Sistema nervoso entérico e sua fisiologia
Você sabia que o nosso cérebro está intimamente conectado com o intestino graças ao sistema nervoso entérico? Já ouviu dizer que o intestino é o segundo cérebro? O sistema nervoso entérico, junto dos sistemas nervosos simpático e parassimpático, constituem o sistema nervoso autônomo. A magnitude e complexidade do sistema nervoso entérico é imensa e contém tantas neurônios como a medula espinhal.
Os principais componentes do sistema nervoso entérico são duas redes ou plexos de neurônios, o plexo mientérico e o submucoso. Nesse artigo de Psicologia-Online, te explicamos o sistema nervoso entérico e sua fisiologia, assim como a sua relação com as emoções.
O que é o sistema nervoso entérico: o segundo cérebro
O sistema nervoso exerce uma profunda influência em todos os processos digestivos, como a motilidade, o transporte de íons associados à secreção e à absorção, e o fluxo sanguíneo gastrointestinal. Parte desse controle é produzido pelas conexões existentes entre o sistema digestivo e o sistema nervoso central, mas o sistema digestivo também está dotado do seu próprio sistema nervoso local, denominado sistema nervoso entérico.
A conexão intestino-cérebro, também chamada de relação intestino-cérebro, pode soar como algo muito estranho, mas na verdade, não é! A maioria das pessoas se refere a esse conceito sem sequer saber que o está fazendo. Por exemplo, quando está sob estresse, você come mais do que o normal ou apresenta sinais de indigestão? Agora você saberá porque!
Intestino: segundo cérebro
Por vezes, quando nos estressamos, sentimos dores gástricas, assim como dores intestinais. Isso se deve a que o nosso trato gastrointestinal contém muitos nervos (especificamente 200 - 600 milhões de neurônios) que vão desde o esôfago até ao ânus. Esse sistema se chama sistema nervoso entérico e é a razão pela qual o intestino também é chamado de segundo cérebro.
Este segundo cérebro é sensível às emoções que ameaçam a nossa vida, ou seja, a resposta de combate ou fuga e os sinais que captam serão enviadas à outra rede nervosa do nosso intestino, o sistema nervoso central, para executar a resposta, como a ativação dos centros de defecação (o que se traduz em ir mais vezes ao banheiro) ou a alteração da produção de suco gástrico através de sinais enviados ao estômago.
Além disso, para reagir às emoções, necessitamos este sistema nervoso entérico, já que garante um bom fluxo sanguíneo em direção ao intestino e uma digestão adequada dos alimentos.
Sistema nervoso entérico: fisiologia e componentes
Para entender o que é o sistema nervoso entérico é preciso conhecer sua composição. Ele está formado principalmente por dois plexos, os quais estão incrustados na parede do trato digestivo e se estendem desde o esôfago até ao ânus:
- O plexo mientérico está situado entre as capas do músculo da túnica muscular e, de forma adequada, exerce um controle sobre a motilidade do trato digestivo.
- O plexo submucoso que, como o seu nome indica, está enterrado na submucosa. A sua função principal é detectar o ambiente dentro do lumen, regular o fluxo sanguíneo gastrointestinal e controlar a função das células epiteliais. Em regiões onde estas funções são mínimas, como o esófago, o plexo submucoso é escasso e pode faltar em secções.
Além dos plexos nervosos entéricos maiores, existem plexos menores embaixo da serosa, dentro do músculo liso circular e na mucosa.
Dentro dos plexos entéricos existem três tipos de neurônios a maioria das quais são multipolares:
- Os neurônios sensoriais recebem informação dos receptores sensoriais na mucosa e no músculo. Foram identificados pelo menos cinco receptores sensoriais diferentes na mucosa, que respondem a estímulos mecânicos, térmicos, osmóticos e químicos. Foram encontrados quimiorreceptores sensíveis aos ácidos, à glucosa e aminoácidos que, em suma, permitem a "degustação" dos conteúdos lumínicos. Os receptores sensoriais no músculo respondem ao alongamento e à tensão. Coletivamente, os neurônios sensoriais entéricos apresentam um grupo completo de informações sobre o conteúdo intestinal e o estado da parede gastrointestinal.
- Os neurônios motores dentro do plexo entérico controlam a motilidade e secreção gastrointestinal, e possivelmente a absorção. No desempenho dessas funções, os neurônios motoras atuam diretamente sobre um grande número de células efetoras, incluindo o músculo liso, as células secretoras (principais, parietais, mucosas, enterocitárias, exócrinas pancreáticas)
- Os neurônios internos são, em grande medida, responsáveis por integrar a informação dos neurônios sensoriais e de proporcioná-la aos neurônios motores entéricos. ("programadores").
Agora que você já sabe o que é o sistema nervoso entérico e como ele é formado poderá entender a conexão entre intestino e emoções.
Relação entre intestino e emoções
Outro exemplo de estilo de vida para ilustrar esta relação intestino-cérebro, ou intestino e emoções, seria o papel da serotonina e como os níveis de serotonina no nosso corpo podem afetar o nosso estado de ânimo e sono. A serotonina é um neurotransmissor produzido pelo nosso cérebro e pelo trato gastrointestinal, sendo este último o maior produtor de serotonina. A relação entre neurotransmissores e emoções é muito estreita, pelo que, nesse caso, podemos observar uma relação direta entre as emoções e o sistema nervoso entérico.
Aproximadamente, 80-90% da serotonina do nosso corpo é produzida no nosso trato gastro-intestinal.
Serotonina e melatonina
Foram encontrados níveis baixos de serotonina em pessoas com depressão, e não é de estranhar que a serotonina tenha sido chamada de "hormônio da felicidade". Além disso, o nosso cérebro usa serotonina para produzir melatonina, um hormônio da fundamental para ajudar-nos a dormir. Logo, a quantidade de serotonina que o corpo produz teria um impacto direto na qualidade e quantidade do seu sono.
O microbioma intestinal e a nossa saúde emocional e mental
Poucas pessoas sabem disso, mas a população da bactéria intestinal tem um impacto na saúde emocional e mental, assim como na nossa capacidade para dormir durante a noite. Um estudo que contou com 40 mulheres saudáveis concluiu que as mulheres com um porcentagem mais alto da espécie de bactérias Prevotella nas suas fezes apresentaram uma maior propensão a experienciar emoções negativas depois de verem imagens negativas em comparação com as mulheres com uma porcentagem mais alta da espécie de bactérias Bacteroides nas suas fezes.
Da mesma forma, os indivíduos com autismo parecem ser mais susceptíveis a problemas gastrointestinais como a doença intestinal inflamatória e o intestino permeável, e isso pode se dever à alteração da composição microbiana do intestino. Contudo, quando este grupo de indivíduos recebe uma determinada cepa probiótica, notaram uma melhoria na integridade da barreira intestinal, assim como uma redução nas condutas relacionadas caracteristicamente com o autismo.
Por último, existe uma estreita relação entre as nossas bactérias intestinais e o sono. As bactérias no nosso intestino ajudam na produção de serotonina (que logo passa a formar melatonina), mas você sabia que a nossa população microbiana intestinal pode ser afetada pela falta de sono ou por um sono de má qualidade? Isso significa que existe um círculo vicioso de privação de sono, má qualidade do sono e má saúde intestinal. Se você quer conhecer mais informação sobre esses dados curiosos, pode consultar o projeto MetaHIT de Francisco Guarner.
Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.
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- Quevedo, M. T. EL EJE CEREBRO-INTESTINO Y SU RELACIÓN CON EL ESTRÉS.
- Qin, J., Li, R., Raes, J., Arumugam, M., Burgdorf, K. S., Manichanh, C., ... & Mende, D. R. (2010). A human gut microbial gene catalogue established by metagenomic sequencing. nature, 464(7285), 59.