Psicologia clínica

Síndrome de Burnout: o que é, sintomas e tratamento

 
Anna Badia Llobet
Por Anna Badia Llobet, Psicóloga e redatora. Atualizado: 4 fevereiro 2021
Síndrome de Burnout: o que é, sintomas e tratamento

Se você se sente cansado, desmotivado, irritado e apresenta dores musculares, isso pode se dever ao burnout. Aproximadamente, 6 em cada 100 trabalhadores sofrem de síndrome de burnout, o mesmo que esgotamento profissional. No entanto, a prevalência varia de acordo com o setor, chegando até 66,6% em determinadas profissões. Esse síndrome é considerado um problema de saúde grave, Além disso, ele afeta a qualidade do trabalho, algo de extrema importância quando falamos de médicos e médicas, professores e professoras, entre outros.

Para conhecer melhor esta condição, continue lendo esse artigo de Psicologia-Online sobre a Síndrome de Burnout: o que é, sintomas e tratamento.

Índice

  1. O que é síndrome de burnout
  2. Causas da síndrome de burnout
  3. Síndrome de burnout: sintomas
  4. Consequências da síndrome de burnout
  5. Síndrome de burnout em enfermagem
  6. Síndrome de burnout: diagnóstico
  7. Síndrome de burnout: tratamento

O que é síndrome de burnout

Síndrome de burnout: origem do conceito

A síndrome de burnout é uma expressão que vem do conceito inglês burnout syndrome. Em português, se traduz como síndrome de estar queimado pelo trabalho, embora seja mais comum usar o termo síndrome de burnout ou síndrome de esgotamento profissional.

O conceito apareceu em 1974 descrito por Herbert Freudenberger, que explicou o síndrome como o resultado de uma sobrecarga das exigências laborais[1].

Mais tarde, Christina Maslach estudou a perda de responsabilidade profissional que alguns trabalhadores de determinadas profissões sofriam, como profissionais de saúde ou educação. Em 1986, Christina Maslach e Susan Jackson definiram a síndrome de burnout como uma síndrome de esgotamento emocional, despersonalização e baixa realização pessoal, que pode ocorrer entre profissionais que trabalham com pessoas.

Em 1988, Pines e Aronson apresentaram uma descrição do burnout que incluía outros aspetos laborais. A sua definição diz que o burnout é um estado de esgotamento mental, físico e emocional, provocado pelo envolvimento crônico em situações com exigências emocionais no trabalho[2]. Brill concordou com eles, já que considerou que o burnout pode surgir em qualquer tipo de trabalho.

O que é Síndrome de burnout atualmente

A atual definição de síndrome de burnout ou síndrome de esgotamento profissional é a seguinte: conjunto de sinais e sintomas que perduram durante algum tempo e se caracterizam por esgotamento emocional, despersonalização e pouca realização pessoal no trabalho. Se considera uma resposta ao estresse laboral crônico que apresenta mal-estar e sentimentos negativos em relação ao trabalho e às pessoas.

  • Esgotamento emocional: o estado de cansaço afetivo no qual o trabalhador não consegue continuar atendendo pessoas em condições não adequadas para ele mesmo.
  • Despersonalização: consiste na desumanização e endurecimento afetivo. Os profissionais com síndrome de burnout se tornam insensíveis e cínicos com os pacientes, clientes ou usuários que atendem.
  • Pouca realização profissional: sensação de descontentamento e insatisfação consigo mesmo e com o trabalho realizado.

Burnout e estresse

Síndrome de burnout e estresse laboral são a mesma coisa? Não. A diferença entre síndrome de burnout e estresse laboral é que o primeiro é consequência do segundo. Ou seja, quando o estresse aumenta e se torna crônico, é possível que se converta em burnout. A síndrome de burnout é considerada mais ampla e grave que o estresse. Quanto aos sintomas, o estresse se manifesta através da sobre-implicação nos problemas e hiperatividade emocional, enquanto que no burnout se observa falta de implicação e esgotamento emocional.

Síndrome de boreout

É importante mencionar a síndrome de boreout, já que pela semelhança da grafia pode ser confundida com síndrome de burnout, tendo significados diferentes. A principal diferença entre burnout e boreout é a causa da síndrome. A causa da síndrome de boreout é a falta de trabalho e o aborrecimento que provoca.

Causas da síndrome de burnout

Por que ocorre? Quais são as causas da síndrome de burnout? A síndrome de burnout ou síndrome de esgotamento profissional deriva da interação entre as características da pessoa e a exposição a condições psicossociais de trabalho prejudiciais. Essas condições consistem em determinadas exigências, particularmente as emocionais, exageradas que ultrapassam o trabalhador. Portanto, encontramos dois grandes grupos de causas de síndrome de burnout.

1. Causas de síndrome de burnout relativas à pessoa

  • Pouca tolerância ao estresse e frustração.
  • Estratégias de afrontamento deficientes.
  • Falta de apoio social.
  • Perfeccionismo e sentido de responsabilidade.

2. Causas de síndrome de burnout relativas às condições de trabalho

  • Dever relacionar-se com pacientes, clientes ou usuários.
  • O trabalho emocional, ou seja, ter que expressar emoções socialmente aceitas durante o trabalho.
  • Sobrecarga de trabalho.
  • Falta de prevenção de riscos laborais psicossociais.
  • Desequilíbrio entre a carga de trabalho e os recursos disponíveis.
  • Má qualidade de relações interpessoais no trabalho.
  • Falta de oportunidades de aprendizagem, melhora e desenvolvimento.
  • Desequilíbrio entre as expectativas e a realidade do trabalho.
  • Horários de trabalho excessivos.
  • Altos níveis de exigência.
  • Falta de tempo para organizar as tarefas.

Síndrome de burnout: sintomas

A síndrome de burnout pode apresentar diferentes sintomas dependendo da pessoa, já que cada pessoa é única e a síndrome afeta cada um de forma distinta. Os três sinais chave para detectar o burnout ou síndrome de esgotamento profissional são as que foram comentadas anteriormente: esgotamento emocional, despersonalização e pouca realização. Nessas três grandes dimensões, podem ser incluídos os sintomas de burnout. No entanto, os sintomas de burnout também se podem diferenciar em sintomas físicos e sintomas psicológicos:

Síndrome de burnout: sintomas físicos

  • Dor de cabeça frequente
  • Dores musculares
  • Desconforto gastrointestinal (náuseas, diarreia, gases)
  • Palpitações
  • Enjoos
  • Fraqueza
  • Cansaço
  • Apetite maior ou menos
  • Dificuldade para respirar e suspiros
  • Problemas sexuais
  • Problemas do sono (insônia, pesadelos)
  • Gaguejar
  • Tremores
  • Sudorese

Síndrome de burnout: sintomas psicológicos

  • Pouca dedicação no trabalho (inclusive absentismo laboral)
  • Diminuição da intensidade das emoções
  • Insensibilidade
  • Distanciamento social
  • Cinismo
  • Desmotivação
  • Desespero
  • Sentimento de solidão
  • Frustração
  • Insatisfação
  • Hostilidade
  • Dificuldade para se concentrar
  • Culpabilidade
  • Irritabilidade
  • Desânimo
  • Nervosismo
  • Atitudes negativas
  • Dificuldade em tomar decisões
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Consequências da síndrome de burnout

Síndrome de burnout: consequências para o trabalhador

A síndrome de burnout pode derivar em severas consequências para a pessoa que o sofre. Em seguida, listamos algumas das consequências da síndrome de burnout para os próprios profissionais:

  • Consequências físicas. A síndrome de burnout pode influenciar ou potenciar aspetos como a queda de cabelo, contraturas musculares, problemas dermatológicos, cardiovasculares, digestivos, intestinais, sexuais e respiratórios. Pode contribuir para o padecimento de mais doenças como resfriados e infecções.
  • Consequências psicológicas. A síndrome de burnout pode provocar problemas emocionais e psicopatológicos, afeta a autoestima, a saúde, o bem-estar e a qualidade de vida da pessoa. Pode levar a transtornos do estado de ânimo (como a depressão) e transtornos de ansiedade. Outra das possíveis consequências da síndrome é o aumento das adições, tanto de substâncias como o álcool, tabaco ou outras drogas, como de comportamentos, como o jogo patológico ou as compras compulsivas, e ainda a fadiga crônica, mal-estar geral e comportamentos de risco.
  • Consequências sociais- A síndrome de burnout pode levar a consequências sociais como atitudes negativas em relação aos outros, isolamento social e aumento dos problemas entre o casal e a família.
  • Acidentes. A síndrome de burnout aumenta o risco de acidentes.

Síndrome de burnout: consequências para a empresa

A saúde e a qualidade de vida dos trabalhadores se vê repercutida na competitividade e eficácia das empresas, portanto, a saúde ou qualidade de vida más no trabalho afetam a organização negativamente através do absentismo e da diminuição da produção e da qualidade. Outra consequência do burnout que afeta as empresas é o aumento dos acidentes.

Síndrome de burnout: consequências para a sociedade

O burnout é um problema social e de saúde pública que implica um grande custo econômico e social. A síndrome afeta os profissionais, logo, influencia a economia. Além disso, por todos os seus sintomas, consequências e possíveis complicações, também se repercute no sistema de saúde.

Síndrome de burnout em enfermagem

A síndrome de burnout é mais prevalente entre profissionais que se dedicam a trabalhos vocacionais e de atenção a pessoas, como médicos, enfermeiros e professores. É cada vez mais frequente entre os trabalhadores que prestam serviços a pessoas e que trabalham em contato direto com pessoas, quer sejam pacientes, clientes, alunos, usuários, etc. Entre esses trabalhadores, se destacam os profissionais do setor da saúde, mais concretamente, os enfermeiros e enfermeiras. No entanto, também é importante destacar a importância do aumento da prevalência da síndrome de burnout em professores.

Síndrome de burnout em enfermagem: o que é

A enfermagem é uma das profissões que mais sofre com síndrome de burnout. Uma das causas da síndrome de burnout em enfermagem é a exposição constante ao sofrimento das pessoas. Uma da manifestações e consequências mais frequentes da síndrome de burnout em enfermagem é a diminuição da qualidade de trabalho.

Além disso, a síndrome de burnout em enfermagem é um dos motivos mais frequentes do abandono da profissão. Atualmente, existe uma escassez relevante de profissionais de enfermagem devido ao desgaste, algo que já foi avisado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Como evitar síndrome de burnout em enfermagem? Os especialistas sugerem aplicar medidas para melhorar as condições de trabalho, aumentar o salário e aumentar a formação contínua.

Investigações sobre a síndrome de burnout em enfermagem

Algumas investigações sobre a síndrome de burnout em enfermagem indicaram que o coletivo de enfermeiros e enfermeiras apresenta mais despersonalização e se sente menos realizado que outros profissionais sanitários como técnicos e auxiliares. Um estudo concluiu que 66,6% dos profissionais de enfermagem da amostra apresentava esgotamento profissional. Se observou que alguns indicadores de padecimento de síndrome de burnout em enfermagem são a falta de reconhecimento e a baixa satisfação laboral. Além disso, o esgotamento é superior em especialidades como os serviços de urgências, o serviço de oncologia e os cuidados de saúde mental.

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Síndrome de burnout: diagnóstico

O diagnóstico da síndrome de burnout deve ser realizado através de uma avaliação psicológica através de procedimentos validados e levada a cabo por um profissional acreditado. Portanto, se você acredita que sofre dessa síndrome, deve consultar um profissional para que ele descarte outros transtornos como distúrbios depressivos ou transtornos de ansiedade. Como vimos antes, esses transtornos podem ser consequência da síndrome de burnout.

Teste de síndrome de burnout

Para detectar a síndrome de burnout, o instrumento mais utilizado é o questionário de Maslach, cujo nome é Maslach Burnout Inventory (MBI). Christina Maslach é psicóloga investigadora e especialista em síndrome de burnout, tendo criado o teste de burnout em 1981. O Maslach Burnout Inventory serve para medir os 3 aspetos principaos do burnout: esgotamento emocional, despersonalização e realização pessoal, através de 22 itens. Os itens do MBI consistem em afirmações que devem ser pontuadas de 0 a 6 segundo a verdade das mesmas.

Síndrome de burnout: tratamento

O tratamento da síndrome de burnout começa pelas alterações na empresa ou local de trabalho. Em primeiro lugar, se deve melhorar a organização com o objetivo de que os trabalhadores não tenham uma sobrecarga de trabalho. Também é necessário facilitar os recursos necessários aos empregados, as ferramentas e a formação adequadas para que desempenhem as suas funções corretamente.

Síndrome de burnout: tratamento farmacológico

A síndrome de burnout como tal não exige necessariamente um tratamento medicamentoso. No entanto, esta decisão deve ser tomada pelo especialista através de uma avaliação exaustiva do caso. O uso de medicamentos para tratar a síndrome de burnout dependerá da gravidade dos sintomas apresentados e das características pessoais de cada paciente.

Síndrome de burnout: tratamento psicológico

A síndrome de burnout deve ser abordada de forma global, desde mudanças na organização da empresa até tratamento psicológico. Quanto ao tratamento psicológico, consiste em conhecer o síndrome de burnout, reconhecer os sintomas, entender a situação e identificar os fatores que deram origem ao mesmo e o mantêm.

  • Psicoeducação. Este primeiro passo do tratamento consiste em conhecer a síndrome de burnout, reconhecer os sintomas, entender a situação e identificar os fatores que o originaram e mantiveram.
  • Autoconhecimento. Através de registos e análise, consiste em detectar que situações dão origem a resposta de estresse desadaptadas.
  • Lidar com o estresse. Em primeiro lugar, é necessário aprender técnicas de respiração e relaxamento. Em seguida, se deve avaliar o sistema de crenças e modificar distorções cognitivas através de restruturação cognitiva.
  • Ajustar as expectativas. Como vimos anteriormente, alguns dos fatores que predispõem ao padecimento da síndrome estão relacionados com o perfeccionismo e o desequilíbrio entre as expectativas e a realidade. Por isso, é necessário aproximar as expectativas á realidade e ajustar o nível de auto-exigência perante as possibilidades reais.
  • Melhorar a autoestima. Para melhorar a autoestima, é necessário fazer um trabalho a fundo que inclui diversas áreas. É importante identificar as próprias fraquezas e forças, aceitá-las e trabalhá-lhas, ou seja, usar as forças para melhorar as debilidades. Além disso, também é necessário detectar e eliminar o julgamento próprio. Outro aspeto relevante consiste em ser amável consigo mesmo.
  • Desenvolver a resiliência. Ou seja, treinar a habilidade de se fortalecer após as dificuldades.
  • Trabalhar a assertividade. Melhorar as habilidades comunicativas e potenciar a assertividade é de grande utilidade pata estabelecer uma melhor comunicação com os colegas, superior e usuários, assim como defender os seus direitos desde uma base de respeito.
  • Hábitos saudáveis. É importante manter uma rotina de autocuidado e hábitos saudáveis que incluem exercício físico, alimentação equilibrada, boas relações sociais e meditação.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Referências
  1. Freudenberger, H. (1974). Staff burnout Journal of Social Issues. 30: 159165.
  2. Pines, A. y Aronson, E. (1988). Career burnout. Causes and cures. Nueva York: Free Press.
Bibliografia
  • Gil-Monte, P. R., & Moreno-Jiménez, B. (2005). El síndrome de quemarse por el trabajo (burnout). Una enfermedad laboral en la sociedad del bienestar. Madrid: Pirámide, 36-37.
  • Lazarus, R. S. & Folkman, S. (1986) Estrés y procesos cognitivos.
  • O.M.S.(2000) The World Health Report 2000. Health systems: Improving performance
  • Quiceno, J. M., & Vinaccia Alpi, S. (2007). Burnout: Síndrome de quemarse en el trabajo (SQT). Acta Colombiana de Psicología, Vol. 10, no. 2; p. 117-125.
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