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Como curar feridas emocionais do passado

 
Sara Sanchis
Por Sara Sanchis, Psicóloga especializada em Crescimento Pessoal. 18 novembro 2020
Como curar feridas emocionais do passado

Curar feridas emocionais do passado não é uma tarefa fácil uma vez que se trata de retomar experiências vividas que foram dolorosas para nós. Porém, embora não seja muito encorajador voltar a experimentar as emoções negativas vividas, é um passo essencial se desejamos desfazer definitivamente essa ferida.

Na realidade, trata-se de uma decisão muito corajosa que permite, a quem escolhe levá-la adiante, apagar lamentos passados que, como fantasmas, seguiam condicionando sua vida atual. Desta forma, as pessoas que decidem enfrentar este processo são libertas deste peso e voltam a recuperar sua verdadeira força para conduzir sua vida de uma maneira muito mais feliz, calma e agradável.

No seguinte artigo de Psicologia-Online vamos te contar o que são as feridas emocionais e como são produzidas. Falaremos sobre como reconhecer se temos feridas emocionais infantis e como curar feridas emocionais do passado através de técnicas psicológicas e exercícios.

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O que são as feridas emocionais

As feridas emocionais são feridas da alma que ocorrem como resultado da vivencia pessoal de alguma situação que nos fazem sentir um grande desconforto, angustia ou tristeza. Um dos fatores que causam estas feridas emocionais é que essa situação não é enfrentada, de maneira individual ou através de acompanhamento de terceiras pessoas, de uma maneira eficaz, positiva e construtiva. Portanto, não se trata tanto da vivência traumática experimentada e sim do modo em que a pessoa o enfrenta, o que dependerá afinal dos recursos pessoais e de apoio social de que disponha a pessoa neste momento e nos anos posteriores dessa vivencia. De acordo com a situação vivida e da interpretação da mesma, a ferida pode ser de diferentes tipos, entre os que encontramos: as feridas de rejeição, de abandono, de humilhação, de traição e de injustiça.

As feridas emocionais produzem uma grande dor e suas consequências levam a pessoa a fechar o seu coração e, com isso, sua abertura ao mundo. E se deixa invadir, inconscientemente e de maneira permanente nos anos que virão, por todos os medos experimentados na vivencia dessa situação. Isso resulta, de maneira generalizada ou diante de situações similares a original, que o potencial real da pessoa (a sua essência) desapareça e seja controlado pela pequena sombra que se criou. A qual habita em seu interior aparentemente com a intenção de o defender diante de situações perigosas mas, ainda assim, o priva de sua alegria e energia vital natural, e o leva a viver sua vida em modo "defesa-fuga-ataque". Em conclusão, as 5 feridas da alma impedem ser você mesmo ou mesma.

Quando são criadas as feridas da alma

A maior parte das feridas emocionais se formam durante a infância. Isto é porque se trata do período de maior vulnerabilidade tanto é que as crianças se encontram em um estado de total abertura ao mundo, sem nenhum tipo de defensa nem escudo que os protejam. Diante disso, quando experimentam alguma situação carregada de negatividade (rejeições, abandonos, maus tratos, violências, etc.) se não receberam indicações prévias sobre como se defender destes ataques ou se não são acompanhados convenientemente durante ou depois do acontecimento, o ocorrido fica gravado para sempre em sua alma gerando uma grande dor que provocará a ferida emocional.

Como surgem as feridas emocionais

Não é necessário que as rejeições, abandonos, maus tratos ou violências sejam de grande intensidade para provocar essas feridas (quando os acontecimentos negativos acorrem com grande intensidade e tempo prolongado, acabam criando verdadeiros traumas). Por outro lado e infelizmente, a origem das feridas emocionais está a disposição do dia, já que as crianças, que se encontram em um estado de abertura e confiança total para a vida não são atendidos em muitas ocasiões como necessitam com base em suas necessidades primarias e sofrem, com isso, continuas rejeições e abandonos (na medida em que não são atendidos como merecem) e maus tratos e violências (muitas frustrações adultas se descarregam injustamente sobre as crianças).

As situações que dão lugar a essas feridas emocionais são criadas pelas pessoas que se relacionam e convivem com as crianças (pais, família, educadores e relação com outras crianças). Por outro lado, as personas que podem providenciar ferramentas de proteção e defesa para afrontar corretamente estas situações são principalmente os pais, a família, os amigos e a escola, construindo como sua rede de apoio social. Outros fatores que determinam a criação da ferida emocional e seu grau de intensidade serão:

  • A idade da criança: quanto menor é, mais gravidade apresenta a ferida emocional já que a vivencia da criança é totalmente sensitiva e sua incapacidade para raciocinar o ocorrido provoca que o mau estar fique gravado a nível inconsciente sendo, por tanto, mais inacessível a sua consciência.
  • A gravidade do acontecimento: quanto maior a gravidade, maior intensidade da ferida.
  • A duração no tempo do sucesso: quanto maior a duração, maior será a ferida.
  • A vivência pós-trauma: dependendo de como se encara este momento (se comunicou o ocorrido, se recebeu apoio externo, se pode tomar consciência real da injustiça ocorrida, etc.) a ferida permanecerá por mais ou menos tempo e suas sequelas sobre a vida da pessoa serão maiores ou menores.

No entanto e apesar destes fatores, todas e cada uma das feridas emocionais deixam um rastro de grande dor na alma humana. Por isso é importante identificar as feridas que possuem e conhecer as técnicas para sanar feridas emocionais.

Como curar feridas emocionais do passado - Como surgem as feridas emocionais

Como saber se tenho feridas emocionais da infância

Para saber se temos feridas emocionais da infância basta se atentar nestes quatro aspectos:

  • Se reagimos com medo, fuga, negação, agressividade ou qualquer outra conduta negativa de maneira repetida perante certas situações. Em caso afirmativo, essa reação seguramente seja a resposta defensiva que leva ao nosso inconsciente como resposta a uma ferida emocional interna com o objetivo de não voltar a sofrer o ocorrido.
  • Outra pista para reconhecer se temos feridas emocionais infantis é detectar que estes mecanismos não nos permitem atuar de uma maneira alegre, suave e espontânea, tal como faríamos no caso de não ter medo nem nos defender de nada.
  • Uma terceira manifestação evidente de feridas emocionais infantis são os sintomas físicos que nosso corpo produz diante dessas situações: angustia, contração corporal, sudorese, tremor, paralização, engasgamento, etc.
  • Finalmente, uma clara evidência das feridas da alma são a obsessão mental negativa que se ativa diante dessas situações, que provoca todos os sintomas físicos psicológicos ao reproduzir toda uma série de crenças irracionais internalizadas que reproduzem os medos vividos na situação original.

Como curar feridas emocionais

Vendo até que ponto nos machucam e condicionam as 5 feridas da alma, é importante saber como realizar a cura emocional. Na continuação veremos exercícios e técnicas para curar a alma. A técnica de cura definitiva supõe um processo que é constituído de várias fases que têm início em diferentes momentos mas que logo se dão necessariamente de maneira simultânea durante todo o processo de cura:

Realizar exercícios de autoconhecimento

Realizar práticas respiratórias e de relaxamento e meditação que os permitam se conectar com sua verdadeira voz. Nestes artigos falamos sobre a introspecção.

Tomar consciência da vivência que criou a ferida

Para curar as feridas emocionais bastará recordar qual foi o momento em que essas feridas foram criadas. Um trabalho tão simples aparentemente, pela liberação interna que supõe soltar todos os medos e falsas crenças associadas a elas mas que provocam grandes resistências.

Compreender os comportamentos devido a ferida

A tomada de consciência dessas duas partes, nossa essência e o personagem ou ego, e saber diferencia-las. É precisamente esta parte ferida que acreditou ser tão verdadeira toda a historia vivida que não vê outro possível modo de vida fora de seu esconderijo que, embora ele provoca os piores mal estares de sua vida, supõe a melhor defesa para não reviver a dolorosa situação original. No processo de cura, é essencial ajudar a pessoa a tomar consciência de como o perigo externo já não existe e que, na realidade, seu pior inimigo se encontra dentro dele mesmo, nessa parte assustadora que reproduz repetidamente toda uma série de ideias falsas e, em consequência, mecanismos de defensa para lhe proteger de um perigo que já não existe.

Rejeitar essas condutas defensivas

É importante indicar para a pessoa que dentro dela existem duas partes: sua essência e sua autenticidade, que tem um grande potencial iminente de oferecer ao mundo mas é silenciado e limitado pelo medo, e a parte criada a partir da dor vivida, que impede a expressão espontânea da pessoa, a censura e a limita segundo os pareceres de uma série de crenças falsas interiorizadas na raiz da vivência traumática original.

A rejeição do personagem criado mesmo que seja uma parte que não o pertence e só se corresponde com uma defesa criada a partir do medo, que, o único que faz, até hoje, é o prejudicar. O arrependimento por toda a dor criada a si mesmo e ao seu redor por haver mantido ativo esse mecanismo.

Implementar condutas alternativas

Fazer todo o contrário ao indicado pela voz que vem do ego conseguindo, deste modo, reduzir a sua força.

Praticar a autoaceitação

A abertura do coração real e sincera que o permitirá se abrir ao mundo, confiar nele e o entregar todo o seu belo potencial.

Praticar o autocuidado

Investigar os seus maiores interesses e motivações e realizar um plano de ação que o permita desenvolver algum pequeno projeto relacionado com tudo isso. Deste modo, fortalece suas virtudes e sua alma e se sente fortemente recompensada.

Ter uma boa alimentação e praticar algum exercício moderado de maneira regular.

Perdoar e pedir perdão

Praticar o perdão sincero com respeito as pessoas que provocaram essas feridas e, muito mais importante, se arrepender e pedir perdão a estas pessoas pela dor que seu rancor os provocou. O perdão, quando é sincero e de coração, tem um grande poder de cura mesmo que o processo não se realize de maneira direta com a pessoa envolvida.

Neste artigo explicamos como perdoar a si mesmo.

Pedir ajuda e ajudar

Pedir ajuda e, ao mesmo tempo, oferecer ajuda a quem precisa. Isso permite ver a beleza que habita dentro de todas as pessoas, incluindo ele mesmo, o que o dará a confiança necessária para se relacionar de maneira amigável e abandonar o medo e o julgamento definitivamente.

A pratica de todas estas técnicas e exercícios devem integrar-se de maneira natural como modo de vida para, além de curar a ferida emocional, fortalecer nosso espirito e evitar que qualquer outra situação desagradável nos provoque novas feridas e arrependimentos.

Para realizar corretamente os passos da cura emocional e conseguir curar a alma, é essencial contar com a orientação e acompanhamento de um ou uma professional especializado/a.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Bourbeau, L. (2011). Las cinco heridas que impiden ser uno mismo. OB STARE.
  • Bourbeau, L. (2017). La sanación de las 5 heridas. SIRIO.
  • Gutman, L. (2008). Crianza, violencias invisibles y adicciones. Editorial Integral.

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