Complexo de Electra: o que é e como resolver
A mitologia tem uma forte presença na psicologia, servindo muitas vezes de inspiração em diagnósticos de transtornos e comportamentos específicos. Um dos mais conhecidos é o complexo de Electra, termo usado pelo famoso psicanalista Carl Gustav Jung para descrever uma teoria psicossexual voltada às meninas e que, em algumas ocasiões, é explicado erroneamente como um "complexo de Édipo feminino" ou "complexo de Édipo invertido". Segundo Jung, as meninas durante seu crescimento desenvolvem uma preferência afetiva ao seu progenitor masculino, desenvolvendo assim sentimentos de maior rivalidade em relação à mãe.
Com essa teoria de Jung, as meninas passam por um momento vital no qual mostram uma autêntica preferência pelo pai. Esta se mostra em gestos simples, como em desejos de compartilhar mais tempo com o pai ou com uma figura paterna. Ela costuma a acontecer na faixa entre os 3 e 7 anos. Assim, nesse artigo de Psicologia-Online, te explicaremos no que consiste o complexo de Electra, como ele se caracteriza, não somente na infância, mas também na fase adulta, e como lidar com ele para que não se transforme em um complexo de Electra mal resolvido.
Quem foi Electra para mitologia
Para a mitologia grega, Electra foi a filha de Agamemnon, que foi assassinado pelo amante de sua esposa. Anos após esse trágico acontecimento, a jovem decide por em prática, com ajuda de seu irmão, Orestes, um plano vingativo para defender a honra de seu pai, pelo qual tinha uma imensa adoração. Para isso, acaba matando cruelmente sua mãe e o amante dela.
Essa história foi usada pela primeira vez na psicologia pelo psicanalista Carl Gustav Jung no começo do século XX, mais precisamente na década de 1910, para definir um comportamento de fixação de meninas entre 3 e 7 anos pelo pai e uma crescente rivalidade com a mãe.
Para muitos, essa síndrome também é chamada de "complexo de Édipo feminino" ou "complexo de Édipo invertido", fazendo menção ao comportamento psicológico criado pelo também psicanalista Sigmund Freud. No complexo de Édipo, no entanto, o filho cria uma rivalidade com o pai e uma adoração pela mãe.
Veja também: Teorias da personalidade segundo Freud.
Complexo de Electra: o que é
Como já explicamos, no complexo de Electra as meninas ainda na primeira infância mostram uma preferência pelo pai ou pela figura paterna. Geralmente, essa etapa termina por volta dos 6 ou 7 anos de idade, quando as meninas voltam a demonstrar uma maior afinidade com a mãe.
Desde a perspectiva do complexo de Electra, esse diagnóstico faz referência não só ao desenvolvimento de uma preferência ao pai, mas também a uma rivalidade entre a criança e a mãe para ganhar a atenção e o amor do pai. Assim, durante essa fase, meninas podem criar uma relação de oposição com sua mãe e vê-la como uma rival.
É importante ressaltar que mesmo que para nós pareça estranha essa afetividade extrema, para a psicanálise, ela se trata de uma parte completamente natural e até esperada do desenvolvimento psicológico e psicossexual de uma criança.
Além disso, como já dito, na maioria dos casos esses comportamentos vão diminuindo até pararem por completo até os 6 ou 7 anos de idade, quando a menina volta a sentir a necessidade de se identificar e se aproximar mais da figura materna. A partir dessa faixa etária, as meninas começam a ter curiosidade pelos comportamentos femininos exercidos pela mãe e tendem a querer imitá-los.
Quando isso não acontece e a predileção pelo pai continua até a fase adulta pode-se tratar de um complexo de Electra mal resolvido ou tardio.
Complexo de Electra mal resolvido
Em alguns casos, a hostilidade entre filha e mãe pode se prolongar até a etapa adulta, como o que ocorre em casos nos quais as filhas mostram uma relação de conflito constante com a sua mãe, refletindo sempre uma preferência pelo pai. Um exemplo de complexo de Electra mal-resolvido ou complexo de Electra tardio é quando a jovem vive os conflitos de casal dos pais como próprios e sempre se posiciona em defesa do pai, mesmo se este não tem a razão.
No complexo de Electra mal-resolvido também é comum que a adolescente, ou a jovem já em fase adulta, busque exacerbadamente a aprovação do pai em relação às decisões tomadas por ela. Assim, a figura paterna será uma referência constante na vida da filha.
Por causa disso, em casos de complexo de Electra mal-resolvido, as mulheres que não superaram esses comportamentos durante a infância e que ainda necessitam da adoração e aprovação do pai no cotidiano, buscam por um companheiro que esteja associado a essa imagem de perfeição paterna, muitas vezes um homem mais velho e que tenha características físicas e de personalidade parecidas com as de seu pai.
Nesse contexto, as mulheres com complexo de Electra tardio inconscientemente querem algo que se assimile a um relacionamento amoroso entre pai e filha e, por isso, também têm uma maior probabilidade de viver relações amorosas dependentes ou nas quais é mais submissa.
Complexo de Electra: como lidar
Como já foi dito, é normal que durante a primeira infância a filha sinta uma fixação pelo pai, querendo passar mais tempo com ele e até dizendo que quer se casar com ele, e, por isso, esses comportamentos não devem ser vistos como patológicos ou errados.
No entanto, para que o complexo de Electra tenha seu fim natural por volta dos 6 ou 7 anos, é importante que os pais mostrem à criança que a mãe não é uma rival ou inimiga, mas sim uma grande aliada que a ama muito. Assim, realizar atividades apenas mãe e filha pode ser uma boa solução.
Mesmo que não haja uma única maneira de lidar com o complexo de Electra, é importante que a mãe continue presente, mas que não castigue a menina pela preferência ao pai ou impeça que ela demonstre seu afeto a ele. Isso evitará com que no futuro se desenvolva um rancor à figura materna e um complexo de Electra mal-resolvido.
Também é essencial que no contexto familiar cada membro tenha um papel claramente definido, além de um espaço pessoal. Dessa maneira, as crianças, tanto meninos quanto meninas, podem descobrir com mais facilidade e menos pressão seu próprio lugar no sistema familiar.
Por fim, também vale lembrar que sempre que os pais tenham dúvidas sobre um suposto complexo de Electra, ou um complexo de Édipo quando se trata de um filho, é recomendado consultar um psicólogo infanto-juvenil para que um especialista possa diagnosticar melhor a situação e ajudar a melhorá-la ou resolvê-la com recursos pedagógicos dentro do contexto familiar.
Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.
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