Psicologia clínica

Causas da ansiedade

 
Equipe editorial
Por Equipe editorial. 31 janeiro 2024
Causas da ansiedade

A ansiedade é uma emoção normal e funcional que permite uma resposta rápida a favor da sobrevivência do indivíduo diante de situações perigosas ou desafiadoras. O problema surge quando a ansiedade não é gerenciada corretamente e aparece de forma exagerada e sem utilidade. Nestes casos, tende a sobrecarregar a pessoa que a apresenta, muitas vezes sem conhecer a origem, as razões e as causas da ansiedade.

Neste artigo de Psicologia-Online, você encontrará todas as informações necessárias para compreender as causas da ansiedade, bem como 5 soluções para aliviá-la.

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Índice

  1. O que é ansiedade e os sintomas que ela apresenta
  2. Por que fico ansioso(a) sem motivo aparente
  3. Por que ataques de ansiedade ocorrem?
  4. A origem da ansiedade
  5. Causas da ansiedade
  6. Como aliviar a ansiedade

O que é ansiedade e os sintomas que ela apresenta

A qualquer momento de nossas vidas, pode ocorrer um evento inesperado que interpretamos como perigoso, ameaçador ou prejudicial, desencadeando um ataque de ansiedade, manifestado pelos seguintes sintomas: taquicardia, palpitações, opressão no peito, falta de ar, sensação de tontura e instabilidade, tremores, sudorese, nó no estômago, náuseas, boca seca, entre outros.

Geralmente, essa reação psicossomática tem fundamento, sendo a resposta natural e adaptativa do nosso organismo diante de um perigo.

Por que fico ansioso(a) sem motivo aparente

Às vezes nos deparamos com um evento que ocorre dentro da normalidade da vida cotidiana e que, de forma repentina e sem razão aparente (isto é, não apresenta perigo ou ameaça), provoca um forte impacto emocional e um ataque exagerado de ansiedade que não pode ser atribuído a nenhuma causa específica (ao contrário das fobias, nas quais o ataque de ansiedade surge com a apresentação do estímulo que a ativa, ou no estresse pós-traumático, quando algum evento do ambiente faz a pessoa lembrar do evento traumático sofrido).

Por que ataques de ansiedade ocorrem?

Instantes depois, reagimos e nos perguntamos o motivo desse impacto, percebendo que, embora o evento possa ter alguma conotação perturbadora, não encontramos uma razão que justifique a intensa resposta fisiológica desencadeada. Chegamos à conclusão de que o "alarme emocional" não deveria ter sido ativado, pelo menos não tão intensamente. Diante disso, é normal questionar por que a ansiedade ocorre e quais são suas causas. Por que esse fenômeno acontece? Por que um evento aparentemente trivial gera uma reação fisiológica com a intensidade que ocorreria em um evento de maior carga emocional?

A origem da ansiedade

A ansiedade pode surgir espontaneamente em diferentes situações da vida cotidiana que aparentam ser banais e que não têm uma carga emocional significativa. No entanto, provocam uma reação emocional intensa na pessoa. Assim, a origem dessa ansiedade não pode ser associada ao estímulo externo, pois não representa perigo, ameaça ou prejuízo imediato à integridade física, devemos buscar a origem no interior do indivíduo. Isso significa aceitar que o próprio "eu" psicológico (o self ou o si) foi ameaçado ou encontra-se vulnerável. Pode-se dizer que, embora a faísca que inicia o "incêndio emocional" esteja no estímulo externo, o foco principal é interno.

Um exemplo típico desse fenômeno ocorre quando nossa intervenção em algum evento não foi muito correta, ou quando nos relacionamos com alguém, seja durante uma conversa ou em uma relação espontânea e acidental. Nesses momentos, a pessoa emite um comentário negativo, uma repreensão, uma chamada de atenção sobre o comportamento realizado, uma crítica negativa, etc., e percebemos um ataque de ansiedade provocado pela ativação de alguma emoção negativa.

Nesses casos, embora diversas emoções possam ser ativadas, as mais significativas são as chamadas emoções autoconscientes ou autoavaliativas: a vergonha, a culpa e o orgulho, geralmente associadas a outras como medo, raiva ou aversão. Embora o orgulho seja normalmente uma emoção positiva (satisfação por alcançar algo importante), às vezes pode se manifestar de forma negativa (soberba, altivez, arrogância, presunção, vaidade, narcisismo, etc.).

Essas emoções surgem quando há uma avaliação positiva ou negativa do indivíduo em relação a uma série de critérios sobre o que constitui uma ação adequada em diversos âmbitos. Elas têm em comum a intensidade que apresentam, que não condiz com as características negativas que poderiam ser atribuídas ao evento em si.

Causas da ansiedade

A seguir, apresentamos as 10 razões pelas quais a ansiedade existe, pelas quais é desencadeada em situações inesperadas e pelas quais, às vezes, se torna disfuncional, representando um problema para a pessoa que a experimenta. As causas da ansiedade são as seguintes:

1. A avaliação negativa da própria pessoa

A causa da reação ansiosa subjacente a esses casos está vinculada à autopercepção e à avaliação do "eu" psicológico do indivíduo que foi ameaçado ou prejudicado pelo evento ocorrido, como, por exemplo, em casos de perda de autoestima, sentimento de culpa, senso de responsabilidade, ataque às crenças e valores vitais como liberdade, confiança, justiça, respeito, etc.

2. As crenças irracionais

Tem a ver com a vulnerabilidade da pessoa a um estímulo específico do ambiente que afeta negativamente algumas crenças profundamente enraizadas: "eu tenho que fazer tudo certo", "a opinião dos outros é importante para mim", "é injusto o que está acontecendo comigo", "eu devo assumir minhas responsabilidades", "não podem me tratar assim", etc.

3. Um evento que dispara um pensamento negativo

A origem dessa vulnerabilidade específica que "desperta" de forma súbita e injustificada diante do evento ocorrido pode estar relacionada à associação do evento atual com um passado, ou seja, a causa do ataque de ansiedade não seria o evento atual em si, mas sua relação com alguma experiência negativa do passado com a qual ele se relaciona. Portanto, deve existir no evento ocorrido "algo" (uma espécie de sinal ou marcador) relacionado ao eu e armazenado na memória autobiográfica que desencadeou a alteração emocional sofrida.

4. Os julgamentos sobre nós mesmos

As experiências são armazenadas e contêm rótulos que as identificam e servem para lembrá-las (ativam a rede neuronal que as representa). Portanto, pode ser que este evento atual tenha apresentado algum desses rótulos, provocando a ativação do sistema emocional. Nesse sentido, é preciso considerar que as emoções autoavaliativas têm como antecedente algum tipo de julgamento da pessoa sobre suas próprias ações, ou seja, fazemos uma avaliação negativa sobre algum aspecto pessoal ou próprio, alguma ação que realizamos. E essa autoavaliação não precisa ser consciente ou explícita, não precisamos necessariamente perceber que está acontecendo.

5. As experiências precoces

A gênese dessa associação estaria em um primeiro evento (normalmente durante a infância, embora também possa ocorrer a qualquer momento de nossa vida) em que, apesar de não ter grande importância, ocorreram circunstâncias pessoais específicas (falta de apego e carinho, sensação de abandono ou rejeição, baixa autoestima, humor depressivo, etc.) que propiciaram um forte impacto no "eu" psicológico (por exemplo, sentir-se humilhado, envergonhado, difamado) e que provocou uma reação emocional muito intensa, acompanhada de pensamentos como: "o que fiz está errado", "foi culpa minha", "fiz o ridículo mais terrível", "feriram meu orgulho", "não estou no mesmo nível", etc. e ficaria gravado na memória emocional.

6. O condicionamento da resposta emocional

Essa superexcitação do sistema emocional gerou na pessoa uma hipersensibilidade do sistema emocional a esse evento, tornando-a muito vulnerável ao mesmo. Isso origina uma predisposição a reações emocionais de culpa, vergonha, medo, desconfiança, etc., diante de eventos em que esse "eu" poderia ser afetado. Assim, quando ocorre posteriormente um segundo evento que contém algum elemento ou fator (como uma etiqueta ou marcador) que também está representado no evento primário, o sistema emocional o identifica como se fosse este e provoca a mesma resposta que este gerou na época, sem que essa ativação provenha da interpretação atual do mesmo feita pelo sistema cognitivo.

Neste caso, pode-se falar de um processo de aprendizagem no qual a pessoa "aprende" essa resposta emocional associando ambos os eventos através da etiqueta ou marcador comum, reagindo automaticamente em outras situações semelhantes. Seria uma espécie de aprendizagem condicionada (o condicionamento pavloviano é uma forma básica de aprendizagem baseada na associação de respostas emocionais a situações novas).

Uma das características mais importantes desse tipo de aprendizagem é que implica respostas automáticas ou reflexas, não comportamentos voluntários (a ansiedade associada a um estímulo natural que gerou medo, como um acidente, é transferida para outro estímulo por condicionamento. Além disso, existe evidência a favor das experiências diretas de condicionamento, especialmente para a agorafobia e a claustrofobia, que frequentemente se originam de experiências traumáticas passadas). Segundo o exposto, pode-se dizer que a vergonha, a culpa ou o orgulho ferido experimentados agora estariam condicionados por um evento preexistente.

7. As vivências

Está comprovado que as experiências de vida que geram fenômenos mentais (percepções, pensamentos, emoções, sentimentos, intenções, etc.) deixam uma marca em nosso sistema de redes neurais, ou seja, há um correlato fisiológico da vivência. Além disso, experiências semelhantes se interconectam, de modo que essas marcas podem ser reativadas quando a experiência atual se assemelha à original, mesmo que a semelhança não seja completa (razão pela qual parte da preocupação atual é a lembrança de momentos anteriores).

8. As distorções cognitivas

Por outro lado, a vulnerabilidade da pessoa e a intensidade da resposta emocional a esses estímulos podem piorar se houver distorções cognitivas (personalização, catastrofismo, percepção seletiva, etc.) ou se a pessoa estiver em um estado de humor alterado (ansioso-depressivo). Isso ocorre porque alguns pensamentos negativos têm mais ou menos força dependendo do estado emocional e da perspectiva que temos no momento em que surgem.

9. A função de sobrevivência

Um traço que acompanha esse fenômeno é que, apesar de estarmos convencidos da pouca importância do evento, não podemos interromper voluntariamente a intensa ativação emocional que ocorreu. Continuamos nos sentindo mal, os sintomas físicos desagradáveis não desaparecem e a lembrança do evento se torna um pensamento perturbador que se intromete na realidade do momento presente, interferindo em nossa atenção ao que fazemos, vemos ou ouvimos (afeta o conteúdo da memória operacional ou de trabalho e não nos deixa concentrar no que estamos fazendo: estudando, trabalhando, conversando, observando uma paisagem, um filme, etc.) porque ocorre em nosso estado de consciência uma sobreposição entre a representação da realidade externa que percebemos a cada momento com nossos sentidos e a do pensamento perturbador sobre o ocorrido (realidade interna que luta para dominar a externa), provocando assim o estado mental de confusão e nebulosidade mental que tanto nos incomoda.

É importante considerar que o sistema emocional é projetado para processar informações, avaliá-las e formular uma resposta rapidamente dada a situação ameaçadora, dando preferência ao enfrentamento da situação em relação a outras tarefas menos urgentes. Por isso, ele interfere nos pensamentos e ações normais como um pensamento recorrente e dominante para evitar que nos distraiamos e nos concentremos no que nos ameaça.

10. A memória emocional da amígdala

Do ponto de vista fisiológico, a dificuldade em desativar consciente e voluntariamente a ativação emocional e a ansiedade está relacionada a uma das estruturas cerebrais envolvidas no fenômeno: o complexo amigdaloide. O neurofisiologista Joseph Ledoux destaca que a amígdala não precisa de um estímulo consciente para se ativar e enfatiza a importância da via de comunicação direta do tálamo com a amígdala nas reações emocionais. Essa via permite que as respostas emocionais se iniciem na amígdala antes que sejamos conscientes do estímulo que nos faz reagir ou identifiquemos as sensações experimentadas. Isso pode ser interpretado como uma evidência de que existe um processamento emocional pré-cognitivo.

A memória emocional primordial é armazenada na amígdala e possui um valor adaptativo significativo. A função deste complexo amigdalino em relação a esse fenômeno é:

  • Na amígdala, ocorre o processo de avaliação sobre a importância emocional de um estímulo específico com base nas experiências anteriores com este. Assim, rotula-se a experiência como muito prejudicial e há um fortalecimento das conexões neurais que formam a impressão psíquica que a representa;
  • A amígdala está relacionada ao aprendizado e à manutenção do significado emocional dos sinais sensoriais. Pode lembrar os estímulos associados a uma experiência perturbadora, de modo que, em futuras exposições aos estímulos, a resposta seja ativada de maneira mais eficiente;
  • A amígdala também afeta a estruturação de memórias por associar estas com estados emocionais, facilitando uma maior conexão e fixação dos elementos a serem lembrados, permitindo assim sua consolidação.

Confira nosso artigo sobre como relaxar a amígdala cerebral.

Como aliviar a ansiedade

Para enfrentar essa situação perturbadora e acalmar a ansiedade, são necessárias as seguintes estratégias. Vamos conhecer algumas delas a seguir:

1. Técnicas de relaxamento

A abordagem deve começar reduzindo a ansiedade por meio de técnicas de relaxamento. É importante compreender e aceitar que não se pode evitar o primeiro impacto emocional, pois se origina na parte simpática do sistema nervoso autônomo, sobre a qual não podemos agir voluntariamente (a maior parte da atividade emocional do cérebro ocorre de maneira involuntária).

2. Treino da atenção

Em condições normais, se evitarmos pensar no que aconteceu, a perturbação emocional diminuirá com o tempo (a menos que pensemos constantemente nele e se torne um pensamento recorrente que manterá o sistema emocional ativado). Para isso, recomenda-se direcionar nossa atenção para outras coisas, evitando o pensamento perturbador (seguindo o método do psicólogo W. Mischel de "atribuição estratégica de atenção" como técnica de autocontrole). Quanto menos tempo o pensamento permanecer na memória, menos interferirá em nossa rotina diária, e os efeitos psicossomáticos desagradáveis se dissiparão gradualmente. A atenção pode ser treinada com técnicas de meditação, como o mindfulness.

3. Técnicas de autocontrole

Uma questão a ter em mente é que em pessoas com temperamento facilmente excitável é que a emoção ativada pelo evento está geralmente acompanhada de raiva, hostilidade ou indignação, gerando uma resposta automática de "contra-ataque" em direção à pessoa que "aparentemente" atacou seu "eu" psicológico. Isso pode levar a situações conflituosas que pioram a situação. Nessas circunstâncias, a pessoa deve aprender a reprimir o impulso de reação violenta em direção ao outro por meio de técnicas de autocontrole.

4. Introspecção

Afastar o pensamento pode ser uma solução rápida e eficaz para o momento, mas a hipersensibilidade adquirida do sistema emocional irá persistir em situações futuras. Portanto, é interessante identificar a emoção que estamos sentindo e descobrir qual é o fator do "eu" psicológico que foi atingido naquela situação (autoestima, sentimento de culpa ou responsabilidade, crenças pessoais, etc.). Em seguida, é necessário investigar qual evento em nossas vidas teve um impacto emocional significativo naquele momento e estabeleceu as conexões neurais que agora estão sendo ativadas em eventos semelhantes.

5. Psicoterapia: autoconhecimento e autoestima

Ao compreender o motivo da ativação do sistema emocional e identificar a emoção que estamos sentindo, começamos a enfrentar o problema. Manter distância entre o "eu" e a lembrança perturbadora é crucial. É interessante distinguir, como sugerido por William James, entre o "eu" como observador e o "mim" como objeto da experiência, ou seja, entre o "eu" que está sofrendo o ataque de ansiedade e o "eu" consciente que observa esse estado ansioso sem se deixar dominar por ele. Por fim, a terapia cognitivo-comportamental pode ser benéfica para diminuir essa hipersensibilidade e a vulnerabilidade a esse tipo de situação.

Este artigo é meramente informativo, em Psicologia-Online não temos a capacidade de fazer um diagnóstico ou indicar um tratamento. Recomendamos que você consulte um psicólogo para que ele te aconselhe sobre o seu caso em particular.

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Bibliografia
  • Kandel, E.R. (2001). Principios de neurociencia. McGraw-Hill Interamericana. Madrid.
  • LeDoux, J. (1999). El cerebro emocional. Ed. Ariel-Planeta. Barcelona
  • Lewis, M. (2000). Self-conscious emotions: Embarrassment, pride, shame, and guilt. Nueva York: The Guilford Press.
  • Pavlov, I. (1997). Los Reflejos Condicionados. Ediciones Morata. Madrid.
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