psicomotricidade fina (movimentos mais detalhados, que exigem mais controle, geralmente movimentos com os dedos): este tipo de movimentos deve ser tratado, pois afeta a dependência da mão e dos dedos, com o objetivo de conseguir que o paciente adquira precisão e coordenação na hora de escrever. Alguns exemplos de exercícios para fortalecer a psicomotricidade fina são recortar papéis de alguma maneira determinada e examinar as linhas.
  • A percepção: é importante trabalhar a percepção, pois as dificuldades que os pacientes mostram em relação à percepção temporal, espacial, viso-perceptiva e atenção, podem causar erros ou dificuldades na fluidez, inclinação e orientação da escrita.
  • A viso-motricidade: a função da viso-motricidade é coordenar o movimento dos olhos com o movimento do corpo. No caso de essa função ser afetada, principalmente quando se trata do movimento das mãos e dos dedos, dificulta a escrita das pessoas e, por isso, deve-se trabalhar na melhoria desta coordenação.
  • A grafo-motricidade: é necessário tratar a grafo-motricidade para poder corrigir os movimentos básicos da escrita. Para isso, recomenda-se realizar exercícios que estimulem os movimentos básicos das letras, como escrever uma letra unindo pontos já marcados, examinar letras ou figuras já escritas ou desenhadas, seguindo limites que envolvem movimentos em loop, entre outros.
  • A grafo-escrita: para tratar a área da grafo-escrita, geralmente utilizam-se exercícios de caligrafia, para poder melhorar todas as letras que compõem o alfabeto.
  • O perfeccionismo da escrita: neste caso, pretende-se melhorar a fluidez da escrita e os erros de ortografia. É recomendável realizar exercícios como copiar letras, unir sílabas para formar uma palavra, unir uma palavra ao seu desenho correspondente (por exemplo, unir a palavra “bola” com o desenho de uma bola), entre outros.
  • O relaxamento: é comum que o paciente se canse entre atividades que envolvem muito esforço, por isso, recomenda-se relaxar o punho, os dedos, etc.

Exemplos de disgrafia

Exemplo de disgrafia adquirida

Uma garota sofre um acidente de moto no qual é atingida na cabeça, produzindo um traumatismo cranioencefálico e afetando exatamente a zona do cérebro que é encarregada pela escrita. Entra em coma durante alguns meses e, quando acorda, seus familiares percebem que ela não escreve da mesma maneira que antes, agora apresenta muito mais dificuldades do que jamais havia mostrado antes. No hospital, consideram que se trata de uma disgrafia adquirida periférica, pois tem dificuldades para lembrar o movimento necessário para poder traçar as letras.

Exemplo de disgrafia evolutiva

Uma criança de cincos anos mostra dificuldades na hora de escrever. No início, os pais não deram muita atenção, mas quando viram que a criança, aos seis anos, continuava mostrando as mesmas dificuldades, ficaram surpresos. Então eles conversaram com a professora para saber se os outros colegas de classe também mostravam essas dificuldades. A professora comentou que seu filho era um dos poucos alunos que tiveram mais dificuldades em escrever e pediu permissão para que seu filho pudesse ser visitado pela psicóloga da escola, os pais acetaram. Quando o menino se encontrou com a psicóloga, ela propôs diferentes atividades que envolviam a escrita, para poder ver sua posição corporal, sua inclinação, etc, de modo que finalmente considerou que se tratava de uma disgrafia evolutiva fonológica.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
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