Conflitos familiares

Não aguento mais cuidar da minha mãe, o que fazer?

Sonia Silgado
Por Sonia Silgado, Psicóloga. 29 dezembro 2020
Não aguento mais cuidar da minha mãe, o que fazer?

É comum que filhos e filhas de seus pais e mães quando envelhecem. Além disso, o papel de cuidador raramente é discutido e é a ideia de que pessoas mais velhas vivam em residências geriatricas pode ser recebida de maneira negativa por algumas esferas da sociedade. Há uma crença constante sobre ter que cuidar de nossos pais, já que eles cuidaram de nós quando éramos mais jovens.

Deve-se levar em conta que, em muitas ocasiões, esta crença é levada ao extremo, produzindo no cuidador problemas de saúde física e mental, devido ao esgotamento que o cuidado de uma pessoa dependente sem qualquer tipo de descanso implica.

'Não aguento mais cuidar da minha mãe, o que fazer?' Neste artigo de Psicologia-Online, veremos o que você pode fazer se estiver cansado de cuidar de sua mãe, falaremos sobre a síndrome do cuidador, os conflitos que podem surgir entre irmãos devido a esta situação e as possíveis consequências que deixa na família.

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Índice

  1. Síndrome do cuidador ou cuidadora
  2. Problemas familiares
  3. Cuidar de quem cuida

Síndrome do cuidador ou cuidadora

A síndrome do cuidador é definida por um sentimento de sobrecarga, exaustão, estresse, uma sensação de isolamento de outras pessoas, já que a vida do cuidador se limita a atender às necessidades da pessoa doente.

Quais são as consequências da síndrome do cuidador ou cuidadora? Este estado leva à negligência da unidade familiar, falta de liberdade, privação e sacrifícios pessoais, conflitos entre membros da família devido à diferença de tempo dedicado ao paciente, sentimentos negativos em relação ao parente a ser atendido, entre muitos outros. O alto nível de fadiga e estresse também tem efeitos a longo prazo, tais como problemas cardíacos, ansiedade e depressão. Portanto, é normal estar cansado ou cansado se você estiver cuidando de uma pessoa doente ou dependente.

O que se vê são pessoas que decidem cuidar de um/a parente na totalidade do tempo devido à obrigação moral que se sente.

Problemas familiares

É bastante comum que o cuidador ou cuidadora principal seja um deles. A sobrecarga causa conflitos entre os filhos e filhas da pessoa doente já que, por um lado, o/a principal cuidador/a se queixa de ser o principal responsável pela situação e, por outro lado, a família frequentemente age como uma fonte de críticas e não de apoio. Em outras palavras, eles censuram o principal cuidador por não fazer as coisas de maneira diferente, por exemplo. Portanto, os conflitos entre irmãos para cuidar de sua mãe ou de seu pai são comuns.

Com o tempo, esta situação abre uma lacuna no afeto entre os membros da família, e em muitas ocasiões, quando o pai ou a mãe morre, há inúmeros conflitos em relação à herança, uma vez que o principal cuidador é considerado como tendo um direito maior sobre a herança do que os outros irmãos.

Portanto, é da maior importância que a responsabilidade recaia de forma equitativa sobre os vários membros da família e que também tenham apoio externo formal.

Cuidar de quem cuida

Cuidar de um dependente na família deixa sequelas. Como mencionado, é comum que haja uma falsa crença de que se deve cuidar dos doentes vinte e quatro horas por dia. Isto coloca um grande fardo sobre uma única pessoa e causa os efeitos acima mencionados sobre a saúde. Estes efeitos à saúde significam que a pessoa acaba desenvolvendo sentimentos negativos em relação à pessoa doente, levando a cuidados cada vez piores ou, no pior dos casos, a maus tratos, pois é culpada pelos problemas que surgiram por ser um cuidador ou cuidadora.

Algumas diretrizes que devem ser seguidas para aliviar a sobrecarga de quem cuida são:

  • Pedir ajuda: antes de tudo, você deve entender que é necessário estar física e mentalmente bem para cuidar, para que você não se sinta culpado por pedir ajuda a outros parentes ou registrar a pessoa doente em um centro de cuidados temporários por um dia, por exemplo, para que você possa ter algumas horas para si mesma e possa descansar.
  • Manter os hábitos de vida saudáveis: é fundamental manter hábitos de vida saudáveis em relação à alimentação, ao sono, ao esporte... e também em relação à saúde mental, ou seja, ter atividades de lazer consigo mesmo, também atividades com outras pessoas, a fim de manter a vida social.
  • Não sobre-proteger: é importante que você também permita que seu familiar faça todas as atividades de que é capaz, não apenas para promover sua autonomia, mas também para torná-lo menos dependente dos outros e não ter que dedicar tanta atenção a eles.
  • Aceite que você é humano/a: se a qualquer momento aparecerem sentimentos e pensamentos negativos que não são socialmente aceitos (como estar cansado de cuidar de sua mãe ou pai), é lógico, normal e em parte devido à sobrecarga. Não se sinta culpado, aceite que você terá dias ruins e peça a seus familiares que o ajudem nesses dias para que você possa descansar.
  • Evite situações de estresse e conflito: já que você já vive em uma situação estressante.
  • Arranje tempo para suas necessidades: é muito importante encontrar um equilíbrio no qual o cuidador tenha tempo para o autocuidado e também seja cuidado por outros.
  • Informe-se sobre a doença: pode ser bastante útil entender bem a doença de seu familiar para que você saiba como ajudar da melhor maneira possível e saiba quais sintomas são comuns.
  • Conheça-se e cuide-se: acima de tudo, compreenda-se, cuide de si mesmo. Quando seus pais cuidavam de você, eles também tinham apoio, de seus próprios pais, de creches, de outros parentes... Você não deve estar só nesta situação, porque, mais uma vez, para cuidar dos outros você deve primeiro cuidar de si mesmo.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Flores, E., Rivas, E., & Seguel, F. (2012). Nivel de sobrecarga en el desempeño del rol del cuidador familiar de adulto mayor con dependencia severa. Ciencia y enfermería, 18(1), 29-41.
  • Garro-Gil, N. (2011). Análisis del" Síndrome del Cuidador" en los casos de enfermedad de Alzheimer y otras demencias desde un enfoque ético-antropológico.
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5 comentários
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Andreia
Minha mãe tem 91 anos, esse ano está dando muito trabalho depois que fez a cirurgia de tirada de vesícula com pedra, está muito bamba cagando demais na calça, vomitando muito, cuidamos dela a mais ou menos por 15 anos minha irmã que cuidava faleceu, eu e minha outra irmã cuidamos tem uns 6 anos, mas tá osso pois não tenho vida não posso fazer o que quero vivo a vida dela. Estou ficando muito cansada não tô aguentando mais peço Deus força tds os dias mas tá osso
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Sixto
Prezados,
Me chamado Sixto, tenho 58, sou solteiro e moro (não que eu queira) com minha mãe de 84 anos, ela vai fazer 85 em maio.
Ela já caiu 3 vezes na rua, e mais 3 vezes em casa, sendo que de 2 vezes que caiu na rua, quebrou o braço e depois o punho, este último no ano passado.
Eu sempre estive sozinho para cuidar dela, apesar de ter um irmão 1 ano mais velho que eu. Não consigo ver minha mãe nesse estado. Já faz algum tempo, que ela reclama de dores nos quadris. Porém, nunca tive muita condição financeira para cuidar melhor dela. Na verdade, eu até pagava um convênio médico pra ela (Prevent Senior), mas depois que fiquei desempregado e com uma renda reduzida, não pude pagar mais, e desde então ela ia no posto de saúde sozinha, pois eu estava trabalhando até 2021, quando me aposentei.
Tenho percebido, que minha mãe não está só com problema físico (dificuldade para andar) as vezes conversando com ela, percebo que a memória recente está falhando. Isso é muito triste para mim, pois ainda me lembro que até antes de 80 anos ela saída muito para ir ao mercado, na feira e coisas do tipo. Agora, ela não tem mais força física para andar (anda com extrema dificuldade). Eu a levei para tomar todas as vacinas no posto de saúde, inclusive no hospital quando quebrou o punho.
Ver o que aconteceu com minha mãe dói muito em mim, e não tenho para quem pedir ajuda. Meu irmão, depois que se casou pela segunda vez, praticamente não vinha mais em nossa casa para ver nossa mãe (não compreendo esse comportamento dele).
Depois que minha mãe caiu e quebrou o punho em 2021, entrei em contato com ele (meu irmão) para informar do ocorrido, e ele praticamente nem deu muita atenção (simplesmente disse que eu teria que levar ela no médico, ele não demonstrou preocupação com a saúde dela e nem veio visitá-la. Acabei discutindo seriamente com ele por telefone, e depois disso (alguns dias), ele veio em casa para ver nossa mãe.
Diante desse quadro, preciso de ajuda e não sei para quem, pois não estou mais conseguindo cuidar de mim.
Por favor, alguém, pode me ajudar ???
Viviane
Olá Sixto. Como está sua mãe? E vc, está melhor?
Escrevi aqui em 2021. Nossa, nem lembrava mais que havia postado um comentário sobre minha situação aqui...Já se passaram dois anos e tenho que dizer que, como sempre me disseram, "quando sua mãe se for vc sofrerá muito". Sinceramente não acreditava que seria tão, mas tão sofrido. Ela se foi em maio do ano passado (2022). Gente, que dor é essa?! Dois meses antes dela partir, eu havia sofrido um acidente em casa e quebrei o fêmur e quadril. Passei p cirurgia, foi uma loucura, surreal. Minha mãe já estava bem debilitada mental e fisicamente. Ela estava novamente c câncer e já tinha tantas outras doenças, não sei como ela suportou tanto sofrimento por dezoito anos.
Na época que eu escrevi aqui, eu estava muito fragilizada, cansada, esgotada, pois cuidava dela a dezesseis anos. Minha irmã trabalhava e mora em outra cidade, 150 km . Quando dava p vir, vinha nos finais de semana. Eu estava sobrecarregada. Quando tive o acidente, ela precisou deixar o trabalho pra vir cuidar de minha mãe e de mim também, pois a cirurgia foi de grande porte. Passamos por momentos que não desejo pra ninguém no mundo. Gente, assistir uma mãe sofrer sem poder fazer nada é insano, uma tortura. Ficamos abaladas emocionalmente. Nossa mãe estava terminal e não teve atendimento paliativo por parte do SUS, nunca consegui incluir ela no programa de cuidados paliativos só porque ela não fazia uso de sonda alimentar, simplesmente eles não aceitavam minha mãe apesar dela ser acamada, dependente muito doente. Ela teve uma parada cardiorrespiratória em casa, foi um trauma. Ela ficou na emergência de uma UPA por 42 horas. Não podíamos ficar com ela. Estávamos aguardando ela ser transferida para enfermaria pra podermos ficar com ela. Nunca deixei minha mãe sozinha em todos esses anos. Ela chorava quando eu precisava sair de perto dela, era minha menina, eu virei mãe dela, a vida é assim, de repente os papéis se invertem e temos que fazer nosso melhor. Hoje, nove meses depois, volto aqui pra dizer que nunca imaginei que eu sofreria tanto sem a presença dela. Foi um pedaço de mim embora. Ela sofreu muito por muitos anos. Ela ajudou muitas pessoas quando ela tinha saúde. Ela era uma mulher que se preocupava com todo mundo, até demais. Creio que por conta desta sensibilidade excessiva que ela tinha, acabou adoecendo, teve o primeiro AVC c 54 anos. Às vezes a vida é muito injusta. Só agora estou recuperando minha fé. Quero dizer a voces que leram este artigo, que não é fácil realmente, é difícil cuidar sozinho, é difícil não poder dividir com alguém, é difícil ter sua vida estacionada pra poder cuidar de um familiar, mas quero que saibam, se a gente soubesse o tanto de amor que a gente tem por eles. Se eu soubesse o quanto eu ia sofrer quando ela fosse embora, talvez tivesse sido mais conformada, mais grata por ter tido o privilégio de cuidar da pessoa mais importante da minha vida.
Deus abençoe a todos e dê forças para seguir em frente.
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Viviane Beganskas
Olá, tudo bem? Acabei de ler o artigo. Na verdade dificilmente encontro algo falando de situações como a minha, até porque acredito que é um pouco difícil encontrar alguém que cuida sozinha por dezesseis anos de uma mãe c sequelas de tres AVCs, DPOC, insuficiência cardíaca, neuropatia diabética, artrose, passou por uma nefrectomia total a alguns anos atrás por conta de um câncer no rim esquerdo. Nem preciso dizer a quantidade de remédios que ela toma. Agora de uns meses p cá, tem ficado agressiva, fica irritada sem motivo e tem tido uns comportamentos que ela não costumava ter. É a doença seguindo seu curso, não é mesmo? Nada é tão ruim que não possa piorar. Bem, se me permitir, vou falar um pouco de mim. Tenho 55 anos, estou no segundo casamento, tenho apenas uma irmã que não posso contar com ela, pois tem uma vida "enrolada" . Desde 2005 tenho cuidado por tempo integral de minha mãe. Já deixei em clínica para idosos, mas ela chorava muito e não tive coragem de deixá-la. Tive uma cuidadora que me ajudou muito, mas a crise financeira me obrigou a dispensá-la. Hoje, me sinto doente. Tive diagnóstico de Parkinson em 2017, ainda assim continuo cuidando de tudo, casa, comida, marido e minha mãe, é claro, muitas vezes me arrastando. Minha mãe, apesar das sequelas neurológicas, fica prestando atenção no que faço e oq não faço. Ela acha que eu tenho saúde p dar e vender então, se me deito um pouco ou tento fazer algo p me distrair, ela se sente abandonada. Simplesmente não tenho uma vida a dezesseis anos. Ultimamente tenho feito terapia, mas estou pensando em parar pela quinta vez. Tomo três antidepressivos que me ajudam a continuar em pé. Às vezes penso que perdi a fé, fé na vida, fé em tudo. Meus parentes continuam vivendo e se divertindo. Ninguém nunca ofereceu ajuda. Minha irmã vem de vez em quando, mas não vê a hora de ir embora, Fica alguns dias e some.
Bem, isso foi só um desabafo e desabafos são desabafos, só isso. Não há nada o que ser feito. Obrigada.
ROSIVALDA MARIA
Viviane beganskas sua história é muito parecida com a minha o mesmo caso e já não aguento mais tou doente nem aguento andar direito com dor na coluna e minha mãe diz que sente mais pena dela do que de mim porquê sou mais nova ela acha que não tou doente faz oito anos que não tenho vida tem hora que sinto vontade de sumir do mapa .
Cristiane
Sua história muito parecida com a minha
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Silvana
Eu tenho 5 filhos. Faz um ano que saí de uma religião que destruiu meu psicológico. Ando muito sobrecarregada, pois, faço artesanato em casa pra poder vender e ajudar meu marido a manter a casa. Acordo aflita todo dia, pois tenho que cuidar de casa, das crianças, a menor, bebê, cuidar das minhas encomendas. Está faltando as coisas em casa. E minha irmã fica literalmente empurrando minha mãe pra ficar aqui em casa. Ela ajuda com dinheiro, mas, o gasto aqui é muito, e nem é obrigação dela. Mas, sinto que minha irmã não está nem um pouco preocupada sobre como eu estou, pois já falei inúmeras vezes que está muito difícil para mim.
Ainda por cima, fica jogando na minha cara, pq fui ter esse monte de filhos se não consigo dar conta. Em fim, estou destruída, não posso reclamar, e sinto que vou surtar a qualquer momento. Preciso de ajuda!
Equipe editorial (Editor/a de Psicologia-Online)
Olá, Silvana. Você já pensou em procurar ajuda psicológica para um acompanhamento personalizado para falar sobre o tema? O CVV (Centro de Valorização da Vida) também pode te orientar. Basta ligar gratuitamente para 188.
Um abraço da equipe editorial de Psicologia-Online!
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MANDF
Acerto que sempre tive uma mãe tóxica, só que o meu aí estava bem de saúde, ela vinha na minha casa aos finais de semana como visita.
Meu pai está doente e me sinto sufocada com a minha mãe, pois ela sempre acha que tenho que fazer mais, que não dou a atenção bmerecida, que tenho que deixar a minha casa , marido e filha e ficar 24 horas com ela, acha que trabalho pois não gosto de ficar na minha casa. Quero me libertar disso pois estou me sentindo muito mal.
O que eu faço para me libertar?
Não aguento mais cuidar da minha mãe, o que fazer?