Drogas virtuais: o que são e seus efeitos
Falar de drogas virtuais ou drogas sonoras pode ser estranho no primeiro momento. Normalmente, quando falamos de drogas, nos referimos a substâncias químicas que consumimos de forma oral, intranasal ou intravenosa. No entanto, uma moda cresce entre a população mais jovem: a de escutar sons que supostamente produzem alterações no nosso cérebro e cujos efeitos são muito parecidos aos das drogas mais comuns e "convencionais".
Mesmo que ainda não existam evidências científicas se essas drogas são ou não viciantes, muitos especialistas afirmam que as drogas virtuais podem produzir no ser humano sensações de enjoo, confusão e estados mentais alterados em parte parecidos com os que são gerados com o consumo de marijuana, cocaína, LSD entre outras. Nesse artigo de Psicologia-Online, descubra tudo sobre drogas virtuais: o que são e seus efeitos.
Drogas virtuais: o que são
O uso de termos como "drogas virtuais", "drogas sonoras" ou até "drogas digitais" e a disponibilização desses sons em plataformas como YouTube ou I-Doser são relativamente novos. Essa moda surgiu há aproximadamente 10 anos com o auge das novas tecnologias e graças ao fácil e rápido acesso que os jovens passaram a ter a todo tipo de informação, como vídeos e sons através da internet.
Drogas virtuais: sons binaurais
No entanto, as drogas virtuais têm uma base neurológica idealizada muito antes disso, em 1839. Naquela época, o físico Heinrich Wilhelm Dove descobriu o efeito dos chamados sons binaurais, ou ondas binaurais, no nosso cérebro, que é gerado quando recebemos distintos sons com frequências desiguais em cada ouvido.
Dove descobriu que o nosso cérebro é capaz de diferenciar as frequências dos sons se estes são captados de maneira separada pelos ouvidos. O nosso cérebro, então, sincroniza o funcionamento dos seus hemisférios direito e esquerdo para que os dois sons consigam ser conciliados e, assim, acaba criando uma terceira frequência a partir da diferença das duas anteriores.
Um exemplo disso seria escutar com um fone de ouvido algo em 600Hz no ouvido direito e outro som em 620Hz no ouvido esquerdo. A terceira frequência obtida pelo nosso cérebro, também chamada de frequência binaural, é de 20Hz. Essa frequência se torna o foco do que está sendo escutado e é capaz de estimular ou mudar o comportamento do nosso cérebro.
Assim, quando escutamos alguma das drogas virtuais, a via mesolímbica do sistema nervoso se altera. Essa área é a responsável por administrar e regular as nossas emoções e os estados de ativação e relaxamento do cérebro. Por isso, quando essa região é alterada o funcionamento do nosso cérebro é modificado[1] , produzindo, dessa maneira, sensações de enjoo ou confusão parecidas com as das drogas orais, intranasais e intravenosas. Para saber mais sobre o que é sistema límbico: funções, anatomia e doenças associadas leia esse artigo.
Além disso, existem estudos que apontam que, dependendo da frequência binaural gerada pelos sons das drogas sonoras, os seus efeitos podem ser diferentes. Por exemplo, para imitar os efeitos de uma droga depressora, como álcool ou antidepressivos, a frequência binaural deve ser menor que 13Hz.
Drogas sonoras: efeitos
Como já comentamos anteriormente, as drogas virtuais geram mudanças nas ondas cerebrais que podem chegar a afetar o nosso estado de consciência. Quando se usa dessas drogas, é normal que surjam dores de cabeça, enjoos e até náuseas, já que o canal auditivo, relacionado com o equilíbrio e a sensação de vertigem, é momentaneamente alterado.
Essa explicação parece ser a mais plausível para definir o que são drogas virtuais e quais são os seus efeitos. Até o dia de hoje, estudos descartam que, através de sons, seja possível reproduzir exatamente o mesmo efeito de uma droga de consumo físico. Para alguns especialistas, é até um erro chamar as drogas sonoras de drogas, já que os efeitos não são tão intensos e podem variar muito de pessoa a pessoa.
Ondas binaurais: efeitos colaterais
No entanto, outros concluem que as ondas cerebrais que são alteradas pelos sons podem sim chegar a produzir não só enjoos, como também sensações de excitação, relaxamento e euforia. Resumindo, a níveis gerais, os efeitos de uma droga virtual podem ser:
- Vertigem;
- Dor de cabeça;
- Nervosismo e até crises de ansiedade;
- Relaxamento ou confusão;
- Enjoos;
- Náuseas.
Além disso, diferentemente dos outros tipos de substâncias, a maioria dos especialistas não acredita que as drogas sonoras sejam viciantes. Vale ressaltar mais uma vez, contudo, que nesse assunto ainda falta consenso.
Sons binaurais fazem mal?
Em primeiro lugar, nós da equipe de Psicologia-Online queremos deixar claro que o consumo de qualquer tipo de drogas, principalmente se não for em moderação, é arriscado e pode ser prejudicial ao nosso corpo, sejam drogas legais, como o álcool e o tabaco, como ilegais, como a cocaína, o MDMA ou as drogas psicodélicas.
Por conta disso, e por elas produzirem efeitos como enjoos, dor de cabeça e mal-estar, as drogas digitais podem ser consideradas ruins para a saúde. No entanto, os sons binaurais em si, quando empregados da maneira correta, podem trazer muitos benefícios. Junto com as drogas sonoras também apareceu a moda de usar som theta ou alpha para ajudar a meditar.
Esse tipo de ondas produz uma frequência binaural que, em vez de produzir estados alterados de consciência, consegue ativar ondas cerebrais próprias do relaxamento, do foco e da meditação. Existem estudos que apontam os possíveis benefícios das frequências e ondas binaurais no cérebro[2].
Também pode te interessar: Técnicas de relaxamento mental
Drogas virtuais funcionam?
Como já afirmamos antes, ainda falta consenso em relação às drogas sonoras, e uma das questões que é mais levantada atualmente sobre isso é se drogas virtuais funcionam. Com esse tipo de droga, para conseguir experienciar um estado alterado de consciência, muitas pessoas buscam tipos mais fortes para comprovar os efeitos dos sons.
Porém é importante saber que o funcionamento das drogas digitais não é o mesmo que o das convencionais. No caso dos sons, o que é afetado é a física das ondas cerebrais e não a química cerebral. Por isso, podemos dizer que sim, as drogas virtuais funcionam, mas muitas vezes não da maneira na qual esperamos ou desejamos.
Drogas virtuais: experiências com I-Doser
O I-Doser é uma plataforma que oferece todo tipo de drogas digitais, que são classificadas pelos efeitos e semelhanças às substâncias químicas mais conhecidas. O software foi criado especialmente para armazenar e vender arquivos de sons e experiências em áudio que simulam doses de drogas. Apesar da sua moral duvidosa, esse programa afirma que seus sons e áudios são altamente eficazes e que produzem as sensações desejadas por seus usuários.
No entanto, realizando uma breve investigação sobre pessoas que tiveram experiências com I-Doser em fóruns na web, por exemplo, pode-se perceber que os efeitos do produto muitas vezes deixam a desejar. Apesar de produzir sensações de agitação, enjoo e até relaxamento em casos, muitos dos usuários que provaram dessas "doses digitais" não ficaram satisfeitos com a vivência que tiveram.
Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.
Se pretende ler mais artigos parecidos a Drogas virtuais: o que são e seus efeitos, recomendamos que entre na nossa categoria de Dependências.
- Agustín, L. G. O., Oswaldo, O. T., Patricia, C. G., de Coyoacán, C. A. M., de ciencias Biológicas, C. Á., & Escolar, P. XXI CONGRESO DE INVESTIGACION CUAM-ACMor “COMPARACIÓN DE LOS EFECTOS PSICO-FISIOLÓGICOS DE LA MARIGUANA Y LA DROGA AUDITIVA”.
- Filimon, R. C. (2010, June). Beneficial subliminal music: binaural beats, hemi-sync and metamusic. In Proceedings of the 11th WSEAS international conference on Acoustics & Music: theory & applications (pp. 103-108). World Scientific and Engineering Academy and Society (WSEAS).