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Transferência na psicologia: tipos e exemplos

 
Bryan Longo
Por Bryan Longo. 21 agosto 2020
Transferência na psicologia: tipos e exemplos

A transferência na psicologia conseguiu se estabelecer como um dos pontos fundamentais do processo analítico, ao permitir encontrar a origem biográfica dos sintomas ao ser interpretada. Neste artigo de Psicologia-Online, te explicamos o que é a transferência na psicologia: tipos e exemplos de cada uma.

O que é a transferência na psicologia

No caso de Dora, Sigmund Freud abordou o tema da transferência. Ele a definiu como:

Reedições, reconstruções de emoções e fantasias que teriam de ser despertas e tornadas conscientes com o avanço da análise, com a substituição característica de uma pessoa do passado pela pessoa do médico.

Para dizer de outra forma: toda uma série de experiências psíquicas anteriores se revitalizam, não como passadas, mas sim como uma relação atual com a pessoa do médico.

Como expõe Celedonio Castanedo (2008), Freud mencionava que a transferência pode implicar reedições simples ou não modificadas de experiências infantis, ou de reelaborações complexas e sublimadas. Enquanto que nos Estudos sobre a histeria (1895), o tema da transferência havia sido tratado como um obstáculo, e por vez Freud manifestava sua íntima vinculação com a resistência, agora é caracterizada como o meio auxiliar mais eficaz da psicanálise.

A situação analítica adquire seu potencial terapêutico através das transferências, mas sobretudo nas que chegam a se tornar compreensíveis e experimentáveis para o paciente. Assim estas transferências correspondem ao centro do processo psicanalítico, já que o analista se absterá de transmitir proibições, conselhos, prescrições e opiniões pessoais. As experiências da transferência podem aparecer continuamente, mas também podem ser rejeitadas e reprimidas pelo paciente, assim o analista as apontará e as interpretará, para que se possa encontrar sua natureza e logo se dissolver pelo trabalho interpretativo.

As reações de transferência podem adotar a forma de sentimentos positivos, negativos ou ambivalentes, proporcionando assim o desenvolvimento pleno na neurose de transferência. Contra as intenções terapêuticas surgem processos de resistência, que podem adquirir várias formas, por exemplo a representação (viver conteúdos transferíveis na prática, no lugar de interpretá-los, elaborá-los e dissolvê-los).

A transferência como mecanismo de defesa

Freud propunha que todo ser humano tem uma especificidade determinada no exercício de sua vida amorosa. Esta maneira de exercer a vida amorosa é, para Freud, o resultado de uma soma: de disposições inatas e experiências na infância, as quais geram como consequência uma especificidade que se pratica no amor (por exemplo, quais são as condições desse amor, quais são as metas que se fixam nessa linha amorosa).

Isto tem como resultado um clichê, algo que se repete/reimprime de maneira regular ao longo de toda a vida. Isto nos permite entender o problema fundamental, de que se esta necessidade ou forma particular de viver, precisar e pensar o amor não é satisfeita pela realidade, a pessoa se verá obrigada a introduzir todas essas expectativas sobre o que considera o entorno do amor - ou seja, todos os clichês do amor em relação a uma pessoa que apareça - para assim forçar a essa nova pessoa com a qual mantém um vínculo amoroso (partner) para que, de alguma forma, satisfaça as necessidades dos clichês.

Tudo isto se relaciona com a transferência, porque assim como ocorre esta forma específica de amar, quando não é satisfeita pela realidade, obriga a pessoa a preencher esse lugar com as pessoas que vai encontrando. É normal de certa forma que esta tentativa libidinal insatisfeita se dirija diretamente para o médico (em direção à figura do médico) durante seu tratamento de análise. Freud dizia que depende dos vínculos reais com o médico - se esta sensação se fundamenta - por exemplo, com a imagem paterna ou se fundamenta com a imagem materna ou do irmão. Então, assim, o resultado não será o mesmo se o terapeuta é do sexo masculino ou não (o paciente diz algo como «eu gostaria que você fosse mulher e jovem» a partir daí as fantasias transferíveis já estão presentes, girando em torno da ideia do analista).

Assim, a transferência, no sistema de Sigmund Freud, é uma forma de amar, porém só se repetem os objetos selecionados por essa forma de amar. Por este motivo, é interessante analisar a transferência.

  • Por exemplo, um paciente que vinha associando bem e de repente se detém. Para Freud, é necessário indicar a ele que está pensando nesse momento em uma ocorrência relativa ao terapeuta (por exemplo «quando você para, é porque está pensando em alguma coisa minha»). Nesse silêncio ou pausa, o enfoque Freudiano tem que perguntar - está pensando em alguma coisa?

Em outras técnicas psicológicas, a transferência não é tida como algo que se possa analisar (por exemplo, o paciente afirma que está se apaixonando por sua terapeuta) nestas técnicas eles interrompem o tratamento ou acabam tendo relações com seus pacientes.

Para a psicanálise, quando esta transferência positiva aparece de forma erotizada, não é recomendável interromper o tratamento, mas sim analisar diretamente esta transferência como uma resistência. Se interrompermos o tratamento, a resistência ganha.

Tipos de transferência na psicologia

Devemos recordar que, para Freud, qualquer elemento que detenha o fluxo associativo normal do dispositivo é resistência, incluindo quando essa transferência seja em termos amorosos.

  • Por exemplo, o paciente diz: "Nossa, como o analista se vestiu bem hoje" ou "Que linda a analista está hoje". No momento em que pensa e fala isso, já é resistência para Freud (mesmo que se trate de amor).

A transferência é a melhor forma de interromper um tratamento, porque provavelmente vocês poderão gerir relativamente bem quando um paciente os trata no sentido de uma transferência negativa, mas fica muito complicado quando um paciente usa amor como uma forma de resistência. Freud propõe assim que existem dois tipos de transferência que é preciso saber diferenciar:

  • Transferência positiva: corresponde a todos os sentimentos ternos que o paciente possa ter pelo terapeuta ou analista. Estes, por sua vez, se dividem em outros dois: sentimentos eróticos e sentimentos amistosos/ternos.
  • Transferência negativa: corresponde aos sentimentos de hostilidade pelo analista.
Transferência na psicologia: tipos e exemplos - Tipos de transferência na psicologia

Exemplos de transferência

A seguir veremos exemplo de diferentes tipos de transferência para deixar o conceito mais claro e ver como ele se aplica.

Transferências positivas erotizadas

Em uma transferência positiva com sentimentos eróticos, é possível que a cena do seguinte exemplo apareça:

Um paciente que vinha ao consultório e falava e associava relativamente bem, deixa de se importar com o tratamento de repente (de última hora escreve dizendo que na seguinte sessão tem que ir a um casamento, na seguinte diz que não tem dinheiro e não pode vir, para evitar se colocar em análise). Também pode se apresentar de outra forma, onde é muito evidente a resistência no sentido de que erotizando o vínculo elimina-se a parte analítica (porque uma pessoa não vai analisar o namorado ou a esposa). A mudança tem q ver com erotizar o vínculo para que deixemos de trabalhar analiticamente e em troca nos coloquemos a fazer coisas de casal.

E aqui é possível mencionar exemplos onde os analistas acabam se relacionando ou até mesmo se casando com seus pacientes - causando assim questões iatrogênicas gravíssimas - Se se relacionam, a resistência da transferência positiva erotizada funcionou.

Transferências positivas com sentimentos amistosos

Por exemplo, aqui é quando os pacientes se dão conta que o analista os recebe, os escuta, disponibilizam seu tempo para escutá-los e consideram isso como uma cortesia amistosa.

Transferência negativa

Aqui os pacientes, por exemplo, dizem que o analista é um burro, que não gosta deles e que não se importam com eles. Até mesmo em situações onde mudam de terapeuta e começam o processo com o novo terapeuta dizendo cosias como «percebi que meu analista anterior não sabia muitas coisas, não lia muito, não entendia tanto» é possível que esses ataques intelectuais também sejam elementos de resistência. O problema da transferência negativa é que, se não é interpretada, acaba na interrupção do tratamento.

Aqui Freud foi claro em dizer que a transferência somente é resistência quando é negativa ou quanto é erotizada (apenas nesses casos se deve interpretar a transferência). Freud usa um termo de Bleuler para estabelecer uma característica particular das pessoas neuróticas: a ambivalência. A ambivalência é a coincidência de transferências negativas junto com transferências positivas ternas (não erotizadas).

O grande conselho Freudiano é que, se vocês como analistas virem a transferência negativa, interpretem ela, e devem fazer isso rapidamente e não esperar até a seguinte sessão, porque talvez não haja outra sessão (na sessão seguinte terão sido convidados para um casamento ou aniversário e na próxima não terá dinheiro).

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Castanedo Secadas, C. (2008). Seis enfoques psicoterapéuticos. Manual moderno. México.

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